por Vitor Nuzzi, da RBA publicado 17/01/2019 14h19, última modificação 17/01/2019 18h20
São Paulo – Quem está no governo são os militares, disse hoje (17) o ex-ministro Gilberto Carvalho, durante evento realizado em São Paulo. “A força militar mais o sistema financeiro é que vão dar as cartas”, acrescentou, falando ainda em mudança de métodos – do movimento sindical e da esquerda – e de soma de forças. “Nós vamos ter de nos unir muito. O pior que a gente pode fazer agora é subestimar o que está acontecendo”, afirmou Carvalho, referindo-se a aspectos da atual gestão que, segundo ele, podem desviar a atenção para medidas que estão sendo e serão implementadas.
O fim do Ministério do Trabalho e a transferência do campo de registro sindical para o Ministério da Justiça – leia-se Sergio Moro – é, segundo o ex-ministro dos governos Lula e Dilma, prenúncio de “perseguição e criminalização” de entidades sindicais. “Foi justamente a criminalização que impediu que a gente ganhasse a eleição”, emendou, citando a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Carvalho também defendeu que os movimentos repensem estratégias de atuação. “Temos de rever os nossos métodos de trabalho”, comentou, sugerindo que o uso de folhetos e carros de som já não são eficazes como antes. “As nossas formas de comunicação têm de ser revolucionadas. Tenhamos coragem de rever os nossos métodos. Eu pertenço a um partido que tem de rever os seus métodos”, disse ainda o petista.
Mas ele também aposta em um desgaste do governo Bolsonaro. “Esse ídolo, se tem cabeça de ouro, tem pé de barro”, afirmou.
O ex-ministro esteve na abertura de exposição fotográfica sobre os 86 anos do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo (Força Sindical), no bairro da Liberdade, região central da capital. Dirigentes de várias centrais participaram, como o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, Paulo Cayres. Também estavam lá diversos representantes da antiga oposição metalúrgica paulistana.
O início da exposição, que vai até 15 de fevereiro, coincidiu com a data do assassinato do operário metalúrgico Manoel Fiel Filho, no DOI-Codi, em 1976. Há também referências a Santo Dias da Silva, morto durante um piquete em uma fábrica na greve de 1979.
“O ataque aos direitos dos trabalhadores foi brutal no ano passado. E tudo sinaliza que vai ser pior daqui pra frente”, afirmou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e da Força, Miguel Torres. Para ele, o objetivo do governo é “acabar” com o movimento sindical, o único que pode resistir de forma organizada aos ataques contra direitos sociais.
Vários oradores fizeram referência sobre a importância da memória para que a geração atual saiba que as conquistas são resultado de mobilização. Miguel citou dois exemplos histórias: a criação do 13º salário (inicialmente como “abono de Natal”), em 1962, e a redução, pelos metalúrgicos da jornada semanal de trabalho, de 48 para 44 horas, em 1985, três anos antes da Constituição.