Fornecedores da cadeia automotiva sofrem o impacto da desvalorização do dólar
Raquel Landim
O impacto da desvalorização do dólar já chegou aos fornecedores da cadeia automotiva – um setor sensível para a economia por causa do grande número de empregos qualificados que gera. As montadoras estão revisando seus fornecedores, embora a troca por produtos importados seja complicada, porque muitas peças são feitas sob encomenda e os relacionamentos são de longo prazo.
“Esse câmbio contribui para a desindustrialização do Brasil”, disse o diretor-geral da Marcopolo, José Rubens de la Rosa. Maior exportadora de ônibus do País, a empresa tomou duas decisões: praticamente interrompeu o envio de peças para suas filiais no exterior e está buscando alternativas logísticas para aumentar a participação de peças importadas em suas fábricas no Brasil.
Segundo o executivo, a Marcopolo desistiu de exportar peças do Brasil para suas fábricas no México, Argentina e Colômbia e decidiu comprar de fornecedores locais. Hoje 70% das peças utilizadas nessas fábricas são adquiridas nos próprios países e os planos são superar 90% em meados de 2010.
O processo de substituir peças locais por importadas nas fábricas brasileiras é complicado, porque o mercado exige produtos específicos, com itens desenvolvidos localmente. Hoje entre 5% e 10% das peças utilizadas no Brasil pela Marcopolo são importadas, mas a tendência é aumentar. “Na medida em que a logística se organizar – e isso vai acontecer porque é competitivo -, a indústria brasileira vai progressivamente importar mais”, disse De la Rosa.
A fabricante de tratores Agrale está promovendo uma revisão de toda a sua cadeia de fornecedores. De acordo com o diretor de suprimentos, Edson Martins, o objetivo é reduzir o número de parceiros em 25% até o fim de 2010. Os fornecedores estrangeiros respondem por apenas 10% das compras da empresa, mas a tendência é ganharem participação.
“Na indústria automobilística, é quase um casamento. Não dá para trocar de fornecedor por conta da sazonalidade do câmbio, que é abrupta no Brasil. Esse processo é longo, mas está ocorrendo”, disse Martins. Ele explica que a empresa começou a desenvolver novos fornecedores na Ásia, que melhoraram a qualidade dos produtos.
Os fabricantes de autopeças também estudam mudanças no seu fornecimento de matérias-primas. Na Robert Bosch, o volume de importações de insumos deve representar 30% das compras em 2009, o que significa um aumento de 4% em relação ao ano anterior.
A empresa informou, por meio de sua Assessoria de Imprensa, que mantém o compromisso de nacionalizar o máximo possível seus produtos, mas a valorização do real torna esse desafio maior.
Na Baterias Moura, fabricante de baterias para automóveis, o volume de importações cresceu nos últimos meses e em setembro recuperou os níveis de 2008, conta o gerente de marketing da empresa, Marcos Ferreira. Mas, no acumulado do ano, a queda é de 40% em relação a 2008.
Em plena fase de investimentos, a empresa foi atingida pela crise com estoques altos de chumbo, sua principal matéria-prima. Ferreira reconhece que o câmbio favorece as importações, mas disse que a empresa tenta manter o compromisso de abastecer 50% de suas compras com o chumbo reciclado de baterias antigas.
ELETRÔNICOS
Nos produtos eletroeletrônicos, a substituição de insumos nacionais por importados não é um fenômeno novo, conta o diretor comercial da Black & Decker, Domingos Dragone. A fabricante de ferros elétricos vem aumentando a fatia de insumos importados desde 2008 e já representa 30% das compras totais. A tendência é o processo continuar. “Com a crise, a concorrência piorou, porque os chineses voltaram a atrelar seu câmbio firmemente ao dólar”, disse Dragone.
De acordo com Luiz Cezar Rochel, gerente do departamento de economia da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a participação da produção local na indústria de componentes eletrônicos não chega a representar 20% do mercado. Nesse setor, explica, a tendência é importar produtos acabados. “Com o nível de câmbio atual, o que restou da indústria eletrônica vai ter problemas de competitividade.”