Mais próximas do PSDB e do PSD, de um lado, e unidas pela queda dos juros do outro. É assim que as centrais sindicais chegam ao 1º de Maio deste ano. No momento em que partidos sem tradição sindical buscam uma aproximação com as centrais, o governo Dilma Rousseff conseguiu alinhá-las na cobrança por mais financiamento ao crescimento do país e pela redução do spread bancário.
O PSDB decidiu investir em uma das bases sociais do PT. Às vésperas do dia do trabalhador, na sexta-feira, o partido apresentou seu núcleo sindical, composto por cerca de 2 mil dirigentes de sindicatos filiados à legenda e por representantes na Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). No Congresso Nacional de Lideranças Sindicais do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), pré-candidato tucano à Presidência em 2014, tentou marcar diferença em relação aos petistas. “Não queremos sindicatos a serviço de um partido político ou projeto de poder, como ocorre na relação da CUT com o PT”, disse.
O PSD, fundado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, formou seu braço sindical dentro da UGT e vai disputar sua primeira eleição com 300 candidaturas de sindicalistas. O partido pretende usar o 1º de Maio para apresentar seus principais candidatos. O responsável pelo núcleo sindical da sigla, Ricardo Patah, também presidente da UGT, estimou que 85% desses candidatos disputarão uma vaga para vereador; 5% para prefeito; e 10% para vice-prefeito.
Em paralelo à investida do PSDB e PSD na base social tradicionalmente vinculada ao PT, PCdoB e PDT, as centrais indicam que estão em sintonia com o governo federal mostram proximidade ao Executivo no governo Dilma Rousseff.
As centrais Força Sindical, UGT, CTB, Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e Nova Central Sindical Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) reivindicarão nas festas do 1º de Maio “desenvolvimento com menos juros, mais salários e empregos”. A pauta segue a linha de medidas anunciadas recentemente pela presidente, no sentido de incentivar a queda dos juros e de cobrar dos bancos mais oferta de crédito para ajudar no crescimento do país.
A CUT, apesar de organizar comemorações à parte das outras cinco centrais sindicais, reforça a mesma bandeira.
Para o presidente da UGT, as medidas do governo direcionadas para reduzir a taxa de juros e o spread bancário foram uma resposta a reivindicações das centrais. “É uma cobrança feita há muito tempo”, disse Ricardo Patah. “A presidente tem demonstrado sensibilidade. Mas por mais amistosa que seja a relação do governo com as centrais, isso não quer dizer que não haja tensão entre nós. É natural e normal”, afirmou Patah.
Na análise do secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, “a mobilização dos trabalhadores valeu a pena”. “O governo tem buscado diminuir os juros. Isso é positivo, mas deveria ser intensificado. Hoje é a conta-gotas.” Para ele, o governo deveria se empenhar para aprovar no Congresso a redução da carga semanal de trabalho para 40 horas.
O presidente da CUT, Artur Henrique da Silva, elogiou o governo por atender as reivindicações das centrais, como a redução da taxa de juros, e por acenar positivamente ao fim do fator previdenciário, mas afirmou que é preciso “mais mudanças na política econômica do governo”.
O dirigente fez ressalvas à aproximação do PSDB a sindicalistas. “É estranho ter um dirigente sindical do PSDB, porque o partido tem a mesma pauta do setor empresarial. É contraditório com o interesse dos trabalhadores”, disse. Ele citou pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada em março, que indica que os parlamentares do PSDB e DEM foram os que mais apresentaram no Congresso projetos convergentes à pauta empresarial. Em sentido oposto, PT e o PMDB são os que mais contrariam os interesses da CNI.
Apesar da sintonia e proximidade das centrais com o governo federal, a presidente Dilma Rousseff não participará das festividades do 1º de Maio.
As festas das centrais seguirão a divisão das entidades em relação ao imposto sindical. Assim como em 2011, de um lado estará a CUT, que pregará o fim da cobrança compulsória do trabalhador. Do outro, estarão Força Sindical, CTB, UGT, CGTB e NCST, a favor. O imposto corresponde a um dia de serviço e sua arrecadação é dividida entre as centrais, de acordo com o número de sindicatos e filiados. Neste ano, deve chegar a R$ 124,5 milhões.
A CUT apresentará como lema a “liberdade e autonomia sindical” e pregará o fim do imposto em nove Estados onde fará eventos. O principal será no Vale do Anhangabaú, na capital paulista. As outras cinco centrais realizarão um ato na Praça Campo de Bagatelle, em São Paulo, e sortearão 15 carros e um caminhão de prêmios. A festa das cinco centrais deve custar R$ 3 milhões; a da CUT, R$ 2 milhões. (Colaborou Raphael Di Cunto)