Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Retomada: indústria automobilística do País acelera em plena crise

As 250 vagas fechadas no começo de abril pela PSA Peugeot Citroen, em Porto Real, Rio de Janeiro, devem ser reabertas até setembro. Esta é a aposta de sindicalistas, que já vislumbram no horizonte indícios de que a crise do setor automobilístico tenha alcançado o ponto de inflexão.

“A Peugeot nega, mas sabemos que está tendo mais hora extra, porque diminuiu o pessoal e o ritmo da produção é o mesmo. Não tem milagre, foram 250 demitidos. Mas até setembro estas vagas serão retomadas. Todas as empresas que demitiram vão ter que readmitir”, analisa Jadir Batista de Araújo, membro da direção da CUT-RJ e da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM).

Segundo ele, a perspectiva de melhoria do mercado de trabalho já é compartilhada em inúmeros chãos de fábricas ligados ao setor na região de Resende, cidade vizinha à Porto Real.

“Terminamos março como o melhor mês de março da história das montadoras que estão buscando em casa os trabalhadores que estavam de licença. Algumas empresas estão contratando e outras recorrendo às horas-extras. Neste momento, tudo indica que há um processo de estabilização e retomada de crescimento”, afirma José Lopes Feijóo, membro da executiva nacional da CUT.

As vendas de veículos em março cresceram 36% na comparação com fevereiro, pelos dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Nos Estados Unidos, em março, houve queda de 37% nas vendas em um declínio que já soma 17 meses consecutivos.

Para a PSA Peugeot Citroen, que emprega 3 mil pessoas, o reaquecimento do mercado é um fato, mas a retração do mercado externo – destino de 40% dos motores e 20% dos veículos produzidos pela empresa no Brasil – ainda impede expectativas mais otimistas.

Expansão sustentável

No primeiro bimestre, as exportações de veículos caíram 30% e de motores, 78%. “Estamos com dois turnos reforçados, vamos conseguir um volume de produção pouco maior que 100 mil veículos anuais”.

E segue: “O mercado interno está voltando a aquecer, mas também exportávamos muito. Por enquanto, evitamos falar sobre futuro”, afirma Rogério Louro, gerente de comunicação da PSA Peugeot Citroen. Com três turnos, a empresa colocava no mercado até 150 mil carros a cada ano.

A montadora nega as horas extras e afirma que o que ocorre são flexibilizações, um tipo de compensação nos horários de trabalhadores cujos setores enfrentam gargalos logísticos. No início de abril, a Peugeot incorporou 450 trabalhadores que estavam em férias coletivas – e pertenciam ao extinto terceiro turno – aos dois turnos diários.

Segundo o Dieese, entre o reaquecimento e a abertura de vagas sempre há um intervalo, no qual a empresa procura avaliar se a expansão é sustentável. “O setor automobilístico já tem um nível de atividade bastante positivo, com clara recuperação que se estende às empresas de autopeças e nestes casos, a abertura de novas vagas costuma acontecer em poucos meses”, explica Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese.

Mercado interno

As previsões dos metalúrgicos vêm na contramão das expectativas negativas da Anfavea – cujas previsões são de queda de 4% nas vendas e 11% na produção para 2009. Para eles, as fábricas cariocas estão ganhando embalo, na esteira da retomada mais vigorosa da produção detectada no ABC paulista.

Na região, onde o presidente Luis Inácio Lula da Silva apareceu como líder do Sindicato dos Metalúrgicos, várias empresas de autopeças suspenderam acordos para redução da jornada de trabalho e a Volkswagen já está trabalhando em regime de hora-extra aos sábados desde meados de janeiro.

Segundo Sérgio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o mercado interno tem potencial e, se devidamente estimulado, responde. Para ele, as empresas do setor de automóveis e autopeças tendem a repetir o ótimo desempenho de 2008.

A retomada do setor é fruto direto do empurrão dado pela redução do IPI – que baixa o preço dos automóveis em cerca de 10% -, prorrogada até junho. A “bondade” do governo aqueceu o mercado de tal forma que analistas apostam que o benefício seja renovado até dezembro. “O setor automobilístico está andando e puxa uma enorme cadeia produtiva”, diz Feijóo. (Fonte: Jornal do Brasil)