Assis Moreira, de Genebra
Além de 20 milhões de novos desempregados, a crise financeira e econômica global deve provocar uma queda real de salários em 2009 para quem continuar no emprego, alertou a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
“Os tempos serão difíceis para o 1,5 bilhão de assalariados no mundo”, disse Juan Somavia, diretor da OIT, com sua enorme capacidade de dizer o óbvio, estimando que a “amputação” salarial afetará seriamente as classes médias e fará mais pobres em torno do mundo.
A entidade prevê “dolorosos cortes de salários” de 0,5% nas nações industrializados, no rastro da recessão. Globalmente, ainda haveria alta, de 1,1%, em razão do crescimento que persistirá em algumas economias emergentes.
A entidade projeta para o grupo de países em desenvolvimento aumento salarial de no máximo 3,5%, contra 4,5% este ano, e em todo caso abaixo do ganho de produtividade desses trabalhadores.
Em comunicado, Juan Samovia, diretor-geral da OIT, conclamou os governos a levarem em conta aumentos reais de salários nos planos de recuperação econômica, argumentando que do contrário a retomada será mais lenta.
Estudo da OIT sugere que o consumo foi sustentado por endividamento, e não em alta de salários. Enquanto a inflação era fraca e a economia mundial progredia num ritmo de 4% entre 2000/07, a expansão salarial foi inferior a 2% na metade dos países do mundo.
O resultado é que a desigualdade salarial continua aumentando. A diferença entre os pagamentos mais altos e os mais baixos chega a 70% em boa parte dos países. A disparidade subiu “bruscamente” na Argentina, China e Tailândia. Baixou no Brasil e a Indonésia, mas a desigualdade nos dois ainda está entre as maiores do planeta.
Os dados confirmam que a alta de salários reais continuou abaixo da expansão da produtividade. Assim, em 75% dos países houve queda dos salários no Produto Nacional Bruto (PNB), em comparação aos lucros e outros tipos de renda. Segundo a OIT, cada ponto suplementar de queda do PNB por habitante provoca baixa salarial de 1,55%.
Com a crise, os salários mínimos estão de novo na agenda social em vários países. Em comparação aos salários médios, os mínimos aumentaram 39% entre 2004-2007. Na Indonésia, o governo acaba de enfrentar turbulências sociais, depois de anunciar aumento do salário mínimo que fica abaixo da inflação.
Nos Estados Unidos, os empregados no comércio já tiveram seus pagamentos cortados em US$ 100 em média.
Com as perspectivas sombrias, as tensões sociais sobre salários podem se intensificar. A OIT sugere que uma saída pode ser negociação coletiva.
No Brasil, produtividade bate salário
De Genebra
Os salários cresceram no Brasil menos do que a alta da produtividade entre 2001 e 2007, reiterou ontem a Organização Internacional do Trabalho (OIT), indicando que maior fatia dos ganhos econômicos foi direcionado para os lucros. Não apenas isso é visto como injusto, como tem um impacto adverso no futuro crescimento econômico, diz a entidade.
Estatísticas da OIT mostram que o salário real no país caiu 1,84% na média entre 1995 e 2000, e subiu apenas 0,25% na média entre 2001 e 2007. Economistas da entidade estimam que a fatia do salário no Produto Nacional Bruto (PNB) tende a continuar declinando, no rastro da crise econômica. Apesar de ser um dos campeões mundiais de desigualdade de renda, o Brasil tem sido um dos poucos a reduzir a disparidade salarial.