Importados da China respondem por 20% do consumo nacional e muitos produtos deixaram de ser fabricados
Raquel Landim e Cleide Silva
Os eletroeletrônicos são os mais prejudicados pela concorrência da China. A fatia do gigante asiático no consumo chega a 20%, enquanto nos demais setores da economia não supera 5%. Especialistas em comércio exterior avaliam que, neste caso, o avanço chinês pode ser considerado uma “invasão”.
No ano passado, a China respondeu por 22,6% das máquinas para escritório e informática, 19,7% do material eletrônico e de comunicações e 18,7% dos equipamentos médico-hospitalares e de automação industrial consumidos pelo Brasil.
“São três setores em que apenas um país representa 20% do total do consumo brasileiro. É muita coisa”, diz Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
“Os componentes eletrônicos brasileiros praticamente desapareceram do mercado. É natural uma maior presença da China, porque houve uma transferência maciça de fábricas americanas e europeias para a Ásia”, explica Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).
Para Ribeiro, os dados evidenciam que, no setor eletroeletrônico, o impacto da China foi mais significativo para os fornecedores de outras origens do que para os nacionais.
Entre 2003 e 2008, a presença da China no consumo de máquinas para escritório e informática saiu de 6,3% para 22,6%, ou seja, uma alta de 259%. No entanto, a participação total das importações no consumo desses produtos oscilou de 40,8% para 41,8% no período.
Em material eletrônico e de comunicações, a situação é parecida. Enquanto a presença da China no consumo nacional subiu 234% entre 2003 e 2008, o avanço da fatia total dos importados foi de 19,9%.
Empresários do setor contam que, por muitos anos, a participação da China se restringia à compra de componentes para complementar a linha de produção. Mas, a partir de 2005, as empresas passaram a trazer produtos acabados, promovendo um deslocamento de produção e o fim da montagem local de itens como rádios e gravadores portáteis.
“Não há mais nenhum rádio feito no Brasil”, confirma Barbato, da Abinee. Ele admite que, num primeiro momento, as empresas trazem peças para montagem local, mas, com o desequilíbrio cambial, podem partir para a importação de produtos acabados.
Mario Sergio Amarante Filho, gerente de vendas e marketing da multinacional austríaca Kraus & Naimer, fabricante de chaves comutadoras elétricas em Cotia (SP), diz que o produto chinês chega ao País entre 40% a 50% mais barato que o nacional. Além dos custos mais em conta, as fabricantes nacionais dizem que enfrentam também a pirataria.
“Não é só questão de câmbio”, diz Amarante . “Representantes de empresas chinesas pesquisam e fotografam nossos produtos e depois os copiam, sem gastar nada em desenvolvimento”, conta. As chaves comutadoras elétricas são usadas em equipamentos de distribuição de energia.