De 100 categorias que negociaram até maio, 78 conseguiram reajuste acima da inflação
MARCOS BURGHI, marcos.burghi@grupoestado.com.br
Apesar da crise econômica internacional, permaneceu estável o número de categorias profissionais que conseguiram reajuste salarial acima da inflação nas negociações realizadas nos primeiros cinco meses deste ano.
A informação é do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que divulgou documento com a síntese de 100 acordos realizados entre janeiro e maio deste ano e os comparou aos resultados obtidos nessas mesmas negociações nos primeiros cinco meses de 2008.
Entre a centena de categorias analisadas, 78 acordos foram firmados com reajustes superiores ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), parâmetro para as discussões este ano; em 2008, foram 77.
No comércio, entre as 15 categorias monitoradas, o número de reajustes além do INPC caiu de 11 (73,3%) em 2008, para 10, o equivalente a 66,7%, em 2009 (veja quadro).
Na indústria foram acompanhadas 36 negociações. Também houve pequena queda no número de reajustes acima da inflação. Do total, 30, ou cerca de 83%, terminaram com a concessão de aumentos acima da inflação. Em 2008, foram 31, ou 86%.
A exceção ficou por conta do setor de serviços, em que houve o acompanhamento de 49 negociações. Entre estes acordos, o volume de reajustes acima do INPC saltou de 35, ou 71,4%, em 2008, para 38, ou 77,6%, este ano.
Para José Silvestre de Oliveira, coordenador de Relações Sindicais do Dieese, a melhora ou a estabilidade na avaliação geral das negociações pode ser atribuída à queda da inflação. “Além disso, a crise não atingiu todos os setores da mesma maneira”, afirma.
Segundo semestre
Silvestre acredita que para as categorias com data-base no segundo semestre, caso de petroleiros, metalúrgicos e bancários, os resultados vão depender do desempenho da economia. “É preciso aguardar para ver se a crise vai dar sinais de arrefecimento”, avalia.
Entre as categorias com reajustes no primeiro semestre cujas negociações foram acompanhadas pelo Dieese estão construção civil, indústria farmacêutica e calçados.
Rosa Marques, professora de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), lembra que as grandes categorias terão negociações salariais no segundo semestre. Ela lembra que, por isso, os metalúrgicos de São Paulo e do ABC, que foram afetados em cheio pela crise, por exemplo, não estão no estão no levantamento do Dieese.
De acordo com a professora, outra razão para ganhos acima do INPC é que, mesmo com os abalos econômicos, a inflação está em queda, o que possibilita ganhos reais e expressivos. “Além disso, a rotatividade de mão de obra em alguns setores não impede a concessão de aumento seguido de demissões que se transformam em novas contratações, mas com salários mais baixos.”
João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força Sindical, observa que há outras categorias importantes, como a dos trabalhadores da indústria têxtil e de frigoríficos, que também sofreram com o corte de postos de trabalho, cujos reajustes só serão negociados no segundo semestre.
Gonçalves afirma que boa parte das categorias profissionais que tiveram reajuste entre janeiro e maio tem produção mais voltada para o mercado interno, caso de construção civil e trabalhadores da indústria química. “Como o mercado interno permaneceu aquecido, a crise não foi tão forte como se esperava nestes setores”, afirma.
Alcides Leite, professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, afirma que os efeitos da crise não foram uniformes, o que explicaria os ganhos.