Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Usiminas suspende investimento de US$ 6,1 bilhões em nova usina

 


Para empresa, mercado retraído não justifica construção de nova unidade, que entraria em operação em 2012

 

Ivana Moreira, BELO HORIZONTE

 

A Usiminas anunciou ontem a suspensão de um investimento de US$ 6,1 bilhões na construção de uma nova usina. “Essa usina estaria pronta em 2012, mas até lá não acreditamos que haverá consumo para justificar a ampliação da oferta”, disse o presidente do grupo, Marco Antônio Castello Branco. A usina seria construída no município de Santana do Paraíso (MG), com capacidade para produzir até 5 milhões de toneladas de placas por ano. Além da redução do consumo mundial de aço, que tornou o projeto inviável, a direção da Usiminas reconheceu que seu balanço financeiro atual não permite um investimento dessa monta.

 

O balanço da empresa no segundo trimestre revela um dos piores resultados operacionais da história da siderúrgica. As vendas caíram 38% no período em relação ao mesmo trimestre do ano passado – ficaram em R$ 2,4 bilhões. E os preços médios continuam muito abaixo do que estiveram antes da crise mundial. No mercado interno, eles caíram 14%. No externo, caíram ainda mais: 35%. Além disso, a empresa ainda opera com custos elevados, sobretudo os relativos às matérias-primas.

 

O lucro líquido apurado entre abril e junho, de R$ 369 milhões, é um resultado financeiro, consequência principalmente da valorização cambial do real. Mas o resultado operacional foi bastante fraco. A geração de caixa (Ebitda) do segundo trimestre foi de R$ 117 milhões, muito inferior aos R$ 1,423 bilhão registrados no mesmo período do ano passado. No acumulado do semestre, o Ebitda foi de R$ 449 milhões, 83% menor que o apurado no primeiro semestre de 2008. “Não estamos satisfeitos com a qualidade da recuperação, ela é muito mais financeira do que operacional”, resumiu o presidente da Usiminas.

 

O desempenho do grupo no segundo trimestre veio pior do que estimavam os analistas. “Foi o pior resultado da história, veio pior do que o mercado esperava”, disse ontem Pedro Galdi, analista da corretora SLW. “Mas precisamos compreender que o trimestre foi atípico, foi um período muito crítico para o setor siderúrgico.” Segundo Galdi, os estoques altos ainda terão impacto significativo no resultado da Usiminas no terceiro trimestre.

 

Além de suspender o investimento numa nova usina, a siderúrgica continua apostando em seu plano de ajustes para reduzir custos operacionais. A empresa vem reduzindo estoques de produtos acabados e matérias-primas e os gastos com pessoal. Depois de colocar em prática o primeiro programa de desligamento voluntário de sua história, a Usiminas já conseguiu reduzir 2,4 mil funcionários desde dezembro – o número de empregados caiu de 15,3 mil para 12,9 mil, contando adesões ao PDV, demissões, aposentadorias e outros cortes.

 

Segundo Castello Branco, o plano estratégico da Usiminas para enfrentar a crise é manter o foco no Ebitda e na rentabilidade. Na mesma reunião em que aprovou a suspensão do investimento na usina de Santana do Paraíso, o conselho de administração aprovou um investimento de R$ 215 milhões na usina de Ipatinga (MG) para aumentar a produção de aços nobres utilizados no setor de petróleo e gás. Esses produtos são itens de maior valor agregado e melhor rentabilidade.

 

ALTOS-FORNOS RELIGADOS

 

Depois de passar um semestre com 3 de seus 5 altos-fornos parados, a Usiminas anunciou que está iniciando o processo de religamento de dois deles, um em Ipatinga e outro em Cubatão (SP), apostando na recuperação lenta do mercado – especialmente do mercado interno. O terceiro alto-forno de Ipatinga, porém, deverá continuar parado ainda por bastante tempo. “Até o fim do ano ele certamente não será religado”, informou o presidente.

 

Antes da crise, a Usiminas investiu US$ 925 milhões para comprar a mineradora J. Mendes, num investimento considerado alto mesmo à época. Desde então, o cenário mudou completamente, mas a direção da siderúrgica diz não ter motivo para se arrepender da aquisição. “Foi a melhor coisa que a Usiminas fez na vida”, garantiu Castello Branco.

 

Segundo ele, contar com minério próprio, com custo inferior, é neste momento um diferencial estratégico para a empresa. Investimentos estimados em US$ 3 bilhões para a aumentar a produção da mineradora ainda não foram suspensos. Mas a decisão final só será tomada no ano que vem, quando estiverem concluídas as sondagens sobre as reservas da J. Mendes.