Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Economia reage. E as greves voltam


Categorias como a dos metalúrgicos e a dos bancários se mobilizam por reajustes salariais acima da inflação

Marcelo Rehder

Edição de 13 de setembro – domingo – Caderno de Economia

A recuperação da economia se transformou na principal aliada das categorias profissionais com data-base no segundo semestre. Animados com o aumento das vendas no mercado interno – principalmente em setores beneficiados pela redução de impostos, como automóveis e eletrodomésticos -, os sindicatos de trabalhadores reivindicam aumentos reais de salários de até 8,53%, mais reposição integral das perdas com a inflação.

É no segundo semestre que se concentram as campanhas salariais de trabalhadores das categorias mais organizadas do País, como metalúrgicos, bancários, eletricitários, químicos e petroleiros. O ritmo mais forte da economia, num cenário de inflação baixa, juros em queda e recuperação do emprego, também encorajou os sindicalistas a endurecer na mesa de negociações, e a greve voltou a ser um instrumento de pressão.

Nessa queda de braços, os metalúrgicos de montadoras e autopeças saíram na frente. As fábricas de Volkswagen-Audi e da Renault-Nissan, no Paraná, iniciaram paralisações há mais de uma semana. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, as montadoras deixaram de produzir mais de 10,2 mil veículos.

No ABC paulista e em São José dos Campos, os metalúrgicos fizeram protestos e paralisaram montadoras e fábricas de autopeças na semana passada. Ontem, os empregados das montadoras do ABC conseguiram uma vitória: com vendas recordes sendo registradas este ano, as montadoras acabaram cedendo à pressão e concederam um reajuste de 6,53%, o maior do ano no País. Trabalhadores da área de fundição e de autopeças, porém, ainda não chegaram a um acordo (ver ao lado).

“Se o desemprego deixa de ser uma ameaça dramática, o trabalhador volta a ter uma disponibilidade maior de luta na busca de ganhos salariais e de melhoria de benefícios”, diz o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio. “As negociações salariais do primeiro semestre já apresentaram bons resultados.” Levantamento do Dieese mostra que 93% das negociações resultaram em reajustes iguais ou acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), ante 87% no primeiro semestre de 2008.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Mogi das Cruzes e Região, Miguel Torres, diz que os trabalhadores contribuíram com parte dos salários para que as empresas pudessem atravessar o período de dificuldades. “Não vamos abrir mão do aumento real do salário”, avisa. “Os empresários querem colocar a crise como argumento para não aumentar salário, mas vamos usar todos os instrumentos de pressão para convencê-los.”

Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, não é bem assim. “Estamos num processo de recuperação que está se esboçando, mas que não pode ser definido como superação da crise.” Ele argumenta que até a indústria automobilística ainda não conseguiu recuperar as exportações, que caíram 50% desde o início da crise.

PARTE DO JOGO

O fortalecimento das greves parece não preocupar o governo. Para o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, a greve faz parte do jogo de negociação. “É natural que ocorra esse tipo de movimento quando há um crescimento importante da produção e quando se está próximo das negociações anuais. O próprio presidente Lula dizia no fim do ano passado que não se faz greve em época de crise.”

No setor financeiro, a briga promete ser boa. “A campanha salarial dos bancários vai ser forte e provavelmente a gente vai ter greve”, diz o presidente da Confederação dos Trabalhadores do Setor Financeiro (Contraf), Carlos Cordeiro. Segundo ele, até agora os bancos se limitaram a ouvir as reivindicações dos trabalhadores e nada de fazer propostas.

Para o negociador da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Magnus Apostólico, a intenção do sindicalista é “esquentar as bases”, pois suas reclamações “não têm fundamentos”. “Quando tivemos a primeira reunião, combinamos com os bancários um calendário com três reuniões para discutir a pauta, e uma quarta, na próxima quinta-feira, para apresentar nossa proposta”, diz. Segundo ele, esse calendário está sendo rigorosamente seguido.