Consumo: Demanda interna está aquecida e não há investimentos em novas plantas de produção
Rosangela Capozoli | Para o Valor, de São Paulo
As contas feitas pela Associação Brasileira de Alumínio (Abal) demonstravam que em 2014 o Brasil estaria por um fio de passar de exportador para importador de alumínio. O 6º maior produtor mundial já não tem mais tanta certeza em relação a datas em um mercado cuja produção está praticamente estagnada e a demanda interna não para de crescer puxada, principalmente, pela área de construção civil.
O volume fabricado de alumínio primário fechou 2010 em 1,536 milhão de toneladas, praticamente repetindo a produção do ano anterior, de 1,534 milhão de toneladas. “Se o consumo interno continuar em alta como aconteceu nos últimos dois anos, em breve vamos absorver 100% da nossa produção. A Abal projetava esse cenário para 2014, mas agora antecipamos para fim de 2011 e início de 2012. Isso será um problema sério para o setor”, afirma Hênio De Nicola, coordenador da comissão de reciclagem da Abal.
Se essa premissa se concretizar, o setor corre o risco da “desindustrialização”. “Isso pode ser a raiz, e em certa intensidade já está ocorrendo, para uma desindustrialização na área de alumínio primário”, afirma De Nicola que vê no preço da energia elétrica o grande vilão. Um estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que, de 2009 e outubro de 2010, as exportações chinesas para o Brasil de produtos industrializados de alumínio deram um salto de 140% frente a igual período anterior.
“A última fábrica de alumínio primário no Brasil data de 1985 e não há nenhuma perspectiva de novas unidades ou expansão. O preço da energia elétrica brasileira impede as empresas de serem competitivas”, afirma. Segundo De Nicola, o custo médio do megawatt-hora (MWh) na região Norte, principal polo de produção do insumo, está ao redor de US$ 70, sendo o terceiro maior custo global, atrás apenas da China e Alemanha. De acordo com da Agência Nacional da Energia Elétrica (Aneel), as tarifas industriais de energia aumentaram 189% entre 2001 e 2009 enquanto a inflação medida (IGP-M), foi de 87% no período. Segundo a FGV, em seis anos, o custo médio de energia cresceu 129%.
“Quando se olha para uma boa parte da aplicação do alumínio é preciso pensar duas vezes antes de importar o alumínio primário e avaliar se não vale mais a pena trazer de fora a peça pronta cujos preços são mais vantajosos”, diz De Nicola. Ele lembra que a China “está perturbando muito o mercado de peças de alumínio devido aos preços mais em conta praticados por aquele país. Os altos custos têm sido uma forte barreira para impedir investimentos na área. Hoje, é mais vantajoso para o investidor ampliar a produção em um país onde a energia elétrica seja menos onerosa e exportar o produto para o mercado brasileiro do que se expandir aqui dentro.”
Indiferente a essas questões a demanda pelo metal é cada vez mais forte nas cadeias produtivas de segmentos que o consumidor comum sequer consegue perceber, como é o caso da produção de fios e cabos de alumínio. Fornecedores das redes de transmissão de energia aguardam com expectativa o início das compras de materiais para as usinas do Complexo do Rio Madeira.
“Já a partir de 2011, nossa produção deverá saltar das atuais 80 mil toneladas por ano para 100 mil toneladas, se mantendo nessa média até 2014”, diz o presidente do Sindicato da Indústria de Condutores Elétricos, Trefilação e Laminação de Metais Não-Ferrosos do Estado de São Paulo (Sindicel), Sérgio Aredes Piedade Gonçalves. As indústrias desse segmento investiram US$ 250 milhões desde 2007 para atender a demanda doméstica. “O crescimento do consumo de alumínio está bastante atrelado a expansão às áreas de distribuição e transmissão de energia. Como existem vários projetos em andamento como os projetos da região do Rio Madeira, em Rondônia, responsável pela transmissão da energia para as regiões Sul, Sudeste e Centro, haverá forte demanda”, afirma.
Outra área de crescimento é a da construção civil. “O setor de construção civil foi o que mais demandou alumínio em 2010 com alta de 35% sobre o ano anterior”, afirma Luiz Carlos Loureiro Filho, diretor comercial da Construção Civil da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), empresa da Votorantim Metais. Animado com o desempenho dos negócios Loureiro Filho acredita que a participação do alumínio na construção civil ainda tem muito a crescer.
“A construção civil na China absorve mais de 40% de alumínio e no Brasil o índice ainda é bastante baixo ficando na faixa dos 14%. Com o aquecimento do setor essa participação poderá saltar para 20% ainda neste ano”, exemplifica. Maior volume de crédito disponível no mercado, programa Minha Casa Minha Vida, Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos são os principais fatores apontados por Loureiro Filho como responsáveis pelo alta nessa área “O projeto Minha Casa Minha Vida está proporcionando um consumo bastante acentuado na área de esquadrias de alumínio além de um mercado em ascensão puxado pela área de infraestrutura em função da Copa 2014 e dos Jogos Olímpicos.”
Para 2011, o diretor da CBA estima um crescimento do mercado brasileiro na casa dos 7% caso o Produto Interno Bruto (PIB) atinja uma alta de 5%. “Se a projeção se concretizar a área de construção civil terá um aumento em torno de 10%”, calcula. O carro- chefe desse mercado são as esquadrias que correspondem a 60% da produção destinada ao setor de construção civil. Outros 20% vêm de cobertura de alumínio na construção de silos e depósitos de armazenamento para grãos e o restante fica por conta das chapas de revestimento. “O mercado global de alumínio faturou R$ 10 bilhões em 2010 dos quais R$ 2 bilhões vieram da construção civil”, diz.
Para atender a demanda a CBA, investiu R$ 240 milhões para aumentar a capacidade instalada de 42 mil toneladas para 72 mil toneladas até o final de 2011 além de instalar uma linha de pintura destinada as esquadrias, proporcionando uma gama grande de variedade de cores aos produtos. “São produtos inéditos no mercado. Até agora só se trabalhava com esquadrias foscas”, conta.