Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Artigo

A vingança sulista

Fazer uma avaliação histórica é super importante neste momento. É claro que o tempo é muito curto, pois os “erros” cometidos pelo centro-esquerda, enquanto esteve no poder, foram decisivos para a vingança da elite sulista, que reúne empresários, latifundiários, milicos e uma classe média odiosa. Historicamente, foram estes os derrotados pelas tropas federais nos anos 1930, porque não admitiam uma legislação trabalhista e muito menos a regulamentação sindical. Mas foram pacientes, deram corda para a “esquerda” se enforcar e agora estão puxando esta corda mais ainda.

O golpe de 1964 foi a primeira tentativa, com as instituições do estado todas dominadas: deixaram a classe trabalhadora no seu “devido lugar”, enjaulada, e sempre pronta para servir ao “senhor”. Àquele que ousasse se libertar sempre havia um atirador de prontidão. As leis trabalhistas serviram como a ração, o que não podia era querer “filé “, pois as leis trabalhistas eram como o suficiente, para que o sentido da relação capital e trabalho desse a impressão de um acordo entre iguais, em que a quebra desse acordo por parte dos trabalhadores valeria como execução sumária. Greves, participação política, reivindicação de melhores condições de trabalho, melhores salários, luta por moradia e luta por reforma agrária etc. eram considerados atos subversivos, quebra de acordo.

Portanto, o estado militar fazia o julgamento sumário imediato (não tinha necessidade de um STF). As coisas eram resolvidas na prática, ou seja, na bala, na prisão, na tortura e no estupro etc. Nesse contexto de era de chumbo, a América Latina começa a ser democratizada. Muitos generais e empresários começam a ser presos e julgados pelos crimes cometidos, com a pressão internacional e interna dos progressistas pela redemocratização. É aí que um outro golpe acontece.

No Brasil, a “redemocratização” só foi possível com mais um acordo entre os “iguais”: a anistia ampla e irrestrita, para todos. Ninguém seria julgado ou condenado pelos crimes cometidos (salve Ustra, Fleury, empresários, ruralistas e uma legião de muitos). A redemocratização traz, por outro lado, algo muito importante. Os partidos começam a se organizar, os movimentos populares passam a ter liberdade de reivindicar, a democracia começa a andar. Diversos políticos, que combaterem o regime autoritário, se tornam protagonistas da política nacional. Mas o grande erro foi justamente terem legitimado este pacto com os traidores da pátria (milicos, empresários, latifundiários etc.).

Essa aliança com a elite sulista não garantiu o fim da ideia de que os principais a serem combatidos são os comunistas. Mesmo assim andaram de mãos dadas durante todo esse tempo, até os dias atuais. E o país segue com a ideia de que somente um regime é possível, que a propriedade privada é o bem maior concebido por Deus e que, portanto, todos têm o dever de defender essa ideia, ou seja, manter o acordo entre os iguais. A tentativa de vingança dos sulistas sempre esteve em suas veias.

É justamente no momento em que o poder passa para o controle daqueles que eles jamais admitiram como iguais: não vacilaram mais uma vez e mais um golpe vem a tona. Os “beijos” que eram dados no rosto demonstram o ato de Judas. Demonstram que nunca houve acordo de fato. O que existia era somente um tempo para se preparar para um golpe fatal: e agora com requintes tão cruéis quanto no passado, com dominação das mentes e corações, através de um ódio carregado de sentimento de vingança. Aceitar aquele acordo foi o primeira demonstração de uma “esquerda esquizofrênica” e também interesseira.

Pois é verdade que deveria ter ideologia de esquerda nas escolas, é verdade que deveria ter radicalizado na luta pela reforma agrária, é verdade que deveriam os sindicatos terem lutado por um governo de trabalhadores, é verdade que não deveria jamais ter acordo com os criminosos. E é naquilo que deveríamos ter feito que eles se utilizam como verdades para nos condenar. Os *sulistas*, mais uma vez dominando todas as estruturas do Estado, com apoio do maior inimigo dos brasileiros que são os EUA, manipulam as mentes de uma grande parcela da população para impor mais derrotas à classe trabalhadora, ao povo brasileiro, ao projeto progressista de desenvolvimento e à democracia.

Democracia que no Brasil nunca foi expressivamente participativa e que com esta nova série de golpes será cada vez mais difícil de ser conquistada. Neste contexto, gostaria também de destacar a importância da instituição STF na defesa de nossa democracia (em desenvolvimento) e de nossas liberdades, ambas atacadas constantemente. Defender o fim do STF, como temos visto por aí, sem reflexão ou contextualização histórica, é agir cegamente e colaborar com a entrega de nossa liberdade e nos condenar novamente ao regime de escravidão!

Edenilson Rossato, Alemão,
Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes