Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Retomada das montadoras anima indústria



Setores como siderúrgico, plástico e tintas recuperam parte da atividade puxados por venda de veículos após corte de imposto

Mas analistas dizem que patamar da indústria ainda está baixo na comparação com 2008 e citam queda nos investimentos do setor

DA REPORTAGEM LOCAL

DA SUCURSAL DO RIO

O princípio de retomada na produção da indústria automotiva, propiciada pelo corte do IPI sobre os veículos, já começa a ocupar parte da ociosidade de segmentos que enfrentaram quedas com a crise.

Embora analistas considerem ser ainda cedo para dizer que o setor automotivo poderá garantir o crescimento da produção industrial, segmentos como o siderúrgico, o de plásticos, o de tintas e o de tecidos já sentem aumento na atividade.

Em março, a produção das montadoras cresceu 15,9% sobre fevereiro, considerando as médias diárias, com a fabricação de 272.371 veículos, segundo a Anfavea (associação das montadoras). “Temos uma perspectiva muito boa de vendas no mercado interno”, disse o presidente da entidade, Jackson Schneider. Segundo ele, com a prorrogação do corte do IPI, que de dezembro a junho deve custar R$ 2,5 bilhões ao governo federal, o nível de vendas no primeiro semestre deve se igualar ao do ano passado.

A reação rápida das vendas de carros -que no mês passado cresceram 17,6% em relação a fevereiro na média diária- já provoca até um certo estresse na cadeia automotiva. “As encomendas aumentaram abruptamente. De uma hora para outra, a cadeia precisou ser reativada às pressas”, disse Sergio Pin, vice-presidente da Schaeffler, fabricante de autopeças.

A indústria siderúrgica, que trabalha com queda de até 10% na produção de aço bruto neste ano, também viu os pedidos voltarem, segundo Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente do IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia). Por enquanto, as siderúrgicas encaram com cautela a retomada das montadoras, embora a considerem positiva para o mercado.

Impacto instantâneo foi sentido pelos fornecedores de tintas automotivas. “A recuperação foi imediata. Como as montadoras não trabalham com estoques, a volta da produção em ritmo mais acelerado já ativou nossa indústria”, disse Dilson Ferreira, presidente-executivo da Abrafati (associação dos fabricantes de tintas). As montadoras absorvem 7% das vendas totais do produto.

Merheg Cachum, presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), também afirmou que os sinais vindos das montadoras levaram a um incremento da atividade. “Quem trabalha para as montadoras retomou a produção, cancelou férias coletivas e tem uma boa perspectiva”, disse Cachum. Ele admite que o ânimo na indústria retornou após meses de baixa demanda, como janeiro e fevereiro.

Apesar da recuperação da indústria automotiva e de seus ecos na cadeia produtiva, analistas ainda mostram ceticismo em relação à produção industrial em março.

Para Braulio Borges, economista da LCA, os dados da Anfavea sinalizam que a indústria está “cada vez mais longe do fundo do poço”, atingido em dezembro -quando a produção industrial caiu 12,7% ante novembro.

“Os números trazem um certo otimismo, pois mostram, pelo menos, que a indústria parou de afundar. Ainda assim, opera ainda num patamar de produção bastante deprimido se comparado com o do ano passado”, diz Borges.

Para Sérgio Vale, da MB Associados, a indústria ainda demonstra fragilidade, com o agravante da queda mais intensa nos investimentos em fevereiro. “É certo que a indústria automobilística é uma parte importante, mas não podemos esquecer que agora começou a aparecer a outra ponta, a de investimentos, puxando a produção industrial para baixo.”

(PAULO DE ARAUJO, AGNALDO BRITO E PEDRO SOARES)