Ninguém mais duvida que a atual crise capitalista, deflagrada nos EUA, já é a mais destrutiva da história deste sistema desde o crash da Bolsa de Nova York em 1929. Seus efeitos estilhaçam por todos os lados. Bancos e “agências de risco”, que antes ditavam regras neoliberais para o mundo, estão definhando; os adoradores do “deus-mercado” e mentores da desregulamentação financeira pedem, com urgência, a intervenção do “estado leviatã”; George Bush, o prepotente imperador, está morto antes mesmo do pleito presidencial. Este é o lado bom da crise. O lixo vai para o lixo!
O lado negativo são os seus efeitos no mundo real, na vida dos trabalhadores. Segundo estudo da Organização Internacional dos Trabalhadores (OIT), a crise deverá acrescentar mais 20 milhões de desempregados nas frias estatísticas mundiais.
O desemprego saltará dos atuais 190 milhões para 210 milhões até fins de 2009, “um recorde histórico”, segundo Juan Somavia, diretor-geral da OIT. O número de “trabalhadores pobres”, com renda inferior a dois dólares por dia, crescerá em 140 milhões de pessoas. Infelizmente, as projeções da OIT não têm nada de alarmista.
Marola ou tsunami?
De fato, as demissões já começaram. Nos EUA, 159 mil vagas foram eliminadas em setembro, o maior número desde 2003. Quando Bush Jr. tomou posse, em 2001, a taxa de desemprego era de 3,9%; agora, atinge 6,1%. Até o mês passado, foram extintos 760 mil postos de trabalho e várias pesquisas indicam que o ano terminará com mais de 1 milhão de demitidos, algo raro na história dos EUA.
Já na Europa, as notícias sobre demissões também são alarmantes. E na pobre América Latina? E no Brasil? Quais serão os impactos da crise capitalista na vida dos trabalhadores?
Durante o fugaz ciclo expansivo da economia capitalista, os países da região foram beneficiados pela forte liquidez do mercado mundial e pela alta dos preços das commodities, como petróleo e produtos agrícolas. Isto permitiu que boa parte dos países do continente tivesse um crescimento da economia acima de 5%, o que resultou na geração de empregos e na tímida melhoria da renda.
Agora, porém, com o brusco breque no crédito externo e a queda na demanda por commodities, é ilusório pensar que economia latino-americana ficará “descolada” da crise mundial. Lula, como qualquer outro presidente, pode até falar em “marola”, mas a tendência é mesmo de um tsunami.
Tendência de graves confrontos
O Fundo Monetário Internacional (FMI) inclusive reduziu as projeções de crescimento na região para menos de 3,2% em 2009. “Dado o que acontece no restante do mundo, nossa previsão é que o crescimento da economia na América Latina vai se reduzir de maneiro notável”, afirmou David Robinson, diretor do FMI. Alguns sintomas preocupantes já começam a aparecer.
Duas unidades da GM no Brasil já concederam férias coletivas aos metalúrgicos, o que sempre é prenúncio de demissões; na Argentina, a crise global aterroriza os agricultores, já que é o país é dependente ao extremo do mercado externo; na Venezuela, Chávez garante que a redução do preço do barril de petróleo não afetará as missiones, os vários programas sociais do Governo.
Diante das ameaças, os trabalhadores e a sociedade devem se preparar para duros confrontos. O capital tentará despejar todo o ônus da crise nas costas dos assalariados. Na fase da bonança, ele embolsou os lucros; agora, tentará socializar os prejuízos; antes, pregou o desmonte neoliberal do Estado; agora, sugará os recursos públicos para se salvar da crise.
Sem pressão organizada, a crise do capitalismo não conduz automaticamente para a superação deste sistema aviltante. Pelo contrário, ela somente agrava a barbárie capitalista. Mesmo as modestas conquistas obtidas pelos povos latino-americanos, a partir da vitória de vários governos progressistas, correrão sério risco.
(*) Jornalista, editor da revista Debate Sindical e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição)