Valor Econômico
Os metalúrgicos do ABC paulista aprovaram por unanimidade, na manhã de ontem, um acordo salarial que tem validade por dois anos. Essa é a segunda vez, nos 52 anos de história do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que se conquista uma negociação com prazo superior a um ano. O acerto que valerá até 2012 garante 5% de aumento real, além de abono de R$ 2,5 mil.
“Foi uma conquista difícil e importante para a categoria. Com esse acordo, conseguimos garantir previsibilidade e nos calçar contra possíveis impactos da crise internacional em 2012”, afirma em nota o presidente da entidade, Sérgio Nobre. Conforme o sindicato, o agravamento da crise econômica nas economias maduras e o avanço dos importados no mercado brasileiro justificam esse acerto de médio prazo entre metalúrgicos e montadoras.
O acordo aprovado na assembleia que reuniu cerca de 10 mil trabalhadores, em São Bernardo do Campo, prevê que, no próximo mês, os empregados das cinco montadoras da base – Volkswagen, Ford, Mercedes-Benz, Scania e Toyota – recebam 10% de reajuste, relativo à inflação acumulada no período, mais 2,55% de ganho real. O acerto garantiu ainda licença-maternidade de 180 dias.
Aos participantes da assembleia, Nobre destacou que esse acordo de dois anos garante o planejamento da vida financeira dos trabalhadores, bem como dos investimentos das montadoras, diante de um cenário de incerteza sobre os impactos da crise econômica entre 2011 e 2012.
O presidente do sindicato afirmou ainda na assembleia que o acerto, que torna desnecessária a campanha salarial de 2012, libera tempo para que o movimento sindical direcione sua atenção ao que é hoje considerado o maior problema da categoria, “o risco da desindustrialização provocado pelo crescimento das importações de veículos”. “Temos de valorizar a produção nacional para garantir empregos de qualidade no Brasil.”
Conforme ele, ao defender o acordo de dois anos nas negociações, a Federação dos Sindicatos Metalúrgicos da CUT (FEM-CUT) levou em conta ainda perspectivas para o segmento de caminhões. No próximo ano, a produção desses veículos no país poderá registrar queda, uma vez que, a partir de janeiro, torna-se obrigatória a adoção do motor Euro 5 (norma de controle de emissões), com reflexo de 15% nos preços dos caminhões. Diante disso, a indústria já verificou antecipação nas compras, o que deverá resultar em encolhimento das vendas no início de 2012. “O acordo de dois anos também protege a categoria, se isso ocorrer”, explica o presidente do sindicato na nota.
De acordo com o sindicato, o acerto beneficiará 35,9 mil trabalhadores. A intenção é chegar aos mesmos termos nas negociações encampadas por outras categorias da região, como a de autopeças, o que envolve mais de 100 mil trabalhadores no total. “Nos demais grupos, prosseguem as negociações e a luta para garantir a mesma conquista”, informa a entidade.
O sindicato informa ainda que, pelo acordo fechado ontem, os trabalhadores das montadoras terão reajuste salarial de 10% em 2011. O percentual corresponde a 7,26% de recomposição da inflação (medida pelo INPC), além dos 2,55% de aumento real. “Para o ano que vem, o reajuste será composto pela inflação do período mais a diferença dos 5%, que é 2,39%”, acrescenta. O abono de R$ 2,5 mil será reajustado pelo INPC mais o aumento real.