Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Notícias do Dia (Assessoria de Imprensa da Força Sindical)


Aposentados já podem ver valor do 13º salário

 

Carolina Rangel

do Agora

 

Os 22,8 milhões de beneficiários do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) que irão receber a primeira parcela do 13º salário a partir da próxima terça-feira já podem ver na internet o valor que será pago. É preciso entrar no site da Previdência (www.previdencia.gov.br) e acessar o extrato mensal, que terá o valor do benefício referente ao mês de agosto e 50% do valor do abono.

 

No Estado de São Paulo, 5.352.639 beneficiários irão receber, no total, R$ 2,3 bilhões, em 13º. No país, o gasto será de R$ 8 bilhões.

 

Para ver o extrato previdenciário mensal, é preciso ter em mãos o número do benefício e o número do CPF. Quem se aposentou neste ano ou recebe auxílio não tem abono integral.

 

O desconto de Imposto de Renda (para quem ganha mais do que R$ 1.434,59 por mês) sobre o abono será efetuado somente na segunda parcela, que será paga entre o final de novembro e o início de dezembro. Mas haverá desconto de IR sobre o benefício de agosto para quem não é isento. Aposentados com mais de 65 anos têm isenção maior de imposto.

 

Na terça-feira, será depositado o pagamento dos beneficiários que ganham até um salário mínimo e têm cartão de pagamento com final 1, desconsiderando-se o dígito. O pagamento antecipado do abono é resultado de um acordo entre governo e entidades de aposentados e vale até 2010.

 

 


Veja o valor do abono para o auxílio-doença

 

Juca Guimarães

do Agora

 

O segurado que recebe auxílio-doença do INSS ou se aposentou neste ano não tem direito ao valor integral do 13º salário.

 

A primeira parcela do abono de Natal (50% do valor), para quem recebe o auxílio-doença, será paga proporcionalmente aos meses de recebimento do benefício neste ano.

 

Quem recebe aposentadoria ou pensão concedida a partir de janeiro de 2009 até o início deste mês também vai receber um valor proporcional na primeira parcela do 13º.

 

Apenas quem se aposentou nos primeiros dias de agosto vai receber a primeira parcela do abono.

Os demais irão receber o valor somente no segundo pagamento.

 

 


Construção civil é a campeã de empregos no país

 

Camila Souza
do Agora

 

O setor da construção civil foi o que mais contratou em julho, com saldo positivo de 32.175 vagas no país. No total, em todos os setores, o Brasil gerou 138.402 empregos formais no período. Os dados são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e Emprego.


Esse foi o melhor saldo de postos de trabalho de 2009, sendo o sexto mês consecutivo de resultados positivos.

Por causa da crise econômica, foram fechadas quase 800 mil vagas com carteira assinada entre novembro de 2008 e janeiro deste ano.


De janeiro a julho de 2009, o saldo é de 437.908 postos de trabalho. No entanto, no mesmo período do ano passado, foram criadas cerca de 1,5 milhão de vagas.


Em julho, a construção civil foi o setor que mais abriu vagas, seguido pela agricultura, que criou 29.483 postos de trabalho. As áreas de serviços e comércio também tiveram aumentos significativos nas contratações no mês passado, com 27.655 e 27.336 novos empregos, respectivamente.


A indústria mostra recuperação mais tímida, com saldo de 17.354 vagas em julho, o melhor resultado em 2009. As áreas que mais contrataram foram a têxtil e a química.


No Estado, foram criados 52.811 empregos com carteira assinada em julho. Desses, 20.094 foram abertos na Grande São Paulo, sendo 17.710 na capital.

Concorra a 9.347 vagas

Os dados do Caged mostram que a construção civil é um setor que, mesmo com a crise, continua gerando empregos. Atualmente, três postos de intermediação de mão de obra têm 9.347 vagas disponíveis no Estado, com salários que vão de R$ 792,31 a R$ 5.000.


A maioria das vagas no setor é para quem tem ensino fundamental e médio.

A área tem oportunidades disponíveis em vários cargos, como pedreiro, eletricista carpinteiro, encanador, pintor, operador de escavadeira e de guindaste, entre outros.


Nos PATs (Postos de Atendimento ao Trabalhador), do governo estadual, são 1.556 vagas. Para concorrer, os interessados devem comparecer a um dos postos ou acessar o site do programa,
www.empregasaopaulo.sp.gov.br. O cadastro é gratuito. Pela internet, o trabalhador consegue ver todas as chances.


Já o CST (Centro de Solidariedade ao Trabalhador), da Força Sindical, tem 791 chances. Os maiores salários do centro são para técnico em edificações e para mestre de obras, com remuneração de R$ 2.000. Para se candidatar, é preciso ter ensino médio e seis meses de experiência.


O Curriculum.com.br tem cerca de 7.000 oportunidades disponíveis no Estado. Entre as chances abertas no site, estão vagas para pedreiro, com salário de R$ 917,40, e encanador, com remuneração de R$ 881.

 

 

 

 


Polo aeronáutico reduziu em 30% número de funcionários

 

FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Empresas fornecedoras e parceiras da Embraer na região de São José dos Campos (SP), onde está o principal polo da indústria aeronáutica no país, reduziram em pelo menos 28% o número de funcionários de janeiro até julho deste ano.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos registrou no período 751 homologações de trabalhadores demitidos nas 15 empresas que formam o pool de fornecedores da Embraer na região. O número total de empregados no grupo caiu de 2.649 para 1.898.

A eliminação de empregos no setor, porém, pode ser maior, já que funcionários com menos de um ano de casa não fazem homologação no sindicato.

O corte de vagas está ligado à queda de produção na Embraer, que ainda sofre com a retração do mercado aeronáutico. A própria Embraer demitiu, em fevereiro, cerca de 4.200 funcionários.

