“A indicação do ministro da Economia, Joaquim Levy, pela presidenta Dilma, festejada pelo mercado, indica que o Ministério da Fazenda e o Banco Central vão reeditar com mãos de ferro o tripé macroeconômico: controle da inflação (sistema de metas e taxa de juros), taxa de câmbio flutuante e superávit primário (declínio da relação dívida bruta/PIB).
Tudo leva a crer que a criatividade desse governo é limitadíssima, pois prefere adotar um leque de medidas ortodoxas e contracionistas para o enfrentamento da crise, para o deleite sobretudo do mercado, ratificando a nossa servidão voluntária ao mercado financeiro em vez de priorizar o crescimento econômico.
Parece que esse governo que se inicia tem menos convicção sobre crescimento econômico sustentável, e repare que nem estamos falando em desenvolvimento econômico.
O Brasil parece reeditar medidas que não suplantam as nossas mazelas. Pelo contrário, reforçam. O discurso da geração de superávit primário a todo custo desnuda o anacrônico conflito distributivo brasileiro. Ora, a propalada redução do gasto público vai atingir a quem? Segundo os “analistas” de plantão, é preciso adotar medidas duras para garantir espaço fiscal a fim de atingir a meta de superávit primário, mas o Brasil não é o quarto maior superávit primário do G20, segundo o FMI? Além disto, nosso país é o primeiro no mundo quando se fala em taxa de juros. Por que é proibido falar em redução dos juros no País?
Os resultados da economia em 2014 são desanimadores: PIB de 0,2% e produção industrial, acumulada no ano, de -2,9%. É preciso ter coragem para mudar, suplantar esse mais do mesmo. A indicação do governo para o Ministério da Fazenda demonstra no mínimo uma miopia grave, pois atropela as ideias desenvolvimentistas e de redução da desigualdade. A discussão do gasto social, o salário mínimo, a sustentabilidade da Previdência estão ameaçadas, pois passam a ser coadjuvantes da política do governo.
O que o governo brasileiro insiste em fazer é negar os fatos mantendo a teoria, quando deveria fazer o contrário. A Força Sindical não vai permitir que políticas restritivas retirem direitos dos trabalhadores”.
Miguel Torres
Presidente da Força Sindical e da CNTM