Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Autopeças reduz jornada de mais 3,6 mil em SP

Cibelle Bouças, de São Paulo

Leonardo José de Araújo é metalúrgico e trabalha há 22 anos na empresa brasileira de autopeças Sabó. Funcionário da área de produção da fábrica da Lapa, na capital paulista, Araújo foi um dos cerca de 1.600 empregados da empresa, que na tarde de quinta-feira estenderam os braços e aprovaram com unanimidade a proposta de redução da jornada com redução de salário negociada entre a empresa e o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e o Sindicato dos Borracheiros do Estado de São Paulo. “A situação está muito difícil. E se a gente sair daqui, como vai arrumar outro emprego? Não tem emprego”, disse ele.

Araújo afirma já ter passado por momentos difíceis na firma, mas é a primeira vez que a Sabó sugere redução de jornada e de salário. Pai de dois filhos, um de dez e outro de cinco anos, o metalúrgico já decidiu o que fazer para ´segurar as pontas´ nos meses em que terá o salário reduzido. “Agora só vou comprar o necessário. Nada de bolachas. E vou economizar água e energia. Banho e televisão é rapidinho.”

Já Regiane Aparecida dos Santos, que trabalha no setor de qualidade e está há seis anos na Sabó, tem um filho de dois anos, que ainda usa fraldas. “Não tenho como economizar em alimento, fralda. Vou ter que abrir mão de coisas para mim para não faltar nada para ele”, disse. Regiane afirmou ter tomado a decisão influenciada pela demissão em novembro de cerca de 500 empregados da Sabó da unidade de Mogi Mirim. “Eles [os demitidos] ainda não estão recebendo. A gente vai ter seis meses de estabilidade, mas e depois?”, questionou, dizendo que há alguns meses a produção caiu pela metade.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Borracheiros de São Paulo, Terezinho Martins, a empresa informou que demitiria mais 500 funcionários se não houvesse acordo. A proposta inicial oferecida pela empresa era de redução de 20% na jornada e nos salários. Foi aprovada, porém a redução da jornada em um dia por semana, com fim da jornada aos sábados e redução do salário em 12% por 90 dias. O prazo pode ser reduzido se houver melhora na situação da empresa. Funcionários que ganham o piso (R$ 703 para borracheiros e R$ 920 para metalúrgicos) terão apenas redução na jornada. A empresa oferece estabilidade, após a fase de salários reduzidos, equivalente ao tempo que durar a medida (até 90 dias). “A proposta é boa. Vamos ajudar a empresa e segurar o emprego”, comentou Arnaldo Pires Damazio, empregado da Sabó há nove anos. Ele observou que a empresa já havia dado férias coletivas, cortado horas extras, terminado com a assistência médica e odontológica gratuitas e cortado o ônibus fretado das 7h e das 17 horas.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, afirmou que o balanço mensal fornecido pela empresa ao sindicato apontava queda na produção que justificava o acordo. A documentação agora será encaminhada à Delegacia Regional do Trabalho com a assinatura dos funcionários que aprovaram a decisão – a assembléia com o turno da noite seria feita às 22 horas. Procurada, a empresa informou que não se pronunciaria sobre o acordo. A Sabó é a maior empresa de autopeças de capital nacional, com cerca de 3 mil funcionários. Em outubro, a empresa inaugurou uma fábrica na China. Aproximadamente 60% da receita da empresa é gerada no mercado externo.

Outra empresa de autopeças fechou acordo ontem foi a MWM Motores, que mantém 2 mil funcionários em São Paulo. Os metalúrgicos dos turnos da manhã e da tarde aprovaram por unanimidade a proposta de redução da jornada de trabalho em 20% e de redução dos salários em 17,5%, a partir de fevereiro. A medida vale por 90 dias e garante estabilidade no emprego até 45 dias após o final do período de redução. Segundo Torres, a empresa apresentou queda de aproximadamente 40% no nível de produção. A empresa informou que não daria entrevistas até a aprovação pelos funcionários do turno da noite. A MWM Motores possui 2,8 mil funcionários em São Paulo, Rio Grande do Sul e Argentina. No Rio Grande do Sul, a empresa também negocia acordo.

Na sexta-feira, o sindicato realiza assembléia na empresa de autopeças Samot, para deliberar sobre a proposta de redução de jornada e salário, que vai atingir 600 metalúrgicos em São Paulo. A proposta a ser votada foi mantida em sigilo.

A Vale fechou acordo com sete sindicatos de licença remunerada, com pagamento de 50% do salário, até o dia 31 de maio. A empresa não definiu o número de empregados que entrarão na licença, mas os sindicatos que aderiram representam 17 mil funcionários, sendo 5 mil em Belo Horizonte, 4,5 mil em Mariana (MG), 1 mil em Brumadinho (MG), 600 no restante de Minas, 400 em Corumbá (MS), 4,5 mil em Carajás (PA) e 1 mil de Paragominas e Ourilândia do Norte (PA). A Vale aguarda resposta para a situação de outros 4,5 mil funcionários, sendo 2,5 mil de Itabira e 2 mil de Inconfidentes (MG).