Escrito por SAMANTHA LIMA
No período de 12 meses completados em junho, a geração de riqueza no chamado segmento subterrâneo cresceu 21,5%
Exportações em queda e uma maior percepção de corrupção contribuíram para esse desempenho do setor, aponta estudo
A queda nas exportações e a maior percepção de corrupção contribuíram para a disparada do desempenho da chamada economia subterrânea, no período de um ano até junho, mostra pesquisa da FGV.
Nessa fase, que englobou o pior da crise, a geração de riqueza -o chamado PIB- no segmento cresceu 21,5%. Sua fatia na economia brasileira engordou 22,6%.
Entende-se como economia subterrânea o segmento formado por empresas e profissionais que não informam ao governo suas receitas e rendas.
Para a FGV (Fundação Getulio Vargas), que calcula o indicador, esses fatores influenciaram mais esse segmento informal do que a desaceleração na economia geral, decorrente da crise, entre o fim do ano passado e o início deste ano. A FGV não calcula o tamanho da economia subterrânea no PIB, mas estima algo entre 10% e 20%.
Nos primeiros meses pós-crise, o mercado informal ainda se beneficiava do aumento da renda do brasileiro, anterior à crise -a massa salarial no país subiu 2,8% nesse período, segundo o IBGE.
“A crise não teve um impacto direto na economia subterrânea inicialmente, já que o efeito imediato foi a menor oferta de crédito. Esse mercado não depende de crédito. Além disso, a massa salarial alta manteve aquecida a demanda por bens e serviços desse mercado”, diz o economista Fernando Holanda Barbosa Filho, da FGV.
“A atividade de exportar exige das empresas uma maior legalização, o que funciona como inibidor da informalidade”, diz o economista. A crise reduziu a venda de mercadorias brasileiras ao mundo em 22% entre janeiro e junho.
“Já a percepção de corrupção dá a empresas e trabalhadores liberais a sensação de impunidade, sendo um incentivo para o não cumprimento de regras”, diz o economista.
O desempenho da economia subterrânea entre julho de 2008 e junho de 2009 é o maior desde 2003 para esse período de comparação: cresceu 35%. Sua fatia no PIB avançou 17%.
Agora, porém, o efeito da crise já fica mais evidente. No segundo trimestre, o segmento cresceu apenas 1,1% -sua fatia no PIB encolheu 0,8%. Para os próximos meses, a expectativa da FGV é de crescimento maior da informalidade. “A economia formal está se aquecendo e vai puxar a subterrânea junto”, diz Barbosa Filho.
Ruy Quintans, professor do Ibmec-Rio, porém, atribui o aumento atual da economia subterrânea ao desemprego. Mas Quintans concorda que a tendência seja de alta. “Se o país crescer mas não resolver problemas como custo da contratação, alta taxa de juros, educação deficiente, a economia subterrânea vai explodir.”