Índice calculado pela CNI cresceu em maio pelo 4.º mês consecutivo
Renata Veríssimo, BRASÍLIA
A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) na indústria de transformação cresceu em maio pelo quarto mês seguido, chegando a 79,8%, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). De acordo com a entidade, este foi o único indicador do mês passado que apontou para uma recuperação mais consistente da atividade industrial. Ainda assim, ele está 3,3 pontos porcentuais abaixo de maio de 2008 (83,1%).
Para a CNI, os dados ainda não apontam um cenário consolidado de recuperação, já que houve queda em quase todos os demais indicadores. O emprego industrial, por exemplo, recuou 0,3% na comparação com abril, acumulando a sétima queda seguida. Segundo a CNI, isso indica que o ajuste do mercado de trabalho na indústria ainda está em curso.
Na comparação com maio de 2008, a queda no emprego foi de 4,1%, a maior retração mensal desde o início da série, em janeiro em 2003. A deterioração do mercado de trabalho teve impacto negativo na massa salarial, que caiu 4,7% em maio ante o mesmo mês de 2008.
As vendas reais, medidas pelo faturamento da indústria, cresceram 1,1% na comparação com abril, na série com ajuste sazonal, e tiveram uma queda de 7,7% em relação a maio de 2008. Já as horas trabalhadas, indicador mais diretamente ligado à produção, recuaram 0,5% em maio ante abril e 8,7% em relação a maio de 2008. No acumulado de janeiro a maio, o recuo das horas trabalhadas foi de 8% ante os cinco primeiros meses do ano passado, enquanto as vendas acumulam queda de 8,2% no mesmo período.
O economista-chefe da CNI, Flávio Castelo Branco, acredita que o ajuste mais forte nos estoques das empresas já ocorreu. Por isso, todo o aumento de demanda deve provocar reação da produção. Mas, segundo ele, a atividade industrial ainda se ressente da falta de dois vetores importantes para a recuperação: a alta das exportações e dos investimentos.
“Houve melhora na utilização da capacidade instalada, mas a queda nas exportações e a retração nos investimentos não foram revertidos. O aumento da capacidade instalada ocorrerá de forma moderada, seguindo a recuperação do consumo doméstico”, afirmou. O atual nível de ocupação ainda permite atender à demanda sem novos investimentos.
“As exportações ainda dependem da retomada da economia mundial, e a gente ainda não observa cenários muito claros de recuperação. O próprio ritmo de investimento reagirá num momento em que se usar mais a capacidade já instalada. Há espaço para aumentar a produção sem investimentos e, obviamente, as empresas, no curto prazo, não devem retomar seus projetos.”
Para Castelo Branco, setores de bens de capital e os que dependem mais do mercado externo devem ter recuperação mais lenta. Segundo ele, o segundo trimestre foi um período de transição para o crescimento industrial e, por isso, deve ser marcado pela alternância de dados positivos e negativos.