A Embraer produz hoje, em média, dez unidades da família de jatos comerciais 170/190 por mês. Há um ano, eram 14.

Com a crise, a Embraer registrou cancelamentos e pedidos de adiamento de entrega de aeronaves. Além disso, houve forte queda no volume de novas encomendas: foram oito no primeiro semestre de 2009, ante pelo menos 31 apenas no primeiro trimestre de 2008.

Para Urbano Fleury Araújo, diretor da Grauna, uma das fornecedoras da Embraer, as dificuldades no setor devem se estender até o final de 2010. Para sobreviver, de acordo com ele, a empresa pretende diversificar os clientes -hoje, 50% da produção da Grauna é destinada à Embraer.

“O mercado aeronáutico no mundo todo passa por dificuldades, por isso estamos tentando diversificar os nossos clientes. Um dos setores potenciais é o do petróleo”, disse Araújo.

Segundo ele, a Grauna demitiu 25% dos funcionários após o agravamento da crise. Hoje tem cerca de 300 empregados.

 

 


Uma boa notícia e uma dúvida

 

VINICIUS TORRES FREIRE


Crise do emprego resiste na indústria, mas passa de modo rápido e inesperado; maioria dos setores entra no azul


 

A CRISE DO EMPREGO passou muito mais rápido e de modo mais inesperado do que estudiosos e outros interessados no assunto esperavam, este colunista inclusive. É o que parece, a julgar pelo balanço do emprego formal de julho. As piores expectativas eram baseadas principalmente em duas hipóteses:

1) A queda do emprego ocorre com mais força depois de alguns meses do início do tombo na produção;
2) As demissões, que a princípio explodem na indústria de transformação (“fábricas”), tendem a se espalhar feito uma mancha de óleo no mar da economia. Não foi assim.

Houve um pânico quase generalizado pelos setores da economia entre dezembro e janeiro. A indústria teve um primeiro trimestre desastroso e um segundo “apenas” horrível. Ainda vai mal. O comércio foi mais contaminado pelas fábricas, mas nos demais setores a reação começou cedo, após o “grande medo” da virada do ano. Fábricas e certos grandes exportadores foram, como se sabe, tragados pelo colapso do comércio mundial. A “ampliação do mercado interno”, para recorrer ao velho blablablá desenvolvimentista, sustentou a atividade.

Entre 87 setores de atividade econômica, os que apresentavam a maior redução do estoque de empregos em relação a julho de 2008 estavam o de produção florestal, metalurgia, informática e eletrônicos, montadoras, máquinas e equipamentos, madeira, couro e calçados, produtos de metal, borracha e plástico, máquinas e aparelhos elétricos, todos com quedas de 5% a 21%. Mas, agora, 52 setores empregam mais gente do que há um ano, embora os salários tenham caído.

Em suma, o grosso do emprego sumiu devido à crise das montadoras e do investimento (máquinas, metalurgia e metal), de exportadores de alimentos e de alguns recursos naturais e das cronicamente complicadas manufaturas de têxteis, calçados e madeira.

Construção civil, infraestrutura, serviços públicos, educação, varejo doméstico e as miríades de serviços, tudo isso ajudou a evitar que a peteca do emprego caísse no fundo do poço.

A ação dos bancos estatais evitou o colapso do crédito. O crescimento forte e contínuo do gasto público, bom ou ruim, no curto prazo sustentou o mercado doméstico. Solvência nas contas externas e uma política macroeconômica mais ou menos conservadora vacinaram o país contra uma contaminação virulenta na área financeira e permitiram, coisa inédita, que o país baixasse os juros durante uma crise feia.

A ação estatal mostrou-se um instrumento muito útil para evitar o alastramento do pânico. Os gastos ditos “sociais” expandiram os “estabilizadores automáticos” (seguro- -desemprego, benefícios sociais vários). Mesmo a parte pior (a maior) do gasto do governo no curto prazo ajudou a evitar recessão feia.

Mas é também parte de nossos problemas crônicos: dívida pública ainda alta, gasto excessivo com juros, impostos demais e, ao mesmo tempo, investimento público limitado. O sucesso profilático da ação estatal ajuda a desmoralizar alguns mitos mercadistas. Pode, porém, criar mais ilusões e hábitos inerciais: excesso de gasto ruim, em ritmo de alta inviável, e economia regulada e estatizada demais onde não é necessário.

 

 


Aumenta a lista de países que estão fora da recessão

 

Para economistas como Michael Mussa, ex-FMI, processo de recuperação da pior crise em mais de 60 anos já começou e será rápido

ÁLVARO FAGUNDES
DA REDAÇÃO

Com o crescimento registrado em economias avançadas, como Japão e Alemanha (a segunda e a quarta maior do mundo, respectivamente), pouco mais de 25% do PIB global teve alta no segundo trimestre, indicando que o pior da crise pode ter terminado.

Na prática, isso significa que economias que representam cerca de US$ 16 trilhões (27% do PIB mundial) se expandiram de abril a junho em relação aos três meses anteriores. Isso leva em conta apenas os países que já divulgaram seus dados. Esse valor deve crescer mais nas próximas semanas, quando Brasil e Índia (que têm PIB superior a US$ 1 trilhão) apresentarem seus resultados, que também devem ser positivos.

No primeiro trimestre deste ano (comparando os mesmos 27 países), apenas China e Coreia do Sul, que representam cerca de US$ 4,5 trilhões (ou 7% do PIB global), haviam se expandido. No caso dos sul-coreanos, a alta foi de apenas 0,1% -ante 2,3% de abril a junho.

O crescimento agora de grande parte mundo do mundo desenvolvido foi fraco e ocorreu, em boa parte, porque os recuos dos dois trimestres anteriores foram muito fortes, com várias países registrando quedas recordes, mas analistas dizem que o processo de recuperação já começou, ainda que grandes economias como os Estados Unidos e o Reino Unido permaneçam em recessão.

