Com câmbio valorizado, encomendas do exterior crescem 38%, batem recorde e podem chegar a 1 milhão de veículos este ano
Marcelo Rehder e Cleide Silva
A importação de carros este ano vai ser a maior da história da indústria automobilística brasileira. A participação nas vendas, que era de 5% em 2005, deve chegar aos 23%, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Esse índice, porém, é considerado conservador por analistas, para quem modelos feitos em outros países devem responder por quase um terço do mercado, o equivalente a 1 milhão de veículos – mais que a produção da Volkswagen, maior fabricante do setor, que foi de 826 mil unidades em 2010.
No fim de 1995, ao assistir aos importados ficarem com 21,8% das vendas, o então presidente Fernando Henrique Cardoso elevou a alíquota de importação de 32% para 70%. No ano seguinte, a participação caiu para 12,9%.
Agora, com o câmbio sobrevalorizado, metalúrgicos fazem passeatas por temerem perda de vagas e montadoras reivindicam do governo Dilma Rousseff medidas para melhorar sua competitividade e enfrentar os preços mais atrativos dos importados.
Em 2010, o País importou 660 mil veículos (18,8% das vendas). Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, a produção local desses carros teria gerado 103 mil empregos na cadeia automotiva.
Há duas semanas, a Anfavea entregou ao governo estudo mostrando que produzir carros no Brasil é mais caro que em países emergentes como China, Índia e México. O setor pede uma política industrial com incentivos à inovação, pesquisa e desenvolvimento.
O presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, teme que o mercado seja abastecido prioritariamente por importados. Ocorre que as próprias montadoras são as maiores importadoras. No primeiro semestre, foram importados 390 mil veículos, 38% a mais que em 2010. Desse total, só 90,3 mil foram trazidos por importadores sem fábricas locais, como a coreana Kia, as chinesas JAC e Chery e as alemãs Audi e BMW.
O investimento de US$ 11,2 bilhões para o período 2010-2012 anunciado pela indústria automobilística não convence os metalúrgicos. “As empresas que estão vindo para cá não são produtoras de automóveis, mas sim meras montadoras que vão trazer o produto pronto dentro de caixas e aqui só vamos apertar parafusos”, diz Nobre.
“Nossa reivindicação é que haja um fórum tripartite (governo, montadoras e trabalhadores) para discutir a indústria nacional e montar um plano de substituição das importações”, diz o sindicalista, que na sexta-feira liderou uma passeata de metalúrgicos do ABC e da capital paulista, que parou a Via Anchieta.
A manifestação e a ida de executivos das montadoras a Brasília ocorrem num momento em que os estoques estão altos. No fim de junho, havia 342 mil carros nos pátios, suficientes para 33 dias de vendas. A Fiat já anunciou férias coletivas nas fábricas de Betim (MG) e da Argentina.