Menos trabalhadores conseguiram reajuste acima da inflação no ano passado.
Essa tendência deve continuar em 2009 por causa da crise econômica
LUCIELE VELLUTO, luciele.velluto@grupoestado.com.br
O número de acordos e convenções coletivas que conseguiram fechar com índice de reajuste salarial acima da inflação caiu em 2008, enquanto as negociações que obtiveram correção salarial abaixo da inflação subiram, segundo dados divulgados ontem pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
A piora nos resultados das negociações tem como fator principal a inflação alta ao longo do ano, com uma média de 6,46% em 2008, conforme o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “A crise não afetou as negociações. O que explica esse desempenho é a pressão inflacionária”, afirmou o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira.
No entanto, para este ano a previsão é de que as negociações serão fortemente influenciadas pela crise econômica mundial . “O ano de 2009 é de incertezas, um cenário adverso, o que pode prejudicar as negociações”, disse Oliveira.
Para os dirigentes sindicais, esta perspectiva reforça a necessidade de que os trabalhadores reivindiquem mudanças na economia. “Não podemos ficar só na negociação coletiva. Temos que pressionar a política econômica do governo porque isso nos afeta diretamente”, afirmou João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical.
Resultados
Em 2007, dos 715 acordos monitorados pelo Dieese, 627 conquistaram reajustes acima do INPC, representando 87,7% do total. Já no ano passado, caiu para 548 o número de acordos que obtiveram aumento com ganho real, o que corresponde a 77,6% do total de 705 analisados.
Os acordos cujos reajustes ficaram empatados com o INPC passaram de 59 negociações em 2007 (8,3% do total) para 74 em 2008, correspondendo a 10,5% dos dados analisados.
O que mais cresceu no ano passado foram as negociações que não conseguiram incorporar a inflação aos salários. Ou seja, houve perda de poder aquisitivo. Em 2007 foram 29 acordos e convenções nessa situação, com 4% de participação no total, em 2008, foram fechados 84 acordos com correção abaixo da inflação, representando 11,9% do total.
“Dentro da série histórica, o resultado está muito próximo do registrado em 2005. Já tivemos anos piores, como 2003”, comenta o coordenador do Dieese. (veja os gráficos)
Na divisão por setores econômicos, os trabalhadores da indústria foram os que tiveram o melhor resultado, com 87% dos acordos com aumento acima da inflação. No comércio, 85,1% das negociações obtiveram ganho real. No setor de serviços, esse porcentual cai para 61,2%.
Para o dirigente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nivaldo Santana, o resultado do levantamento da negociações também mostra que o trabalhador não se beneficia do crescimento da economia nacional. “Mesmo nos períodos bons, perdemos a corrida do Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto ele cresceu 5,1%, o trabalhador obteve aumento concentrado entre 0,01% e 2% – 63,4% do total dos acordos. Quando a economia está bem, o trabalhador é o último a ser beneficiado, mas quando há crise, ele é o primeiro a sofrer”, afirmou.
Para os dirigentes, a crise começou a afetar o emprego já em 2008 e deve continuar promovendo o desemprego neste ano, com inevitáveis reflexos nas negociações. Para pressionar o governo e o setor empresarial, no dia 30 deste mês serão feitas mobilizações das centrais em todo o País.