Para Michael Mussa, que foi economista-chefe do FMI de 1991 a 2001, a crise chegou ao fundo do poço e estamos agora passando pelo processo de recuperação. Ao contrário de outros especialistas, que afirmam que a economia global deve sofrer novas caídas antes de se estabilizar, ele disse que o processo será em formato de V (isto é, a recuperação ocorrerá de forma rápida).

Para ele, o PIB global deve se expandir em 4% no último trimestre deste ano e atingir no fim de 2010 os níveis pré-crise.

O atual economista-chefe do Fundo, Olivier Blanchard, seguiu caminho parecido ao de Mussa. Em artigo publicado ontem, disse que o processo de recuperação da crise teve início, porém alertou: a mudança de rumo da economia global não será simples. “A crise deixou cicatrizes profundas que afetarão tanto a oferta como a demanda nos próximos anos.”

Ele disse que não se deve esperar taxas muitos altas de expansão durante a recuperação e que, para que esse processo seja “sustentável”, os EUA devem aumentar suas exportações, ao mesmo tempo em que o resto do mundo, especialmente a Ásia, reduz as suas compras.

Países
Para Mussa (que hoje trabalha no Instituto de Economia Internacional, em Washington), a recessão nos EUA, que teve início em dezembro de 2007, também chegou ao fim no atual trimestre em termos de crescimento econômico, mas o desemprego vai chegar a cerca de 10% no final deste ano.

Para o ano que vem, diz ele, a taxa deve ficar abaixo de 9% -ela está hoje em 9,4%, uma das mais altas em 26 anos.

Ele, que afirma estar otimista com a economia global, disse que ficou surpreso com o resultado da Europa (França e Alemanha saíram da recessão, e o PIB da zona do euro caiu apenas 0,1%, ante 2,5% no trimestre anterior) e que espera que os dados do bloco sejam positivos nos próximos meses -variando de país para país.

Sobre os emergentes, ele afirma que o Brasil deve apresentar dados positivos significativos, e os países asiáticos (que tiveram quedas de até 20%) também chegaram ao fundo do poço, enquanto outros, como o México, ainda devem sofrer mais com a crise.

 

 


Metade do 13º salário a aposentados injeta R$ 8 bi na economia

 

Pagamento começa na terça, dia 25, e beneficiará 22,85 mi de pessoas, sendo 5,35 mi em São Paulo

MARCOS CÉZARI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na próxima terça-feira, dia 25 deste mês, 22,85 milhões de aposentados e pensionistas do INSS começarão a receber a primeira metade do 13º salário deste ano. O pagamento será feito com os benefícios deste mês. A segunda parcela será paga entre os dias 24 de novembro e 7 de dezembro, com os benefícios de novembro.

Segundo a Previdência Social, a primeira parcela do 13º injetará R$ 7,98 bilhões na economia do país (em 2008, 22,1 milhões de pessoas receberam R$ 7,09 bilhões). Além da primeira parcela, 26,63 milhões de beneficiários receberão mais R$ 17 bilhões referentes aos benefícios de agosto. Assim, em duas semanas o INSS pagará cerca de R$ 25 bilhões.

O número de pessoas que recebem o 13º é menor do que os que recebem os benefícios porque algumas não têm direito ao abono natalino. Nesse caso estão as que recebem o amparo previdenciário do trabalhador rural, a renda mensal vitalícia, o amparo assistencial ao idoso e ao deficiente, o auxílio-suplementar por acidente de trabalho, a pensão mensal vitalícia, o abono de permanência em serviço, a vantagem do servidor aposentado pela autarquia empregadora e o salário-família.

Em São Paulo serão pagos R$ 2,33 bilhões para 5,35 milhões de beneficiários. No Rio, serão R$ 915,8 milhões para 2,17 milhões de pessoas.
Na terça-feira será depositado o pagamento dos beneficiários que ganham até um salário mínimo e têm cartão de pagamento com final 1 (desconsiderando-se o dígito). Aqueles que ganham mais que o mínimo recebem o abono e o benefício a partir de 1º de setembro.

Os segurados devem atentar para um detalhe: o desconto do IR na fonte feito no contracheque deste mês refere-se apenas ao valor do benefício mensal. É que, pela lei, não há IR sobre a primeira parcela do abono. O desconto, quando for o caso, será feito na segunda parcela, paga entre 1º e 7 de dezembro.

 

 


Governo reduz imposto de 259 máquinas

 

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

 

O governo reduziu ontem o Imposto de Importação para 259 tipos de máquinas e equipamentos. Os produtos serão usados, principalmente, em investimentos nos setores de geração de energia, petroquímico e têxtil.

A lista de produtos com Imposto de Importação menor entrou no regime de ex-tarifários, no qual o governo reduz o tributo por um tempo limitado para atender ao pedido de um setor específico.

Na maioria dos casos, a empresa que deseja fazer investimento pede ao governo que inclua os equipamentos que precisa importar neste benefício. Para isso, não pode haver produção nacional deles.

A maioria das máquinas terão o imposto reduzido de 14% para 2%. Nove, entre elas de informática e telecomunicações, tinham tarifa entre 18% e 8% e foi reduzida para 2%. O benefício vale até 31 de dezembro do ano que vem.

 

 

SAÚDE

Portadores de HIV terão facilidade para sacar FGTS a partir de agora. Para a liberação, não será mais necessário o comparecimento mensal do trabalhador em agência da Caixa Econômica. Será preciso apenas agendar as liberações mensais dos depósitos no primeiro saque.

