Autopeças: Câmbio, excedente na Europa e Estados Unidos e negociação acirrada com clientes apertam margens
Stella Fontes | De São Paulo
Enquanto a produção total de veículos no país cresceu mais de 13% desde 2008, o volume de autopeças produzido pela indústria nacional manteve-se praticamente estável. Esse descolamento reflete sobretudo a crescente participação dos componentes importados nos carros fabricados no Brasil, tendência que deve se manter ao longo deste ano e já pressiona margens e faturamento do setor.
Além do real valorizado, que favorece as importações, o excedente de produção nos Estados Unidos e Europa que é desviado para o país; a entrada de novos fornecedores, com destaque para os asiáticos; e negociações cada vez mais acirradas com as montadoras contribuem para o momento delicado vivido pelas autopeças brasileiras.
O peso maior dos importados também é evidente na balança comercial da indústria. No ano passado, o déficit chegou ao recorde de US$ 3,5 bilhões, com alta de 42,6% frente ao ano anterior. Nos dois primeiros meses de 2011, o saldo negativo já somou os US$ 715 milhões.
Para 2011, conforme o Sindipeças, a expectativa é a de que as receitas de suas 500 associadas se aproximem de R$ 90 bilhões, ou US$ 53,4 bilhões, ante R$ 86,4 bilhões (US$ 49,8 bilhões) no ano passado. Em termos reais, o crescimento entre 2009 e 2010 foi de 14,2%, estimulado pelo aumento de 14,3% na produção da indústria automobilística.
Segundo a Anfavea, entidade que reúne as montadoras instaladas no país, em 2010 foram produzidos 3,6 milhões de veículos, ante 3,2 milhões em 2009. Na mesma base de comparação, a produção de componentes automotivos subiu 25%. Contudo, um ano antes, na esteira da crise econômica mundial, que afetou especialmente a indústria de automóveis, a produção nacional de peças havia recuado 20,8%, ante queda de apenas 1% nas linhas das montadoras.
Uma parte do crescimento das importações é patrocinada pelas próprias montadoras, que compram no exterior especialmente peças utilizadas em novos modelos. Como houve retomada dos lançamentos no último ano, a expectativa é a de que as compras externas em 2011 alcancem um novo recorde – o câmbio também será decisivo para que se confirme a previsão. Hoje, essas companhias são responsáveis por 70% das vendas das autopeças nacionais, ante participação de 66% em 2007.
Para garantir a competitividade da indústria, o Sindipeças encaminhou no fim do ano passado uma pauta de reivindicações – cinco ou seis propostas, de acordo com o presidente da entidade, Paulo Butori – ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e, por enquanto, as conversas têm envolvido apenas técnicos do ministério. Custos trabalhistas, financiamento de longo prazo, regras de conteúdo local e normatização estão entre os temas em negociação com o governo.
Assim como a produção, a frota circulante brasileira também vem crescendo em ritmo forte nos últimos anos. Em 2010, segundo levantamento do Sindipeças, circularam no país 32,5 milhões de veículos, uma alta de 8,4% ante 2009.