Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Artigo

Sindicalismo e Jango

“O movimento sindical está devendo uma homenagem, à altura e merecida, ao presidente João Goulart, cuja memória começa agora a ser efetivamente resgatada.

Valeria relacionar seus gestos no Ministério do Trabalho, incluindo a duplicação do salário mínimo, no governo de Getúlio. Valeria relacionar suas realizações trabalhistas e sociais enquanto presidente da República – incluindo a lei do 13º salário. Para conhecimento das gerações atuais, valeria, também, pontuar os itens das reformas de base, anunciadas no discurso de 13 de março de 1964, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Reformas que foram pretexto da direita civil, militar e eclesiástica para desfechar o golpe (planejado pelos Estados Unidos) em 1º de abril daquele ano.

Em abril último, ao completar 50 anos, o Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região, reconhecido no governo do presidente trabalhista, prestou homenagem a Jango, representado por seu filho João Vicente Goulart. Ainda em Guarulhos, programas de TVs locais gravaram longas matérias com João Vicente. Também o Câmera Aberta Sindical, que apresento na TV Comunitária de SP, exibiu entrevista com o filho de Jango.

Mas é muito pouco. Ainda estão aí Almino Afonso, Rafael Martinelli, Clodesmith Riani e outros lutadores da legalidade, da democracia e da justiça social, que podem ser entrevistados. Ouvi, há tempos, um então jovem comunista metalúrgico, que, em 1963, tomou o trem em Guarulhos e desembarcou na Central, para o histórico comício das reformas de base. Essas pessoas estão aí e têm o que contar.

Há pouco mais de um mês, entrevistei Riani, num evento no Sindicato dos Engenheiros, em São Paulo, e ele destacou as qualidades de Goulart. “Era um nacionalista e um político honesto”, afirmou o velho sindicalista mineiro, último presidente do bravo CGT.

Certa vez, ao conversar com Luiz Tenório de Lima sobre a relação do movimento sindical com Juscelino e Jango, ele contou: – “Com Juscelino, a gente ligava, marcava e ele nos recebia. Com o Jango, nem precisava marcar. Chegávamos e éramos atendidos”.

Sob Jango, o ministério do Trabalho era um efetivo aliado dos trabalhadores, inclusive doando viaturas, as famosas Rural Willys – cansei de agitar greve no setor têxtil de Americana a bordo de uma Rural mantida a puro suco pelo presidente Leão.

A história precisa ser contada e recontada e a memória, além de preservada, deve ser reconstruída. Em Getúlio, a direita bateu o carimbo de ditador (ele que nos legou o voto da mulher, a CLT, a Justiça do Trabalho, o salário mínimo, a Petrobras etc.). Jango foi carimbado de vacilante. Vejam só: Jango que venceu o plebiscito de janeiro de 1963 por 9.457.448 votos contra 2.073.582. E que, se sabe agora, contava com 66% de aprovação popular à época do golpe – apesar da dura oposição da imprensa de então.

Instituto – João Vicente tem feito enorme esforço para construir em Brasília o Memorial da Liberdade presidente João Goulart, em projeto de Oscar Niemeyer. O terreno, em Brasília, já foi cedido pelo GDF. João Vicente quer o movimento sindical integrado a esse projeto e pensa em fazer arrecadações modestas junto aos próprios trabalhadores, abrindo uma conta bancária.

Há muita coisa a ser feita por Jango e em prol da memória e da verdade. Escrever este artigo modesto é uma delas”.

Por João Franzin
jornalista e coordenador a Agência Sindical