 

 

 

 

 


Na crise, aumentam os casos de demissões por justa causa

 

Esse tipo de dispensa cresceu 35,47% entre os meses de junho de 2008 e maio deste ano em comparação aos 12 meses anteriores, por conta, segundo especialistas em mercado de trabalho, da crise financeira internacional

 

LUCIELE VELLUTO, luciele.velluto@grupoestado.com.br

 

O número de demissões por justa causa cresceu 35,47% entre os meses de junho de 2008 e maio deste ano em comparação ao registrado entre junho de 2007 e maio de 2008, de acordo com os dados de seguro-desemprego do Ministério do Trabalho e Emprego. Para os especialistas em trabalho, o aumento desse tipo de dispensa foi influenciado pela crise econômica mundial. Só nos últimos 12 meses, as demissões dessa natureza cresceram 15%.

Para a presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas de São Paulo, Ana Amélia Camargos, o empregador está mais informado e não está poupando o empregado em caso do erro que possa ser encaixar nos termos que a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) define como passíveis de justa causa. “Antes, o contratante deixava para lá e pagava tudo para não ter problemas, pois não sabia quando dar a justa causa. Mas, em período de crise, em que é necessário cortar custos, esse modo de demissão é mais barato para a empresa, e o patrão está melhor assessorado juridicamente”, diz.

O professor Arnaldo Mazzei Nogueira, especialista em Relações do Trabalho da FEA-USP e da FEA-PUC, observa que o período de crise também gerou maior tensão no ambiente de trabalho, aumentando os embates entre funcionários, o que pode acabar em justa causa para os mais exaltados. “O clima ficou mais quente em muitas empresas durante a crise”, diz.

Os ânimos acirrados são confirmados pelo desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região e professor de Direito das Faculdades Integrada Rio Branco, Marcelo Freire Gonçalves. “Percebemos um aumento sensível no tribunal de processos por justa causa, danos morais e até agressão física. Isso é consequência do clima tenso que tanto a crise quanto uma cidade como São Paulo podem promover no ambiente de trabalho”, afirma.

Na comparação entre os dois períodos, também foi verificado que os pedidos de demissão passaram de 535.449 para 622.754, uma diferença de 16,31%, e os casos de demitidos sem justa causa subiram de 1.195.681 para 1.443.462 dispensados, uma alta de 20,72% .

De acordo com Ana Amélia, 90% das demissões por justa causa acabam sendo contestadas pelos demitidos e são levadas aos tribunais. “Por isso, é preciso que essa justa causa seja bem comprovada do lado do empregador, e, caso o empregado se sinta lesado, também haja provas de que o motivo de dispensa não procede”, diz.

A não aceitação da demissão por justa causa por parte do funcionário pode ser um dos motivos que levou o TRT da 2ª Região a ter o volume de processos elevado em 11,49% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2008.

O desembargador presidente, Decio Sebastião Daidone, considera que o aumento no número de novas ações está relacionado com o maior volume de demissões durante a crise. Parte das dispensas e questões relacionadas à saída de alguns trabalhadores estão sendo questionadas na Justiça.

SITUAÇÕES PARA JUSTA CAUSA

De acordo como artigo 482 da CLT, o empregador pode dispensar o empregado sem o pagamento da multa do Fundo de Garantia e liberação do mesmo se houve ato de improbidade, ou seja, desonestidade e má-fé

Em caso incontinência de conduta ou mau procedimento, como, por exemplo, não usar o Equipamento de Proteção Individual (EPI)

No caso de realização de uma negociação por conta própria sem permissão do empregador que seja para concorrência ou que gere prejuízo à empresa

Se houve condenação criminal do empregado

Se ocorrer desídia no desempenho das respectivas funções, ou seja, negligência ou descuido na execução do trabalho

Embriaguez em serviço

Violação de segredo da empresa

Se houver ato de indisciplina ou de insubordinação

Abandono de emprego

Se houver ato lesivo da honra ou da boa fama praticado no serviço contra qualquer pessoa, ou ofensas físicas, nas mesmas condições, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outra pessoa

Se houver ato lesivo da honra ou da boa fama ou ofensas físicas praticadas contra o empregador e superiores hierárquicos, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outra pessoa

E em caso de prática constante de jogos de azar

 

 

 

 

Construção garante melhor mês do emprego

 

Isabel Sobral, BRASÍLIA

 

O mercado de trabalho formal do País recuperou o fôlego em julho, com a abertura de 138,4 mil novos empregos. Foi o melhor saldo líquido mensal entre contratações e demissões este ano, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem. As contratações na indústria chegaram a 17,3 mil, mas, no ano, as demissões ainda superam as admissões.

O total de vagas abertas em julho elevou em 0,43% o estoque de empregos formais, para 32,4 milhões. De janeiro a julho, somam 437,9 mil as vagas criadas, o que representa um acréscimo de 1,37% ante o estoque de empregos existente em dezembro de 2008.

O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, afirmou que o desempenho de julho “consolida o processo de recuperação” do mercado formal, pois o saldo do mês ficou próximo da média de 140 mil vagas criadas nos meses de julho dos anos de 2003 a 2008. “O Brasil já está vendo a crise pelo retrovisor”, disse Lupi.

O resultado de julho mostrou que o mercado de trabalho retomou a tendência de alta perdida em junho, ante maio. No entanto, a abertura de 138,4 mil vagas é quase 32% menor que as 203,2 mil ocupações criadas em julho do ano passado.

Para agosto, o ministro aposta num saldo melhor que o de julho. “Teremos um agosto de bom gosto”, brincou, sem prever números. Lupi mantém a previsão de geração de pelo menos 1 milhão de empregos formais em 2009.

CONSTRUÇÃO CIVIL

Embaladas pelas obras públicas e pela expansão do mercado imobiliário, as empresas da construção foram as que mais contrataram em julho. O saldo líquido de empregos formais no setor foi de 32,1 mil, o segundo melhor resultado da série histórica do Caged para meses de julho. O recorde ainda é julho de 2008, quando foram criados 35 mil empregos formais.

