O aumento na taxa de desocupação ocorrida em março nas seis maiores regiões metropolitanas revelou que as empresas efetuaram demissões principalmente de profissionais com maior nível de escolaridade, com o objetivo de reduzir custos. A taxa de desocupação avançou 0,5 ponto percentual em março, na comparação com fevereiro, chegando a 9% e a um total de 2,082 milhões de desempregados – marcas que não se repetiam desde setembro de 2007. Desse total, 1,215 milhões de trabalhadores desocupados possuíam pelo menos o ensino médio completo. De acordo com relatório divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tal resultado indica que as empresas preferiram dispensar trabalhadores que ocupavam cargos de nível mais elevado como forma de reduzir mais rapidamente os gastos com folha de pagamento.
“Pode estar havendo uma reengenharia dos cargos de alta escala. É uma forma mais rápida de cortar custos e também mais populista, já que é muito mais difícil demitir 15 ou 20 do que uma pessoa”, avaliou o presidente do Instituto Brasileiro de Relações de Emprego e Salário (Ibret) e professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, Hélio Zylberstajn. Pelos dados do IBGE, o aumento na taxa de desocupação foi puxada pelo desemprego entre trabalhadores com oito a dez anos de estudo (cuja taxa ficou em 11,3%, ante 10,3% em fevereiro) e entre trabalhadores com mais de 11 anos de estudo (9,2%, ante 8,6% no mês anterior). Entre profissionais com menos de oito anos de estudos, a taxa ficou em 7,1%.
Na avaliação da economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, o processo de ajustes mais acentuado no setor industrial explica o desemprego mais expressivo nessa categoria de trabalhadores. “A indústria concentra a maior parcela desses profissionais”, observou. A taxa de ocupação da indústria teve queda de 1,5% em março (no total o setor emprega 3,4 milhões de trabalhadores). Também houve queda de 1% no setor de intermediação financeira (3,2 milhões de pessoas) e de 0,6% no comércio (4 milhões), ambos setores que também exigem maior grau de escolaridade, observou o economista da LCA Consultores, Fábio Romão.
De acordo com Romão, a taxa de ocupação com ajuste sazonal avançou 0,1 ponto percentual de fevereiro a março, para 8,4%. “Para abril a expectativa é que a taxa de desocupação fique em 9,5% e em 8,6% com ajuste sazonal, como resultado desse processo de ajustes no mercado de trabalho”, afirmou Romão. Ele associa parte da previsão ao aumento da entrada de pessoas no mercado de trabalho. Em março, o nível de ocupação manteve-se estável em relação a fevereiro, com 21 milhões de pessoas, e muito próximo do verificado em março do ano passado (20,8 milhões).
Na avaliação de Romão, parte desse ajuste também é resultado da decisão das empresas em não efetivar trabalhadores temporários nos níveis observados em 2008. Conforme o levantamento do IBGE, as empresas optaram por manter profissionais com mais tempo de casa. O tempo médio de permanência na empresa em março ficou em 153,8 semanas, 0,5 semana acima da média de fevereiro, mas 14,7 semanas a mais que a média apurada em setembro, antes do aprofundamento da crise econômica global. Para Zylberstajn, o aumento de contratações no setor público também ajuda a explicar o aumento do tempo médio de serviço.
O supervisor técnico das pesquisas de emprego e desemprego do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Sérgio Mendonça, considerou esse aumento como reflexo da perda de dinamismo no mercado de trabalho: as empresas estão abrindo menos vagas de trabalho, temporárias e efetivas, e o resultado é uma maior estagnação do trabalhador que se mantém empregado. Um dos efeitos, observou, foi o avanço na taxa de desocupação dos jovens de 16 a 24 anos, que atingiu 21,1% em março, ante taxa de 7,2% para pessoas de 24 a 49 anos e de 3,1% para maiores de 50 anos. “Houve uma perda de dinamismo principalmente na geração de postos de trabalho com carteira, que está muito ligado ao desempenho das indústrias. É preciso ficar atento em relação às indústrias. Quando terminar o ajuste na indústria, a taxa tenderá a se estabilizar”, afirmou.
Foi apontado pelos economistas como positivo o aumento na renda média – resultado associado sobretudo à inflação mais baixa. Conforme o IBGE, o rendimento médio real habitual dos trabalhadores (R$ 1.321,40) ficou estável ante fevereiro e subiu 5% em relação a março de 2008. A massa de rendimento real efetivo dos ocupados (R$ 27,4 bilhões) teve queda de 0,6% no mês e alta (5,4%) em relação a fevereiro de 2008.
Cálculo realizado pela Rosenberg apontou para os 12 meses até março, expansão de 7,1% na massa real de salários, 0,1 ponto percentual acima do acumulado em 12 meses até fevereiro. A contribuição da renda real, porém, acelerou, respondendo por 4 pontos percentuais no crescimento até março, ante 3,8% nos 12 meses até fevereiro. A LCA tem avaliação semelhante. “O INPC de 12 meses está em 5,9% e chegava a 7,2% em novembro. A inflação em declínio vai contribuir para amenizar o processo de desaceleração na massa de rendimentos que vai ocorrer nos próximos meses”, observou Romão, da LCA.