Crise global só deve bater na chamada economia real no primeiro trimestre do ano que vem, segundo a CNI
Leonardo Goy, BRASÍLIA
Os efeitos da crise econômica internacional na chamada “economia real” só deverão ser sentidos com mais clareza a partir do primeiro trimestre do ano que vem. A avaliação é do economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.
A CNI divulgou ontem dados referentes ao desempenho da indústria em setembro. Ainda sem o impacto do agravamento das turbulências do mercado financeiro, as vendas reais do setor cresceram 2% em relação a agosto e 10,2% na comparação com setembro do ano passado. No acumulado dos nove meses do ano, o faturamento da indústria subiu 8%. De modo geral, no levantamento de setembro todos os indicadores da CNI apresentam crescimento.
Segundo o analista da CNI, Marcelo de Ávila, além do bom desempenho que a indústria vinha apresentando antes do agravamento da crise também contribuiu para o bom resultado de setembro o fato de o mês ter tido número maior de dias úteis do que agosto e setembro de 2007. É o chamado “efeito calendário”, explicou Ávila.
A fase mais aguda da atual crise começou no dia 15 de setembro, com o pedido de concordata do banco americano Lehman Brothers. “A crise se instalou em setembro nos mercados financeiros, mas não chegou no mesmo mês ao mercado real, em hipótese alguma”, disse Castelo Branco.
Além do aumento nas vendas, chamou a atenção o crescimento de 9,6% do total de horas trabalhadas na produção em setembro, na comparação com o mesmo mês de 2007.
Segundo a CNI, foi o maior avanço para esse indicador nas comparações anuais desde o início da série histórica, em 2003. Na comparação com agosto, a alta foi de 1,2%.
A indústria também continuou empregando. O indicador que mede as contratações avançou 0,7% em setembro em relação a agosto e 4,3% no confronto com setembro de 2007. Nos nove meses do ano, o emprego nas fábricas expandiu-se 4,4% em relação ao mesmo período do ano passado. O total de salários pagos cresceu 7,1% em setembro em relação a igual mês em 2007.
A CNI também constatou crescimento do nível de utilização da capacidade da indústria, para 83,3% em setembro, ante 83% em agosto. Castelo Branco, no entanto, ressaltou que, na prática, o indicador vem apresentando relativa estabilidade nos últimos meses. Na média móvel do trimestre encerrado em setembro, por exemplo, o nível de uso da capacidade ficou em 83,2%.
O economista da CNI não acredita que o alto nível de utilização possa representar pressão inflacionária. “O motor do crescimento são os investimentos e, para isso, o uso da capacidade tem de estar relativamente elevado. Temos de acabar com a síndrome do medo do aumento do nível de utilização da capacidade.” Ele também lembrou que, com a crise financeira, a expansão do uso da capacidade nem deve ser levada em conta como uma preocupação.