Vera Saavedra Durão, do Rio
Dirigentes de sindicatos de trabalhadores da Vale, que somam 24 em todo o país, se reuniram com José Drummond, da CUT Multi, um braço da Central Única dos Trabalhadores que promove a criação de redes internacionais de trabalhadores de multinacionais brasileiras. A idéia é articular um movimento que congregue todos os trabalhadores da mineradora no Brasil e nos 30 países onde ela atua contra novas demissões e em defesa dos direitos trabalhistas de seus 60 mil empregados.
A reunião ocorreu após dois dias de reunião dos sindicalistas, na quinta e sexta-feira da semana passada. A agenda de trabalho desses líderes sindicais inclui uma mobilização de funcionários nacionais e internacionais da Vale no dia 11 de fevereiro, em frente à sede da mineradora no Rio, para protestar contra as demissões e contra a flexibilização das leis trabalhistas defendida pelo presidente executivo da companhia, Roger Agnelli, informou Paulo Soares, do Metal Base, sindicato que congrega 4 mil mineiros da região de Itabira e outros municípios onde a Vale tem minas, em Minas Gerais.
Hoje, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e governadores dos Estados e prefeitos dos quase 500 municípios onde a Vale atua devem receber uma carta dos empregados da companhia convocando-os a lutar contra o desemprego. “A Vale já demitiu 15 mil trabalhadores terceirizados ligados diretamente à produção de minério e mais de 2 mil diretos. Não acreditamos nos números da Vale. Nós fizemos as contas dos desempregados e conhecemos bem esses números, pois somos nós que homologamos as demissões”, disse Soares, vinculado ao PSTU, uma dissidência à esquerda do PT.
A mensagem que os trabalhadores pretendem passar às autoridades é que os problemas da Vale são como uma questão de Estado, pois ela é a maior empresa privada nacional, que dizia estar pronta para enfrentar a crise e foi uma das primeiras a demitir. “Não vamos aceitar flexibilizar nossos direitos. Como pode a Vale falar em flexibilizar nossos direitos se ela vai encerrar 2008 com um lucro de no mínimo R$ 24 bilhões?”, indaga Soares.
Outra preocupação dos empregados da Vale é com o pagamento da Parcela de Lucros e resultados (PLR), que deve ser feito em 15 de fevereiro. Pelo acordo feito entre a companhia e os trabalhadores, com vigência de um ano, os empregados deveriam receber um PLR de 4,7 salários. Ou seja, se o empregado ganha R$ 1 mil, ele recebe R$ 4.700 de PLR. “Estamos sujeitos a receber menos que isso. A Vale está querendo pagar um PLR de 1,5 a 2,0 e no máximo 2,5 salários. Logo no ano que ela terá novamente lucro recorde, sem falar no caixa da empresa de US$ 15 bilhões. Isso vai criar mais uma briga com a gente”, disse o sindicalista.
Soares (suplente) e João Batista Cavalieri (titular), duas lideranças dos trabalhadores da Vale que ocupam a 11ª cadeira do conselho de administração da mineradora, estão marcando uma reunião com os principais acionistas da Vale, a Previ, fundação dos funcionários do Banco do Brasil que controla a Valepar e o BNDES, para falar sobre a atitude “negativa” da Vale em relação a seus empregados, apesar de receber recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Segundo Soares, a folha de pagamento da Vale soma R$ 1,2 bilhão no mundo inteiro, um valor mínimo em relação ao que a companhia lucra.
Os diretores de Recursos Humanos da Vale, como a diretora-executiva Carla Grasso, Marcos Dalposo, e Roberto Ruy, da área internacional de RH da empresa, não compareceram à reunião dos trabalhadores. “Estamos tentando marcar um encontro com eles. Tiramos um documento desta reunião e queremos conversar. A empresa está calada e só tem desmentido o que a gente fala. Divulgou que vai criar 10 mil empregos até 2011. Nunca vi falar em criar 10 mil empregos com 5.050 trabalhadores em férias coletivas. A Vale está preparando uma nova leva para entrar em férias coletivas e fala em criar novos empregos. Queremos saber é do presente. Não somos culpados pela crise e não queremos ser bodes expiatórios. Vamos nos defender”, disse Soares.