Valor Econômico
As centrais sindicais não parecem dispostas a embarcar na mobilização da Central Única dos Trabalhadores (CUT) para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a não julgar “de forma política” os réus do mensalão – suposto esquema de compra de apoio político no governo Lula.
Enquanto a União Geral dos Trabalhadores (UGT), central com grande número de filiados ao PSD, ficou em cima do muro, dirigentes da Força Sindical e Nova Central refutaram qualquer manifestação, que só tem apoio explícito da Central de Trabalhadores do Brasil (CTB).
“Confiamos que o Supremo fará uma avaliação jurídica das denúncias. Se isso não ocorrer, se percebermos que o julgamento está sendo parcial, vamos nos mobilizar para contestar essa posição”, afirmou Wagner Gomes, presidente da CTB, central ligada ao PCdoB e formada por dissidentes da CUT em 2007.
Para o sindicalista, “não só as centrais, mas toda a sociedade irá protestar” se o julgamento cair no campo político do debate eleitoral”. Ele acredita, porém, que os réus do mensalão já foram punidos. “Se o STF inocentar os acusados, vai pesar muito pouco, porque eles já foram condenados pela grande mídia antes do julgamento”, avaliou.
Gomes esteve com dois dos principais réus dos mensalão, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT) e o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, na abertura do 11º Congresso da CUT anteontem em São Paulo. Os petistas foram assediados com pedidos de fotos e muito aplaudidos pela plateia de sindicalistas da central, que é umbilicalmente ligada ao partido. Nem Dirceu nem Delúbio quiseram falar com a imprensa.
Na segunda-feira, o futuro presidente da CUT, Vagner Freitas, que toma posse amanhã, declarou ao jornal “Folha de S. Paulo” que os trabalhadores tiveram avanços importantes no governo Lula e que, se o julgamento do mensalão for político, a central irá às ruas em protesto. À noite, ele se disse mal interpretado, embora não tenha negado que a entidade pode fazer manifestações contra o que chamou de “julgamento político”.
Para o secretário-geral da Força, João Carlos Gonçalves, o Juruna, a declaração foi “infeliz”. “O julgamento não se dá assim, sob pressão. Estamos num período democrático, não na ditadura em que os tribunais serviam aos militares”, afirmou. Filiado ao PDT, Juruna garante que a central não sairá às ruas para qualquer protesto referente ao mensalão. “Temos que guardar munição para as campanhas salariais.”
Embora não critique a postura da CUT, o presidente da Nova Central, José Calixto Ramos, diz que acredita no julgamento técnico do STF, diante da importância do tema, e que “os de fora” não têm devem dar opinião. “A questão está entregue a quem tem competência para julgar. A Nova Central não irá se envolver nisso de jeito nenhum”, afirmou.
O secretário-geral da UGT, Canindé Pegado, diz a central ainda não avaliou o tema e discutirá isso se perceber que a decisão do STF não será técnica. “A gente não quer julgamento político, de quem quer que seja, porque isso é uma afronta à democracia”, afirmou.
Em visita à sede da UGT no fim de 2011, quando deu uma palestra sobre economia, Dirceu comentou que esperava que os sindicalistas fossem às ruas para defendê-lo, segundo integrantes da central contaram ao Valor. Pegado negou ontem que o assunto tenha sido debatido.