Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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O governo se esqueceu do investimento


Entrevista – Julio Sérgio Gomes de Almeida: assessor econômico do Iedi; Para economista, faltaram redução de impostos para bens de capital e criação de incentivos para o investimento em geral

 

Marcelo Rehder

 

Para o assessor econômico do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, pior que o pífio desempenho da produção em março, só mesmo a queda no setor de bens de capital, que recuou 6,3%, em relação ao mês anterior, e despencou 23% na comparação com março de 2008. “O governo, que deu muito incentivo para bens de consumo duráveis, se esqueceu do investimento, que é mais importante”, diz o economista. A seguir, os principais trechos da entrevista.

 

A indústria mostrou leve recuperação em março na comparação com abril. O setor está saindo do poço ou ainda é cedo para fazer esse prognóstico?

 

Falar em sair do poço é pura fantasia. O crescimento da indústria, na margem, está cada vez menor. Já foi de 2,1% em janeiro, passou para 1,9% em fevereiro e em março foram míseros 0,7%. Não há recuperação nenhuma no horizonte da produção industrial.

 

O que os dados do IBGE trouxeram de relevante?

 

Do meu ponto de vista, eu relevaria dois indicadores fundamentais. Primeiro, que na média do primeiro trimestre a indústria produz quase 15% a menos do que no mesmo período do ano passado. Portanto, achar que há qualquer melhora me parece um contrassenso. O segundo é a produção de bens de capital, que tem um peso importante na indústria brasileira e representa um espelho do investimento que se faz no País. O dados apontam queda de 6,3% em março, que repete a megaqueda de fevereiro, que fora de 7,1%. Isso significa que esse setor está em queda livre e, seguramente, está em queda livre o investimento na economia brasileira. Para se ter uma ideia da gravidade da crise em bens capital, a produção correspondente ao mês de março foi equivalente a dois terços da produção de setembro do ano passado. Ou seja, a indústria de bens de capital perdeu em seis meses de crise um terço de sua produção.

 

E o que isso significa para a economia real?

 

É indício de que, se a economia brasileira tem acumulado de um lado vários fatores positivos nos últimos meses, nas áreas de emprego, comércio, balança comercial e inflação, na área do investimento a coisa vai muito mal. As variações do investimento, em qualquer lugar do mundo, costumam definir à frente as variações da renda e do emprego.

 

A retração dos investimentos não é normal numa crise?

 

O que eu acho é que o governo, que deu muito incentivo para bens de consumo duráveis, e eu acho que fez corretamente, se esqueceu do investimento, que é mais importante. O governo deveria ter reduzido igualmente os impostos na área de bens de capital, e instituído incentivos para o investimento em geral. Poderia, por exemplo, premiar quem investe, com descontos de impostos e depreciação acelerada. Como nas outras áreas em que o governo atuou, as medidas teriam caráter transitório, de um ou dois anos.

 

Foi erro de avaliação?

 

O governo descuidou do que estava tendo o maior colapso. A grande queda da indústria não foi tanto na área de bens duráveis, mas em bens de capital, onde o governo não atuou até agora. Ele ampliou os recursos do BNDES, mas só isso não basta, tem de haver incentivo para os investimentos serem feitos.