Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Força adia acordo com Fiesp


Centrais pressionarão governos federal e de SP por redução de tributos para evitar demissões

Lino Rodrigues e Bruno Villas Bôas

SÃO PAULO e RIO

A Força Sindical anunciou ontem que suspendeu por dez dias as negociações com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para a redução da jornada de trabalho e de salários, como forma de evitar demissões em massa. Em reunião com outras quatro centrais – CGTB, CTB, UGT e Nova Central -, sem a presença da CUT, o presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, afirmou que os sindicalistas querem se reunir primeiro com o governo para pressionar pela adoção de medidas como a redução dos juros e de tributos. Foi marcada para a próxima segunda-feira uma reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e todas as centrais sindicais, que representam juntas 34 milhões de trabalhadores.

– São medidas que o governo tem de tomar já. Se conseguirmos que o governo tome essas medidas, talvez não seja necessário fazer essas concessões que os trabalhadores já começam a fazer – disse Paulinho.

Na terça-feira, a Força tomou a iniciativa de negociar com representantes da indústria, do comércio e da agricultura de São Paulo um acordo que previa a redução de salários em troca da garantia no emprego. A medida valeria enquanto durassem os efeitos da crise financeira global.

Ontem, Paulinho admitiu que o recuo nas negociações com os empresários ocorreu porque não houve consenso entre os próprios sindicalistas, sobretudo com respeito ao corte de salários sem a contrapartida da garantia no emprego pelas empresas. A proposta da Força tinha a oposição da CUT, a maior central do país, que considera que Paulinho “foi com muita sede ao pote” e teria caído na “agenda negativa” do presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

– A decisão de suspender as negociações vai ao encontro do que a CUT vem defendendo, que é envolver os governos e exigir a contrapartida social das empresas que se beneficiarem com isenção fiscal – disse o presidente da CUT, Arthur Henrique.

Segundo Henrique – que se reúne hoje com o Simpi (sindicato das micro e pequenas indústrias paulistas) para formar uma proposta para o setor, que reúne mais de 250 mil empresas e um milhão de empregos – a proposta da Força, além de não resolver o problema das demissões em massa, seria um “tiro no pé de quem quer apresentar uma saída para a crise”.

No Rio, entidades receitam cautela

Nos próximos dez dias, os sindicalistas de Força e demais centrais pretendem pressionar os governos federal e de São Paulo, exigindo a redução de impostos e de spreads e juros bancários. Até a proposta de corte da contribuição previdenciária das empresas de 20% para 14%, rechaçada há algumas semanas pelas centrais, passou a integrar a pauta que será apresentada ao presidente Lula.

Na reunião dos sindicalistas, Paulinho criticou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que isentou o IPI dos carros populares sem exigir das montadoras a garantia de emprego dos trabalhadores. O sindicalista citou como exemplo o governo de Fernando Henrique Cardoso, que em 1999 fez um acordo emergencial de redução de IPI, mas com a exigência de as empresas manterem os empregos.

Na sede da Fiesp, a decisão da Força de suspender as negociações foi recebida com tranquilidade. Paulo Skaf se disse de acordo com a posição de Paulinho e que “não seriam dois ou três dias que fariam a diferença” para que empresários e sindicatos fechem um acordo. Mas ponderou que não teria como garantir que as empresas não vão anunciar novas demissões nos próximos dez dias: – Não posso controlar milhares de empresas. Estamos lutando para conquistar um entendimento.

O momento agora é de união – disse ele.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, as negociações entre sindicatos e empresários paulistas seriam “demagógicas”, pois deixam a entender que a crise é generalizada e afeta todos os setores da economia: – Setores como o de petróleo e confecção seguem sem impactos da crise. Assim, as negociações de um acordo para redução de direitos trabalhistas deveriam ser focadas em empresas e setores específicos.

O Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense, que representa 50 mil trabalhadores, considerou as conversas precipitadas, acrescentando que férias coletivas e programas de demissões voluntárias seriam suficientes. O sindicato dos comerciários do Rio, filiado à UGT, é contra qualquer negociação que reduza direitos trabalhistas.

Já o Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas de Energia do Rio, ligado à CUT, disse que em nenhuma hipótese aceitaria a redução da jornada de trabalho e salários.