Com os 17,3 mil postos de trabalho abertos em julho, a indústria de transformação, responsável por cerca de um terço das vagas com carteira assinada do País, voltou a apresentar número significativo de empregos. No mês anterior, o setor havia criado apenas 2 mil vagas.

Com o agravamento da crise mundial, no fim do ano passado, o setor industrial demitiu cerca de 500 mil pessoas. A recuperação tem sido lenta porque, de janeiro a julho, as demissões ainda superam as contratações em 127,1 mil.

Lupi avaliou que o crescimento no setor é consistente. “A indústria saiu da crise e deve se recuperar ainda mais”, comentou. Normalmente, é entre os meses de julho e setembro que as indústrias aceleram a produção e contratam empregados temporários para abastecer o comércio para as vendas de fim de ano.

O setor de serviços abriu 27,6 mil novas vagas em julho e acumula 263 mil novos postos no ano. Já o comércio, gerou no mês passado 27,3 mil novos empregos e reduziu o saldo negativo do ano para 5,6 mil.

Todas as regiões do País tiveram bom desempenho na criação de empregos em julho, com destaque para São Paulo (52,8 mil), Bahia (9,7 mil), Rio de Janeiro (9,6 mil) e Ceará (9,5 mil). As novas contratações nesses Estados foram mais fortes no comércio, nos serviços e na agropecuária.

O Caged revelou ainda que, em julho, ante junho, houve aumento real de 1,49% no valor do salário médio de admissão, que passou de R$ 752,96 para R$ 764,14. Os maiores ganhos ocorreram na área de ensino e na indústria da borracha. Por região,os maiores aumentos ocorreram no Distrito Federal, na Bahia e em Minas Gerais.

 

 

Governo recontrata demitidos por Collor

 

Mais 140 pessoas que haviam sido demitidas do serviço público federal durante o governo de Fernando Collor (1990-1992) conseguiram o direito de ser recontratadas.

O ministério do Planejamento publicou ontem sete portarias no Diário Oficial autorizando o retorno ao trabalho dessas pessoas. No total, 4.452 demitidos por Collor já conseguiram reaver seus empregos durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, alegando terem sido vitimas de perseguição política ou de demissão sem amparo legal. A recontratação se dá com base na Lei de Anistia, sancionada em 1994, no governo de Itamar Franco.

 

 

 

 


 

Governo certifica inclusão social no mercado de trabalho

 

Anderson Passos

 

SÃO PAULO – O governo do Estado de São Paulo entregou ontem a 24 organizações o Selo Paulista da Diversidade. A iniciativa, única no País, tem o objetivo é incentivar as práticas de inclusão social no mercado de trabalho dentro das empresas públicas ou privadas e da sociedade civil, independentemente do seu porte. Dentre as práticas incentivadas pela certificação estão projetos que promovam e valorizem a diversidade, sejam elas de etnia, gênero, cultural, idade, sexo etc.

As 24 iniciativas agraciadas ontem se inscreveram previamente e assumiram o compromisso de valorização da diversidade. Na etapa seguinte, foram acompanhadas por um comitê gestor multidisciplinar que atua na Secretaria de Relações Institucionais e que conta com representantes do governo do estado e da sociedade civil. Assim, todas elas receberam o Selo Paulista da Diversidade na categoria Adesão. Dentro de um ano, as entidades poderão incorporar a certificação plenamente.

O governador paulista, José Serra (PSDB), classificou a iniciativa de “um selo de igualdade” e se disse esperançoso de reencontrar as iniciativas diplomadas daqui a um ano, quando da entrega do Selo de Diversidade Pleno. Completou que a certificação privilegia ainda boas práticas ambientais.

“Esse selo é um incentivo que nós estamos dando à propagação de práticas sociais corretas entre as organizações que incluem desde uma paróquia, empresas ou até um banco do porte do Bradesco. Quer dizer, inclui grandes empresas e organizações em geral”, afirmou o governador.

As práticas sociais não são garantia de incentivo fiscal aos participantes. José Serra ponderou que, se assim fosse, iria instituir uma espécie de “bolsa diversidade”, o que foge ao objetivo da iniciativa. As organizações poderão agregar o Selo Paulista da Diversidade à sua imagem na medida em que se consagram como um reconhecimento público de inclusão social.

Foram agraciadas a Accenture Brasil Ltda., a Associação Comercial de São Paulo, Bradesco S/A, Banco IBI S/A, CSC, Camargo Corrêa S/A, Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, Companhia de Gás de São Paulo, Companhia Energética de São Paulo, Companhia Paulista de Força e Luz, Companhia Piratininga de Força e Luz, Dow Brasil S.A., Equipalcool Sistemas Ltda., Escola Estadual Benedito Tolosa, Fleury S.A., Instituto Nextel, Instituto Paradigma, Key Consultoria e Treinamento Ltda., Laramara (Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual), Nextel Telecomunicações Ltda., Paróquia da Santíssima Trindade (Igreja Episcopal Anglicana do Brasil), Unimed Seguradora S.A., Veyance Technologies do Brasil Produtos de Engenharia Ltda. E Wal-Mart Brasil Ltda.

 

 

 

 


Obras da Copa vão ficar para o Brasil, diz Havelange

 

Entrevista: Ex-presidente da Fifa diz que a indústria do futebol sustenta globalmente 1 bilhão de pessoas

 

Chico Santos, do Rio

 

A voz é firme e clara, assim como os passos e as respostas. “O futebol toma conta no mundo e dá de comer a praticamente 1 bilhão de pessoas. Não há indústria, não há ninguém que faça isso”. Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange, 93 anos completados no dia 8 de maio, ex-nadador e carioca de ascendência belga, construiu toda a sua carreira no futebol e foi protagonista de grande parte da história do esporte mais popular do mundo. João Havelange, como foi “rebatizado”, sepultou definitivamente o romantismo amador da primeira metade do século passado e inseriu o esporte no mundo dos negócios.

