BRENO COSTA
DA AGÊNCIA FOLHA
A demissão coletiva de 4.270 funcionários pela Embraer no mês passado foi provocada, em parte, pela necessidade de cobrir prejuízos registrados pela empresa no segundo semestre do ano passado em decorrência do uso de derivativos -mecanismo de mercado usado pela empresa para se proteger de variações cambiais em seus negócios por meio da fixação do valor do dólar em datas futuras.
Essa é a conclusão do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) após avaliação de informações apresentadas pela empresa ao mercado de capitais.
O diretor-executivo da entidade, Edmir Marcolino, chama as operações de “especulação” e diz que essa será uma das principais linhas de argumentação da entidade na audiência de conciliação marcada para hoje no processo de dissídio coletivo em curso no TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 15ª Região, em Campinas.
Até ontem à noite, dois economistas se debruçavam na produção de um relatório a ser apresentado na audiência com números sobre a Embraer.
Na audiência, a empresa terá que apresentar justificativas técnicas para as demissões. Na semana passada, o TRT deferiu liminar determinando a suspensão das demissões até a reunião de hoje, pelo menos.
No terceiro trimestre de 2008 (o balanço anual sai no dia 26), a Embraer registrou perdas de R$ 366,8 milhões decorrentes de variações monetárias e cambiais, contra um ganho de R$ 185,6 milhões acumulado no primeiro semestre.
Daquele valor, ainda segundo o relatório, 48,5% foram decorrentes de perdas com as previsões sobre o valor do dólar. A empresa apostou no real forte, mas no terceiro trimestre de 2008 a moeda americana chegou a se valorizar em 21%.
As perdas com os derivativos, segundo relatório da própria Embraer, foi determinante para o prejuízo de R$ 48,4 milhões naquele trimestre -o primeiro resultado negativo da empresa em 11 anos.
O prejuízo, ao mesmo tempo, foi acompanhado por um resultado positivo na produção (o saldo entre o valor dos produtos vendidos e o custo de produção). O resultado do trimestre foi 56% superior à média dos dois trimestres anteriores e 26% maior que o verificado no mesmo período de 2007.
Procurada ontem, a empresa reafirmou o teor de comunicado divulgado em fevereiro, no qual atribui os cortes à redução no número de entregas de aviões. O sindicato argumenta que, apesar de ter havido uma redução na previsão de entrega de aviões para 2009 (de 270 para 242 aeronaves), o número ainda é maior que o de entregas do ano passado (204). A comparação, contudo, não leva em conta o porte das aeronaves.