Queda da produção levou a demissões em massa, mas cenário começou a mudar em 2009
Fabrício de Castro
A queda do Produto Interno Bruto (PIB) por dois trimestres consecutivos, que colocou a economia brasileira em recessão (segundo critérios técnicos), traduziu-se em desemprego, queda do consumo e redução do crédito. Apenas nos últimos três meses de 2008, 634,4 mil vagas com carteira assinada foram fechadas no País.
“O desemprego foi a materialização da crise”, diz Manuel Enriquez Garcia, vice-presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP).
As demissões ocorridas principalmente em dezembro, quando o saldo de vagas formais despencou, também atingiu a massa salarial. Com menos dinheiro no bolso ou com medo de gastar, as famílias frearam o consumo. “As pessoas passaram a cortar bens do comércio em geral e a controlar os gastos”, explica Garcia.
A queda do crédito foi outro fator que levou a economia a desacelerar. Bancos e financeiras elevaram as exigências para liberar dinheiro para empresas e consumidores e, além disso, as taxas de juros aumentaram.
A boa notícia é que, ao que tudo indica, o Brasil começou a reagir já no início de 2009. A queda de 0,8% do PIB no primeiro trimestre – abaixo do que era esperado pelo mercado – sugere que a recessão pode ter vida curta. “O PIB caiu menos que o previsto e o fato de a recuperação já ocorrer agora é um bom sinal”, afirma o economista Heron do Carmo, da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo ele, as ações do governo de estímulo ao consumo e ao crédito ajudaram a reaquecer a economia. Desde o fim do ano passado, o governo vem anunciando a redução de tributos de bens de consumo duráveis – como carros e geladeiras – e a ampliação de linhas de crédito.
Além disso, os trabalhadores que perderam o emprego em dezembro e janeiro, e que atuavam em alguns dos setores mais atingidos pela crise, receberão duas parcelas extras do seguro desemprego. Ações como essa, além de reduzirem os impactos sociais da crise, permitem a injeção de recursos na economia.
Os resultados já são palpáveis. Em fevereiro, foram gerados 9,2 mil empregos com carteira assinada no País – ante um fechamento de 101,7 mil vagas em janeiro. Pelo último dado disponível do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, referente ao mês de abril, o saldo de novas vagas já foi de 106,2 mil.
“A crise atingiu seu ponto culminante em dezembro e janeiro. Mas já tivemos melhores resultados a partir de fevereiro”, confirma Garcia, do Corecon-SP.
Na avaliação do próprio governo federal, os resultados do primeiro trimestre já tornam maiores as chances de a economia, em 2009, atingir um crescimento próximo de 1%. Fonte do governo consultada pelo Jornal da Tarde afirma que há informações de que o PIB do segundo trimestre será positivo.
Nos próximos dias, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deve voltar a assumir o discurso de que o resultado do PIB é apenas um retrato do que ocorreu no início do ano e que a retomada já começou.
O EFEITO NA VIDA DO BRASILEIRO
4º TRI DE 2008
EMPREGO FORMAL
De outubro a dezembro, foram fechadas 634,4 mil vagas de emprego com carteira assinada em todo o País. Apenas no Estado de São Paulo, foram 272,1 mil empregos a menos
EFETIVAÇÃO
Trabalhadores que conseguiram empregos temporários no Natal também tiveram dificuldades. Dos 115 mil temporários em todo o País, 32 mil ficaram com a vaga em janeiro, queda de 10% em relação ao número de efetivados após o Natal do ano anterior
CONSUMO
Acuados pelo desemprego, os brasileiros passaram a gastar menos e a adiar compras. As despesas de consumo das famílias, nos últimos três meses de 2008, caíram 1,8% em relação ao trimestre anterior
CRÉDITO PARA PRODUÇÃO
As empresas foram diretamente atingidas pela crise. Em outubro, cerca de R$ 107 bilhões foram liberados para elas em forma de crédito. Em novembro, o volume caiu para R$ 96,1 bilhões. Resultado: queda na produção e demissões
CRÉDITO PARA CONSUMIDORES
Os brasileiros também tiveram mais dificuldades para conseguir dinheiro em bancos e financeiras. Além dos recursos ficarem escassos, os juros subiram. Em setembro, a taxa média no crédito pessoal era de 56,3% ao ano. Em dezembro, ela chegou a 60,4%
INFLAÇÃO
No Brasil, a inflação medida pelo IPCA já vinha se desacelerando desde meados de 2008. A crise econômica ajudou no processo, já que o consumo caiu. Em novembro, ela foi de 0,36% e, em dezembro, de 0,28%. Mas os produtos importados, que dependem do dólar, ficaram mais caros
1º TRI DE 2009
CONTRATAÇÕES
De janeiro a março, 57,8 mil vagas com carteira assinada foram fechadas – 4,5 mil no Estado de São Paulo. A recuperação começou em fevereiro, mas está longe de compensar as perdas com a crise
RECUPERAÇÃO DO CRÉDITO
Desde dezembro, as ações do governo federal e dos Estados para impulsionar o crédito vem surtindo efeito. Em março, R$ 100,9 bilhões foram liberados para as empresas – um volume maior que o do mesmo mês do ano passado, antes da crise se intensificar
RETORNO DOS EMPRÉSTIMOS
Os bancos voltaram a conceder crédito para pessoas físicas a taxas mais baixas. Em março, os juros do crédito pessoal chegaram a 50,8% ao ano – patamar mais baixo desde maio do ano passado
TEMPORÁRIOS
A efetivação de temporários após o período de Páscoa também caiu. Dos 60 mil brasileiros que atuaram na indústria e no comércio de chocolates, 5 mil ficaram com a vaga. Em 2008, foram 19,3 mil
RETOMADA DO CONSUMO
Passada a fase mais aguda da crise, as famílias aos poucos voltam às compras. As despesas de consumo, de janeiro a março, cresceram 1,8% em relação ao último trimestre do ano passado. A alta, que impediu uma queda maior do PIB no trimestre, ajuda a movimentar a economia