 

Ainda encontrou tempo para ficar por 58 anos na direção de uma só empresa, a Viação Cometa, cargo acumulado com a presidência da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), hoje Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que exerceu de 1958 a 1974, ano em que assumiu a presidência da entidade que comanda o futebol mundial, a Fédération Internationale de Football Association (Fifa), ficando no cargo até 1998. Hoje é presidente de honra da entidade.

 

“Administrar é não deixar faltar recursos”, resume em entrevista concedida ao Valor no elegante escritório do centro do Rio, de onde gerencia seu patrimônio. Ele conta como viabilizou a participação brasileira na Copa de 1958, a primeira conquistada pelo país, como multiplicou as receitas das copas do mundo, critica os dirigentes dos clubes brasileiros e repele mudanças nas regras do futebol evitar erros de arbitragem. “A força do futebol está no erro”, sustenta. A seguir, trechos da entrevista:

 

Valor: Conte qual é o seu pensamento como empresário.

 

João Havelange: O meu pensamento é o seguinte: administrar é não deixar faltar recursos. Se o senhor tiver os recursos, a sua missão é facilitada e o senhor chega a um final feliz. Se o senhor não tiver os recursos, dificilmente atingirá os seus objetivos. Quando eu cheguei à CBD em 1958, ela não tinha praticamente nada. Tinha o futebol e 24 esportes amadores. Hoje, todos aqueles esportes saíram e a CBD transformou-se em Confederação Brasileira de Futebol, a CBF. Tínhamos diante de nós uma Copa do Mundo (Suécia) e eu não tinha um recurso, a não ser um certo crédito nos bancos pela posição que eu tinha como administrador de uma grande empresa (Viação Cometa). Com isso, eu fazia o que na época chamávamos de papagaios (promissórias) e assinava como responsável. Não é todo mundo que faz isso. Quando nós fomos para a Copa do Mundo…

 

Valor: Mas o senhor não foi à Suécia, foi?

 

Havelange: Não fui por uma razão muito simples: se eu fosse, quem iria assinar os papagaios para mandar o dinheiro? Então, foi o vice-presidente, que era o Paulo Machado de Carvalho. Eu precisava de mais alguns recursos e consegui, antes que o time chegasse à Suécia para iniciar a Copa, dois jogos na Itália, um em Milão, contra a Inter (Internazionale), e outro em Florença, contra a Fiorentina. E com esse recurso é que o time chegou lá e o Paulo, indiscutivelmente, foi excepcional, como comando, como tudo.

 

Valor: O JK (presidente Juscelino Kubitschek) não deu uma colaboraçãozinha?

 

Havelange: Aí é que eu quero chegar: eu imaginei pedir a ele para fazer uma medalha, uma espécie de moeda de ouro com tantos quilates, na Casa da Moeda. De um lado, colocar o emblema da República, e do outro, o emblema da CBD. E o presidente Juscelino deu ordem à Casa da Moeda e nós fizemos 10 mil medalhas, ou moedas. Como a chancela da Casa da Moeda garantia a quantidade de ouro que tinha, eu ia a vários bancos e entregava pacotes de mil medalhas. Como era ouro, eles me creditavam imediatamente. Assim, consegui os recursos.

 

Valor: O ouro tinha liquidez…

 

Havelange: Exatamente. Os bancos mandavam para as agências e sempre havia alguém que queria comprar. E foi dessa maneira que eu fiz a Copa de 1958. O tempo passou, tivemos mais uma Copa do Mundo, em 1962 (Chile), e fizemos a mesma coisa. Em 1966 (Inglaterra) foi diferente, enfim, chegamos a 1970 (México). Aí os recursos já eram diferentes.

 

Valor: O Brasil já tinha dois títulos mundiais na bagagem.

 

Havelange: O cartão de visitas apresentado era outro… Depois da CBD fui eleito para a Fifa. Quando lá cheguei, eu estaria mentindo se dissesse que encontrei 20 dólares em caixa. Eu levava um programa que, na insistência, não foi aceito pelo Comitê Executivo. E para executar esse projeto, já que a Fifa nada tinha, eu tive a felicidade de ter duas reuniões, uma com a Adidas e outra com a Coca-Cola Internacional. E os dois se associaram a mim nesse programa. E aí, começaram a chegar os recursos. E eu pude modificar imediatamente a maneira de administrar a Fifa. Eu quero que o senhor atente bem para isso: a primeira Copa que eu presidi, já estava indicada onde deveria ser, foi em 1978, na Argentina. Tinha 16 equipes. Elas disputaram 32 jogos em 25 dias. E a receita final, bruta, foi US$ 78 milhões. Quatro anos depois, na Espanha, a receita passou para US$ 84 milhões. Aí eu consegui do Comitê Executivo a permissão para modificar para a Copa de 1986, que seria no México, de 16 para 24 times. Com 24, nós teríamos 54 jogos e, em vez de 25 dias, jogaríamos em 30 dias. O resultado: passamos de US$ 84 milhões para US$ 500 milhões de receita. Na continuidade, fiz um novo estudo e passei de 24 para 32 seleções. A Copa de 1990, na Itália, foi ainda disputada por 24 seleções, mas nos Estados Unidos já foram 32, jogando 62 partidas em 30 dias. E, pasme, saímos de US$ 80 milhões (1978), ou de US$ 500 milhões (1986), para US$ 2,2 bilhões. Na sequência, que foi a França, em 1998, fomos a US$ 2,8 bilhões. E hoje uma Copa do Mundo rende US$ 4 bilhões. Hoje, temos patrocinadores de campo quando tem a Copa do Mundo, e eles estão presentes também nas outras competições da Fifa. São 15 patrocinadores. E o pagamento dos que estão no campo é de US$ 75 milhões cada um. Tem a televisão, que dá mais a US$ 2,2 bilhões. E temos de 1,4 milhão a 1,5 milhão de assistentes, que correspondem a quase US$ 1 bilhão de receita. Então, uma Copa do Mundo tem hoje uma receita de US$ 4,2 bilhões.

