Com a melhora nas vendas, companhias antecipam o fim dos acordos de corte nas horas trabalhadas e no salário. Essas medidas haviam sido implementadas por causa da crise
LUCIELE VELLUTO, luciele.velluto@grupoestado.com.br
A economia tem mostrado sinais de recuperação para empresas que antes pediam acordos de redução de jornada e salário para não demitir ou trazer consequências mais sérias para o lado financeiro da companhia. Levantamento realizado pelo JT apurou que 17 empresas de um grupo de 29 que fizeram esse tipo de acordo suspenderam a medida antes de terminar o período de três meses previsto para a duração do acerto. E sem precisar demitir nenhum funcionário. Outras 12 ainda estão com o acordo em vigor e, dessas, duas devem precisar estender a medida por mais alguns meses.
As 17 empresas estão ligadas à cadeia automotiva, setor que depois de alguns meses de queda na produção, mostra uma recuperação nas vendas puxada, entre outras coisas, pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), concedido desde janeiro pelo governo federal. “O trimestre foi muito positivo para o setor de automóveis. Houve empresa que demitiu acima do necessário e agora tem que recontratar. Para quem está trabalhando para o mercado interno, acredito que a crise está passando”, afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre. A base da entidade já teve oito empresas que encerram ou suspenderam o acordo de redução de jornada e salário e voltaram a acelerar a produção.
No Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo já são três empresas que encerraram o acordo com o aumento dos pedidos nas linhas de produção. Segundo a entidade, no auge da crise para o setor metalúrgico, as buscas por um acordo para tentar salvar as operações das companhias eram diárias. Hoje, a procura é rara.
Em Osasco, também não foram feitos mais acordos. Contudo, ainda há empresas ligadas ao setor de exportação ou outras áreas da metalurgia fora da cadeia automotiva que ainda estão sob impacto da crise. “O que percebemos é que parou de piorar. Talvez seja um momento de estabilidade para alguns, ruim ainda para outros. O que sabemos é que abril será interessante quanto aos seus indicadores que mostraram se haverá realmente uma recuperação de todo o setor industrial”, afirma Jorge Nazareno, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco.
A Valeo, fabricante de faróis e lanternas para a indústria automobilística, por exemplo, interrompeu na semana passada o acordo de redução de jornada de trabalho e de 15% nos salários iniciado em fevereiro e previsto para durar até o dia 30 deste mês. A empresa cancelou a jornada reduzida porque a demanda das montadoras em março e a programação de pedidos para o mês subiram.
“Dezembro foi trágico. Agora já houve uma reação e temos um novo patamar de produção”, afirma Carlos Luiz Gazola, diretor administrativo e financeiro da Proxyon, que produz peças e conjuntos de aço e alumínio para a indústria automobilística.
Com queda de 60% no faturamento em dezembro, a empresa decidiu reduzir em um dia por semana a jornada de trabalho dos 220 funcionários que aceitaram um corte de 14% nos salários. Com a melhora nos pedidos, a empresa suspendeu o acordo antes do previsto, que era 28 de março. “O faturamento não voltou ao nível normal e está 30% abaixo do ano passado”, diz. Mas pelo volume de pedidos já sinalizado pela indústria até agosto, a empresa optou por retomar a produção.
Colaborou Márcia De Chiara
Mercedes abre PDV e dá licença a 1,2 mil trabalhadores
A montadora Mercedes-Benz concede, a partir de hoje até 3 de maio, licença remunerada para cerca de 1,2 mil empregados da produção de caminhões e chassis de ônibus, da fábrica de São Bernardo do Campo. A empresa também iniciou na segunda-feira um programa de demissão voluntária (PDV) na mesma unidade, que vai até 15 de maio. Segundo a montadora, o motivo é a queda de 50% nas exportações de veículos comerciais.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC informou que o PDV foi aceito pela entidade. O plano prevê o pagamento de quatro salários adicionais e manutenção de três meses de plano médico, entre outros benefícios. O PDV também é direcionado aos funcionários horistas da produção. Não há uma previsão de quantos devem aderir. Este é o segundo PDV aberto pela empresa neste ano. Em março, cerca de 290 empregados aderiram ao programa.
A unidade de São Bernardo tem mais de 12 mil trabalhadores. A Mercedes alega que as medidas são necessárias por conta da redução da demanda. A montadora pretende adequar o volume de produção à realidade do mercado. O sindicato reconhece que a fábrica sofre impacto da queda de produção e venda de ônibus e caminhões e, principalmente, das exportações, problema que atinge também as áreas de eixo, câmbio e motor, agregados que a fábrica exporta.