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DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O faturamento da indústria em janeiro sofreu a maior queda em pelo menos seis anos e dificilmente fechará 2009 no azul, segundo avaliação feita pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).
Nas contas da entidade, a receita obtida com as vendas realizadas no primeiro mês do ano foi 13,4% menor do que a observada em janeiro de 2008. Foi a maior retração já registrada desde que o levantamento começou a ser feito, em 2003.
Embora parte desse movimento possa ser atribuída aos fortes resultados alcançados no ano passado, quando a economia crescia num ritmo bem mais forte, a principal causa da desaceleração, segundo a CNI, é o agravamento da crise.
Tanto que, mesmo quando comparado com dezembro, o faturamento obtido pela indústria em janeiro registrou recuo de 4,3% -já descontado o efeito da inflação e de fatores sazonais.
Para o gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, ainda é cedo para dizer com certeza se o resultado de janeiro do setor indica uma tendência a ser seguida nos próximos meses.
Mas ele ressaltou que, para que as vendas da indústria não encerrem o ano de 2009 em queda, é preciso que ocorra um crescimento de 12% até o final do ano. “Acredito que dificilmente isso aconteça”, disse.
PIB “próximo de zero”
Com isso, a CNI, que em dezembro projetava um crescimento de até 2,4% para o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano, deve revisar a estimativa para baixo. “A economia deve crescer muito pouco neste ano, algo próximo de zero.”
Na sexta-feira passada, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) já havia divulgado um levantamento que mostrava queda de 17% na produção industrial em janeiro, na comparação com janeiro de 2008. O resultado ficou abaixo do esperado por analistas do setor privado.
Em tese, a indústria pode estar apenas dando uma pausa na sua produção enquanto se livra dos altos estoques acumulados nos meses pré-crise, de intensa atividade.
Como as vendas também dão sinais de queda, porém, é possível que a desova dos estoques não esteja acontecendo numa velocidade muito alta, o que significaria um prolongamento desse período de estagnação do setor.
Números da CNI também mostram que o nível do emprego no setor caiu pelo terceiro mês seguido em janeiro, quando comparado com dezembro.
Por outro lado, essa queda foi mais suave, de 0,7%. Já o nível de utilização da capacidade instalada recuou para 78,4%, o mais baixo desde novembro de 2003.
Para Castelo Branco, o recuo nesse indicador mostra que o Banco Central tem espaço para intensificar a redução dos juros.
“Atualmente existe mais risco de crescimento negativo do que de inflação”, disse ele. O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) se reúne hoje e amanhã para discutir se mexe na taxa Selic, hoje em 12,75% ao ano.
Mesmo com produção maior, emprego cai nas montadoras
Com reação do mercado interno, produção de veículos cresce 9,2% em fevereiro
No mês passado, o setor registrou o fechamento de 1.800 postos; desde outubro, 7.800 perderam o emprego nas montadoras
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A produção da indústria automotiva aumentou 9,2% em fevereiro ante janeiro, puxada pelo reaquecimento do mercado interno de veículos, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Algumas montadoras já anunciaram medidas para produzir mais também neste mês. A Renault, por exemplo, decidiu reconvocar para o trabalho metade dos funcionários cujos contratos estavam suspensos. Já a Volkswagen chamou parte de seu efetivo para turno extra no sábado.
O nível de emprego, porém, diminuiu. Foram perdidas 1.800 vagas no mês passado no setor. Desde outubro, houve fechamento de 7.800 postos. As montadoras empregam 123.948 pessoas.
Segundo o presidente da Anfavea, Jackson Schneider, os desligamentos se relacionam a programas de demissão voluntária ou a processos administrativos nas empresas.
Embora tenha aumentado na ponta, a produção das montadoras caiu 20,6% na comparação com fevereiro de 2008 e 24,1% no primeiro bimestre.
Schneider diz que, além de medida de ajuste de estoques, a queda explica-se pelo declínio das exportações -as vendas externas tiveram retração de 52,3% em relação a fevereiro de 2008, como resultado da crise.
“Os nossos principais mercados passam por uma queda contundente, sem exceção”, disse Schneider. Na Argentina, principal mercado, as vendas caíram 68% em janeiro; no México, 60%; no Chile, 80% e na União Europeia, 18%.
Com a queda brusca na produção, os estoques -que chegaram a 305 mil veículos em novembro- já estão normalizados. Ao fechar o mês passado, o setor contava com 181.507 veículos nos pátios, quantidade suficiente para abastecer o mercado por 27 dias.
IPI
Sem a redução do IPI e a retomada do crédito no setor automotivo, as montadoras teriam vendido entre 15% e 20% menos veículos do que venderam no primeiro bimestre, na estimativa de Schneider. Seriam até 80 mil carros a menos.
“Vimos que essa foi uma medida acertada. As vendas caíam semana a semana desde setembro, mas agora se recuperam.”
Nos dois primeiros meses do ano, foram licenciados 381.047 automóveis, contra 396.498 em igual período do ano passado, redução de 3,9%.
Mas, considerando-se apenas o mês de fevereiro, as vendas se recuperaram, com acréscimo de 0,9% sobre a janeiro e 0,1% ante fevereiro de 2008.
Na semana passada, a Folha revelou que o governo pretende estender o IPI reduzido por mais três meses, até o final de junho. O benefício estava previsto para vigorar até 31 de março. Schneider, porém, não quis comentar, já que, segundo ele, a Anfavea não recebeu ainda uma sinalização oficial.
Sindicato recusa ajuda de custo a demitidos da Embraer
MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS
Terminou ontem sem acordo a reunião em que a Embraer ofereceu aos sindicatos o pagamento de R$ 1.600 a mais para cada um dos 4.200 funcionários demitidos da empresa no dia 19 de fevereiro. O valor seria pago na rescisão contratual.
A reunião foi realizada à tarde no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 15ª Região, em Campinas (93 km de SP). Na semana passada, a primeira audiência de conciliação também terminou sem acordo. Na ocasião, a liminar que suspende as demissões foi prorrogada até sexta-feira desta semana.
A Embraer manteve a proposta de pagar o plano de saúde de todos os demitidos e de seus familiares até o fim do ano. Outra proposta foi a de pagar quinquênio (um salário a mais) a todos os demitidos, mas os sindicatos afirmaram essa proposta está no acordo de dissídio coletivo.
Os sindicatos mantiveram a proposta de reintegração de todos os demitidos. A Embraer já recorreu contra a liminar decidida pelo TRT, no dia 26 de fevereiro, que suspendeu as demissões.