 

Valor: É um negócio poderoso…

 

Havelange: Exato. Então, o senhor me permita a falta de modéstia, mas foi de um trabalho, de um estudo que fizemos quando chegamos. Ninguém havia pensado nisso e ninguém havia feito. A gente, na empresa, procura dar o melhor, mas também ter o melhor, e o melhor é a receita. Este mesmo princípio eu apliquei na Fifa que hoje se tornou um dos grandes poderes do mundo.

 

Valor: O seu pai tinha negócios na área de armamentos, mas o senhor foi trabalhar em uma empresa de ônibus…

 

Havelange: Eu me formei em direito com 20 anos, em 1930, e perdi meu pai em 1934. Após estagiar em escritórios de advocacia, fui aprender a trabalhar. Pude entrar na Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, que ainda existe hoje (unidade de aços longos da ArcelorMittal). Lá eu aprendi a receber clientes no balcão, aprendi a catalogar, a escrever à máquina, aprendi a fazer correspondência, aprendi a visitar clientes e, depois de quatro anos, pedi demissão porque queria uma outra situação. Com o passar do tempo, fui convidado pelos proprietários da Cometa para ir para a empresa. Isso foi em 1940 e eu fui como advogado trabalhista. Fiquei dois anos nessa posição. Depois, fui a diretor, ficando dois anos. E agora vou dizer uma coisa que vai lhe surpreender, porque isso já não existe: fiquei 58 anos como presidente, 62 anos na mesma empresa.

 

Valor: Então o senhor saiu de lá em 2002?

 

Havelange: Exatamente. E foi aí que aprendi o que era administração. Eu não sou motorista, eu não sou mecânico, eu não troco pneu, eu não mexo em chassi… Mas havendo recursos para se ter uma boa administração, a gente procura ter os melhores.

 

Valor: O senhor inovou, contratou psicólogos para cuidar dos motoristas, preocupado com a segurança…

 

Havelange: Os motoristas tinham que fazer um exame como faz o aviador.

 

Valor: E qual foi a marca da sua gestão?

 

Havelange: Para o senhor ter uma ideia, só um detalhe: o ônibus tem dois pneus na roda de trás. Quando o pneu de dentro furava, o motorista tinha de tirar a roda de fora, tirar o pneu furado, ir buscar no ônibus o novo pneu, colocar, colocar o de fora e guardar o furado. Na Cometa tudo era feito em 17 minutos. Eu chamo isso administração. É um detalhe que parece não ter importância, mas tem. Se o cara fica parado duas horas para fazer aquela tarefa não é bom. Incomoda o passageiro, ele reclama. Foi com esse espírito, esse pensamento e essa vontade que eu fui para a Fifa quando eleito presidente. E o futebol hoje é um dos poderes do mundo e eu vou dizer porquê: 250 milhões. Se o senhor multiplicar isso por quatro dentro de uma família, dá 1 bilhão, não é? Então, o futebol toma conta no mundo e dá de comer a praticamente 1 bilhão de pessoas. Não há indústria, não há ninguém que faça isso. Hoje, vejo que o futebol é um poder, é desejado, é aplaudido e é criticado, naturalmente, como tudo que a gente faz na vida. Mas é um exemplo a ser seguido.

 

Valor: Como o senhor conseguiu conciliar a presidência da Cometa com CBD e, depois, com a Fifa?

 

Havelange: Primeiro, eu tinha o respeito de todo o mundo. Dava para fazer. Se tivesse que vir, eu vinha (ao Brasil), e sempre estava bem assessorado para continuar o trabalho, uma diretoria de alto gabarito e de qualidade.

 

Valor: O futebol tornou-se um dos maiores negócios do mundo, mas no Brasil os clubes empobreceram. Por quê?

 

Havelange: O senhor disse bem, os clubes brasileiros empobreceram, os europeus, não. Porque nós temos péssimas administrações. O sujeito hoje é dirigente, é diretor e ainda é torcedor. Não é administrador, e este é o grande problema. E depois, a lei federal deveria mudar. O senhor viu agora o que aconteceu no mundo? Um baque tremendo! Quantas pessoas altamente qualificadas foram presas porque tinham responsabilidades e falharam? No dia em que isso acontecer no futebol – o sujeito é presidente, mas responde com os seus bens, pode sofrer um processo e ir para cadeia-, o senhor vai ver que tudo vai mudar.

 

Valor: A chamada Lei Pelé (nº 9.615/98, que acabou com o passe, o vínculo desportivo do jogador ao clube) contribuiu para os problemas dos clubes no Brasil?

 

Havelange: Para mim contribuiu e muito. Quando ele fez a lei eu o chamei e disse “se eu fosse você não apresentaria porque você vai trazer um grande prejuízo para todos”. Antigamente, quando o passe do jogador era vendido, o clube dava a ele 15% do valor da venda. E quem fazia o contrato com o novo clube era o jogador, não era nenhum indivíduo. Hoje em dia está tudo nas mãos de pessoas. Há pouco tempo eu li que um jogador ia para não sei para onde. Havia três empresários, cada um tinha um terço do passe dele. Antes se falava em escravatura. Isto é que é uma escravatura, o senhor me perdoe.

