Fernanda Guimarães
SÃO PAULO – A busca pela proximidade com o cliente do aço se acirrou neste começo de ano e deve trazer novos players ao embate. Com a ampliação do braço da Usiminas na área de distribuição, depois da aquisição da maior distribuidora independente do País, a Zamprogna – que expandiu a participação das coligadas das siderúrgicas para quase 50% do total da distribuição do País – a queda de braço para a conquista de pequenos e médios consumidores deve crescer, principalmente em um momento em que o ciclo de crescimento da indústria siderúrgica se encerrou e a retração da demanda neste ano é aguardada.
A siderúrgica ArcelorMittal, que já trabalha com distribuição, deve se movimentar neste ano, acreditam analistas. “A Arcelor já se mostrou bastante preocupada com a distribuição. Ano passado ela investiu e ampliou sua participação neste segmento “, afirmou o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Christiano da Cunha Freire. Com a compra da Zamprogna, no entanto, Freire lembra que a participação da Usiminas na distribuição brasileira ficou “muito superior ao da Arcelor”.
Comprovando o interesse em ampliar a prestação de serviços, o presidente da Usiminas, Marco Antônio Castello Branco, afirmou na semana passada, que o objetivo da siderúrgica é oferecer todos os serviços ao cliente do aço. E também ampliar a distribuição da Zamprogna.
A distribuidora, situada no Rio Grande de Sul, era compradora do aço na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). “Com a compra, a Usiminas pegou um mercado que antes era da CSN”, afirmou o analista da área de siderurgia da Link Investimentos, Leonardo Alves.
O analista salienta que o momento também é propício para as aquisições por parte das usinas, já que diante da queda da demanda por aço e da compressão da clientela, os preços para aquisição das distribuidoras devem cair. “Esse contato com o consumidor final é importante e pode dar maior capacidade de alteração do preço do aço”, afirmou Alves. Ele lembrou, ainda, que aumentar a participação na distribuição pode ser importante em período de crise para a melhoria das margens da empresa. “Esse tipo de aquisição pode ser estratégica”, disse Leonardo Alves.
O presidente do Inda, por outro lado, não acredita que as coligadas apresentem preços muito mais baixos a seus clientes do que as distribuidoras independentes. “Como elas iriam se explicar, aos acionistas, que compraram uma empresa para dar descontos? Isso pode acabar com o valor da companhia”, questiona-se Christiano da Cunha Freire.
Sentimento oposto é o do diretor da distribuidora de aço Dova, Marcelo Bock. Ele acredita que a grande participação dos coligadas no mercado de distribuição e a tendência do número crescer ainda mais é um fator prejudicial aos distribuidores independentes.
“O mercado está trabalhando com uma demanda bastante reduzida. O cliente vai procurar melhores preços e os melhores preços na maioria das vezes estão nas coligadas”, disse.
O empresário afirmou que o enfoque da companhia acaba ficando em vendas menores, quando tenta agilizar o processo, trazendo algum diferencial ao seu cliente.
“Temos que desenvolver serviços personalizados para continuar com nossos clientes”, disse Bock.
Estoques
Os estoques dos distribuidores de aço no País devem se normalizar no próximo mês, de acordo com projeções do Inda. O presidente da entidade lembrou que os distribuidores do País fecharam 2008 com estoque de 930 mil toneladas. Já os dados preliminares mostram que o mês de fevereiro registrou estoques de 800 mil toneladas, sendo o ideal por volta de 700 mil.
A expectativa do Instituto é que a partir do segundo trimestre as compras comecem a fluir com um pouco mais de normalidade. Hoje, segundo Christiano Freire, as vendas estão cerca de 40% abaixo do normal. Em abril, a expectativa é que as compras cresçam cerca de 30% ante o período anterior.