Puxada pela construção civil, responsável por 40% dos contratos desse tipo, demanda subiu 16% no semestre
Ana Paula Lacerda
A demanda urgente por mão-de-obra em vários setores fez com que muitas empresas recorressem ao trabalho temporário. No primeiro semestre, a demanda por esse tipo de empregado subiu 16% sobre igual período do ano passado, segundo a agência Gelre, uma das maiores do País no recrutamento de trabalhadores com contrato por tempo determinado.
O maior número de temporários está na Região Sudeste. “Até pelo número de habitantes e empresas , essa região – especialmente São Paulo – lidera o ranking de temporários”, diz a gerente regional da Organização Gelre, Cintia Fontoura. Porém, ela afirma que o maior crescimento ocorreu na região metropolitana de Recife (PE). “O desenvolvimento do Porto de Suape gerou uma necessidade muito grande de trabalhadores na região, e há pessoas indo de outros Estados para lá.”
Além do número, mudaram no último ano os setores que mais buscam esse tipo de funcionário. “Antes, era o varejo quem mais contratava temporários. Agora, é a construção civil”, diz Cintia. Segundo ela, até o ano passado, o varejo era responsável por 50% da contratação de temporários no País, enquanto a construção civil ficava na casa dos 20%. Em seguida, vinha o setor de promoções (20%) e áreas administrativas (10%). “Este ano, entre janeiro e julho, a construção foi responsável por 40% das contratações temporárias, enquanto varejo, promoções e administrativo concentraram 20% das vagas cada um”, diz a gerente.
Com isso, ficou alterada a sazonalidade do emprego temporário: antes, era o tipo de trabalho que surgia no Natal e na Páscoa, seguindo a necessidade do varejo. “Em praças como a Baixada Santista, também ocorre a necessidade de contratação de mão-de-obra temporária na época das férias escolares de verão”, exemplifica a gerente da área de recrutamento do grupo Pão de Açúcar, Eliana Ponzio. Com o crescimento da construção, no entanto, as vagas surgem o ano todo.
O crescimento da construção civil será de pelo menos 10% até o fim do ano, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon/SP). No Brasil todo, o número de empregos na construção já cresceu 4,1%, ou 62 mil postos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As vagas temporárias entram nessa contagem, porque o profissional tem registro em carteira.
O gerente de desenvolvimento organizacional da Racional Engenharia, João Paulo Soares, afirma que, apesar de ser uma opção, as empresas recorrem aos temporários apenas em último caso. “É porque o mercado cresceu demais, então às vezes é necessário. Mas é muito mais vantajoso ter equipe própria, que cresce com a filosofia da empresa.” A empresa, no último ano, aumentou em 40% o quadro de funcionários, de pedreiros a engenheiros. “Temos de buscar gente em outros Estados, pois a demanda é muito grande. Muitos profissionais que se consideravam em fim de carreira estão voltando ao mercado supervalorizados.”
“Os salários cresceram em média 30% no último ano, em todos os níveis”, diz Yorki Estefan, sócio diretor da Cytec+, braço da Cyrela voltado para construções populares. “Se não houver uma capacitação séria de pessoal, talvez cheguemos ao limite do crescimento das empresas, por falta de gente.”
O serviço temporário pode ser uma porta para o emprego definitivo. Segundo Cintia, as empresas pedem aos melhores funcionários temporários que retornem em outras oportunidades. “Após conquistar a confiança, ou seja, ser temporário mais de uma vez, a taxa de efetivação gira em torno de 70%.”