SÃO PAULO – Os efeitos da crise internacional, que atacou até o momento mais as economias desenvolvidas, estão configurando um cenário agressivo de desaceleração econômica. Mesmo assim, o ritmo de Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil continua se mantendo em patamares elevados, demonstrando que os países emergentes podem continuar sendo atrativos ao capital externo. Uma prova disso é o aumento do investimento francês no Brasil, que em dois anos subiu quatro posições entre as nações que mais investem recursos no setor produtivo do País. Ou seja, uma relação que anteriormente se limitava ao comércio, principalmente de alimentos, vem se tornando cada vez mais fortalecida pelo investimento direto. O país, que no ano de 2006 era a oitava nação em aplicação direta na economia nacional, hoje representa o quarto país em volume de recursos. Os dados até agosto, divulgados pelo Banco Central (BC), apontam que a França está atrás dos Estados Unidos (US$ 4,5 bilhões), Luxemburgo (US$ 4,1 bilhões) e Espanha (US$ 2,5 bilhões). O salto deixou para trás países como Canadá, Suíça, México, Alemanha e Ilhas Cayman.
Em 2006, o montante aplicado pelos franceses no Brasil era de US$ 744,5 milhões, e no ano seguinte, o valor subiu para US$ 1,2 bilhão. Já no período de janeiro a agosto de 2008, o volume já chegou a US$ 1,4 bilhão. Segundo a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), em 2007, os investimentos chegaram US$ 34,6 bilhões, levando o Brasil de 8º para 4º maior receptor entre os emergentes que mais captaram recursos.
Analisando o perfil dos investimentos franceses nesse ano é possível observar que eles se concentram em várias vertentes. Mas, em compensação, o setor de fabricação de veículos representou boa parte dos recursos aplicados, chegando a US$ 473,7 milhões. O volume pode ser ilustrado pela grande incidência de montadoras francesas no País, como a Peugeot e a Renault.
Em segundo lugar ficou o setor de arrendamento mercantil, também conhecido como leasing, somando US$ 239,5 milhões. O setor de serviços veio logo em seguida, com US$ 177 milhões, acompanhado pelo segmento de produção de aços laminados, com US$ 132,4 milhões. Já os bancos tiveram investimento direto de US$ 126,5 milhões.
De acordo com o presidente da Câmara de Comércio França-Brasil, Michel Durand Mura, a relação entre as empresas francesas e brasileiras é tradicionalmente duradoura. “Os grupos da França estão estabilizados. São geralmente grandes corporações que aplicam na produção”, diz.
Para o representante, o povo brasileiro já sente a participação dos franceses na economia de forma maciça, levando em conta a gama de produtos fabricados aqui com investimento do país. “A maioria da empresas estão instaladas há muito tempo, em diversos setores do país”, informa.
Pelo ponto de vista do economista e professor da Fundação Santo André, Ricardo Balistiero, os fundamentos do Brasil estão diversificando os países interessados em investir. “O ambiente macroeconômico do País melhorou. Se tornou um mais confiável, com as contas públicas em ordem, grau de investimento e balança comercial superavitária, além das reservas internacionais robustas”, disse.
Na opinião de Balistiero, o avanço da França é natural e bem-vindo, já que representa uma diversificação de investidores que antes tinham predominância americana. “O que acontece com a França já aconteceu com o Japão no passado, que investiu fortemente no Brasil. Setores como a produção de alimentos e biocombustíveis são atraentes”, aponta o economista.
Investimentos diversos
As empresas francesas atuam em diferentes segmentos do País. Somente do varejo, os europeus detêm a marca Carrefour e uma participação no Pão de Açúcar, por meio da rede Casino. Em maio, o grupo francês Elialis comprou as operações de nutrição animal da Cargill e ambiciona elevar seu faturamento em 10%. A Accor também quer expandir a sua rede no Brasil. A empresa assinou uma parceria com Walter Torre, um dos maiores investidores imobiliários locais. O acordo abrange a construção e gestão de 20 hotéis (13 Ibis e 7 Formule1) no ano de 2010.
A Legrand comprou em abril a empresa brasileira HDL, que oferece soluções em equipamentos elétricos e encerramentos interfone. Esta iniciativa faz parte da estratégia da Legrand de aquisições. O fato permite acelerar o desenvolvimento de negócios francês em mercados emergentes, que responderam por 25% das vendas líquidas em 2007.
No mesmo mês, o Brasil ingressou no grupo de nações que abrigam um centro de criatividade grupo automóvel Renault. A Renault Design América Latina representa o desejo do fabricante de investir no desenvolvimento perto dos mercados de destino dos produtos.
A França saltou, em dois anos, do oitavo para o quarto lugar no ranking dos países que mais investem no Brasil. O Banco Central revela que os franceses, até agosto, investiram US$ 1,4 bilhão no País este ano, atrás apenas de Estados Unidos (US$ 4,5 bilhões), Luxemburgo (US$ 4,1 bilhões) e Espanha (US$ 2,5 bilhões). Os franceses deixaram para trás Canadá, Suíça, México, Alemanha e Ilhas Cayman. Em 2006, o total aplicado pelas empresas francesas era de US$ 744,5 milhões.
A expansão acontece em várias frentes. O plano de defesa do Brasil prevê acordo de troca de tecnologia de R$ 1 bilhão com a França, para construção de cascos e de sistemas eletrônicos para submarinos, além de um submarino nuclear. Na sexta-feira, ao instalar a coordenadoria que vai tocar o projeto, o Comandante da Marinha, almirante-de-esquadra Júlio Soares de Moura Neto, disse que “uma vez aprovado o programa pelo presidente da República, haverá um financiamento externo, que vai cobrir todas as despesas. Será de longo prazo, 20 anos, prazo de carência, juros europeus”.
A presença francesa, que já lidera o varejo nacional, com Carrefour e Pão de Açúcar/Casino, também cresce na energia elétrica, com a liderança da Suez na usina de Jirau (rio Madeira).