 

Valor: É propriedade de pessoas…

 

Havelange: Exatamente. Hoje o diretor diz que o passe é dele, não é do Fluminense (por exemplo). O passe do jogador deve ser do clube, é propriedade do clube, não pode ser seu e nem meu. O clube é que dá o emblema, dá a camisa, dá a coloração. Se não superarmos isso, vamos continuar descendo.

 

Valor: E a realização da Copa na África (2010)?

 

Havelange: Antes de deixar a Fifa percebemos que nunca na história nada se passou na África, nenhum evento, nada. Então, procuramos o presidente (Joseph) Blatter (substituto de Havelange na Fifa) e deixamos pronto para que em 2010 a Copa do Mundo fosse para a África. O senhor veja o que isto representa! Eles estão fazendo estádios, estão se organizando, estão se disciplinando… A Copa das Confederações foi feita e correu tudo perfeito. Se nós pudéssemos fazer em todos os setores da atividade humana o que faz o futebol, o mundo não seria o mesmo.

 

Valor: Qual a importância econômica e social para o Brasil da realização da Copa de 2014?

 

Havelange: Já que estou falando com um jornal econômico, vou dar um dado: não sei se o senhor sabe que a França recebia por ano 60 milhões de turistas. É o turista que chamamos classe A e B, que gasta US$ 1.000 por viagem. Então, o turismo fazia entrar na França US$ 60 bilhões. Tivemos então a Copa do Mundo na França em 1998. Depois dela essa média saltou para 70 milhões de turistas, ou seja, a Copa deu para a França US$ 10 bilhões por ano. É assim que tem que ser analisado. “Mas eu vou gastar dinheiro no estádio”! Ele fica, não vai ser posto no chão. “Vou gastar no aeroporto”! Ele também fica, para o bem de todos.

 

Valor: Muitos criticam, tanto na CBF quanto na Fifa, o fato de não haver um limite para as reeleições. Como o senhor vê isso?

 

Havelange: Não vamos misturar política com outras coisas. Todo mundo quer sentar no futebol porque sai o nome no jornal. Mas tem que saber trabalhar. O Blatter chega ao escritório todo dia às 8 horas e sai às 18. Eu, quando estava lá, também. Durante os 24 anos que fiquei, foi sempre por eleição. Na primeira, eu tive uma disputa com outro candidato. Nas outras (eleições), foi por aclamação. É porque gostavam!

 

Valor: Como o senhor vê as reclamações de que as regras do futebol evoluem muito lentamente, não acompanham a tecnologia?

 

Havelange: O senhor vai estranhar a minha resposta. A força do futebol é o erro. Eu vou dizer porquê. Copa do Mundo de 1986, no México. Eram 24 seleções, 54 jogos. Só se fala de um jogo, Argentina e Inglaterra, porque Maradona fez um gol com a mão. Copa de 1966 na Inglaterra: até hoje se discute o terceiro gol dos ingleses contra os alemães na final (há sérias dúvidas sobre se a bola realmente entrou). O vôlei, quando eu joguei, o mais alto tinha 1m80, hoje tem 2m10. Então, a regra tinha que mudar. No futebol eu queria que uma regra mudasse, era aumentar a baliza para os lados e para cima. O Aimoré (Moreira, ex-goleiro e ex-treinador) devia ter 1,75 m. Hoje, o Dida quanto tem? Dois metros e pouco. Então, eu havia imaginado aumentar o gol em uma bola para cima e meia bola para cada lado. Fomos verificar. O senhor veja que pensar é uma coisa e executar é outra. Se isso acontecesse o senhor teria que inutilizar grande parte dos campos da Europa porque não havia como recuar. A maioria dos estádios não tinha pista em volta, então não dava para mexer.

 

Valor: E a ideia de colocar um chip na bola para saber onde ela vai quicar?

 

Havelange: Eu sou contra. Acho que o árbitro está ali para isso. O futebol mudou, mas sua força continua sendo o erro. O senhor vai para o café e discute, quer quase agredir porque isso e aquilo. O dia que o senhor tirar isto, é feito ir ao Teatro Municipal de casaca, bater palmas e voltar para casa.

 

Valor: Qual foi a maior alegria que o futebol deu para o senhor?

 

Havelange: Naturalmente, a Copa de 1958. O Brasil nunca tinha ganho. Eu cheguei à CBD… naquela época diziam que eu era nadador e não entendia nada de futebol, é um direito de cada um, mas com o método que eu levei, nós fomos campeões. Em 1966 (o Brasil perdeu o tricampeonato) me criticaram muito, mas eu vou lhe lembrar: presidente da Fifa, um inglês (sir Stanley Rous) dizia que o futebol nasceu na Inglaterra e que a Inglaterra era que sabia de futebol. Mas nunca tinha sido campeã. Copa do Mundo na Inglaterra: O único time que não saiu de Londres foi a seleção inglesa. Quando o Brasil foi jogar os três primeiros jogos, contra a Bulgária, contra a Hungria e contra Portugal, dos três árbitros e seis bandeirinhas, sete eram ingleses e dois alemães. Acabaram com nosso o time (violência). E quem foi campeão? A Inglaterra, com a Alemanha de vice. Fui criticado, fui maltratado, quase me agrediram, mas o que ninguém quer é analisar, porque o futebol é uma paixão e o senhor tem que respeitar essa paixão, mesmo que ela seja contra si. Mas não é porque essa paixão lhe vem contra que o senhor tem que mudar a regra.

 

Valor: Como o senhor vê a economia brasileira e o governo do presidente Lula?

 

Havelange: Não é porque o presidente está no exercício, mas nós temos que reconhecer que em um momento de crise mundial um dos países que menos sofreram foi o Brasil. Dentro do problema houve um equilíbrio. Nós praticamente não sentimos as ondas de 50 metros. Ficamos só nas marolas. E eu acho que isto é um exemplo a seguir. Não é que ele deva se perpetuar, mas, indiscutivelmente, é um exemplo a ser seguido.