“Definitivamente vivemos uma séria crise econômica e, sabemos, o pior ainda está por vir. Os diversos alertas do movimento sindical para a sociedade pouco ou nada adiantaram diante de uma política econômica adotada exclusivamente com suas bases no consumo e, claro, a população consumiu até o endividamento total.
A euforia do crescimento econômico vivida no país desde a estabilização da moeda nos anos 90, não veio acompanhada de uma série de medidas que os sucessivos governos deixaram de aproveitar até chegarmos na atual situação.
O excesso de crédito acompanhado de juros exorbitantes endividou a população. Os investimentos fundamentais para a economia na estrutura do país foram insuficientes ou incompletos (estradas, portos, aeroportos etc.).
A política de controle inflacionário apenas através da taxa de juros mostrou-se eficaz apenas com uma economia crescente. O processo acelerado de desindustrialização do país e uma balança comercial equilibrada apenas pelas chamadas commodities (Minérios, petróleo, agroindústria) rapidamente mostraram-se insuficientes para garantir o crescimento.
A desenfreada corrupção, a burocracia extrema, o excesso de impostos e várias outras mazelas históricas do Brasil não foram solucionadas e agora, a conta da ineficiência política sobra mais uma vez para os trabalhadores pagarem. É justo? Certamente, não!
No momento, ao tentar de qualquer forma segurar a crise econômica e equilibrar suas contas, o governo parece estar perdido em suas ações. Ao fazer valer o chamado “Ajuste Fiscal” (Do qual, nenhuma medida irá tirar o país deste cenário à curto prazo), mais uma vez o corte de custos sobra para os trabalhadores e o “sufocamento” das empresas que passaram a demitir dentro da simples lógica de adequar seus custos. E então estamos nós novamente diante do que pode existir de pior: o desemprego.
Não é mais possível aceitarmos tal quadro. Não é possível que o trabalhador da ativa e os aposentados sejam culpados pela baixa competitividade do país. Não podemos aceitar que cortando postos de trabalho ou direitos trabalhistas conquistados com muita luta pelos sindicatos e seus trabalhadores sejam a alternativa para o equilíbrio das contas do país.
O movimento sindical não está parado. Estamos presentes todas as semanas em Brasília pressionando o Congresso e o Senado na luta pela manutenção dos direitos dos trabalhadores. Estamos diariamente nas portas de fábrica mobilizando e informando a categoria sobre a atual situação e buscamos cotidianamente negociações nas empresas para garantir postos de trabalho. Garantir de qualquer forma a única renda que o trabalhador possui para manter sua sobrevivência e de sua família.
Longe de qualquer pessimismo, devemos ser realistas e sabermos que a inflação continuará crescendo nos próximos meses, que o crescimento econômico não virá tão cedo e que o desemprego, infelizmente, continuará crescente. Temos marcado nossa presença contra a recessão em que colocaram o país. No entanto, devemos estar preparados e mobilizados mais do que nunca para enfrentarmos tempos difíceis.
Os trabalhadores nunca deixaram de dar sua cota de contribuição para o país e não vamos aceitar calados que, agora, empresariado e governo joguem em nossas costas todos os problemas que eles mesmo criaram. Não há saída mágica para nada e a nossa única arma para defendermos nossos direitos e nosso trabalho é a nossa união e nossa mobilização cada vez mais forte para pressionarmos os responsáveis pela crise em que o país está mergulhando”.
Cláudio Magrão, presidente da Federação dos Metalúrgicos SP