Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Metalúrgicos buscam coalizão mundial


Neal E. Boudette
| The Wall Street Journal, de Detroit

23/03/2011

O presidente do sindicato americano de metalúrgicos United Auto Workers disse ontem que sua organização está criando uma coalizão mundial para garantir aos trabalhadores uma “fatia justa” dos lucros do setor.

O UAW, que se prepara para iniciar este ano novas negociações com as três grandes montadoras de Detroit, começou a cooperar com sindicatos no Brasil, na Alemanha, na Coreia do Sul e em outros países para pressionar as empresas de maneira coordenada por maiores salários e benefícios, disse seu presidente, Bob King.

No Brasil, as conversas têm envolvido a Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CMN/CUT). “Creio que este ano vai surgir alguma novidade por aí”, disse o secretário-geral da entidade, João Cayres.

“Estamos construindo uma solidariedade mundial muito maior”, disse King. “Criar uma classe média mundial beneficia todos os trabalhadores.”

Antes um dos sindicatos mais poderosos dos Estados Unidos, o UAW tem assistido à diminuição do número de filiados nos últimos anos – de cerca de 1,5 milhão nos anos 70 para 375.000 hoje – por causa de enxugamentos nas três maiores montadoras americanas, a General Motors Co., a Ford Motors Co. e a Chrysler Group LLC. O sindicato sofreu um novo revés quando foi forçado a cortar salários e benefícios nas concordatas da GM e da Chrysler, em 2009.

King foi eleito para a presidência ano passado e desde então vem direcionando o sindicato para uma coordenação mundial, na esperança de recuperar seu poder de barganha. Num discurso na convenção da entidade, ele disse que o UAW já formou uma coalizão de sindicatos de operários da Ford no mundo inteiro.

O sindicato também está em contato com os sindicatos da Itália, na esperança de atrair um grupo de representantes do sócio italiano da Chrysler, a Fiat SpA.

“Se uma empresa é sediada nos EUA, teremos uma rede em todos os países em que ela tem operações”, disse. O UAW espera conseguir coordenar protestos e outras atividades com sindicatos no exterior como um meio de pressionar mais os clientes, acionistas e operações dessas empresas.

É uma mudança visceral de rumo para uma sindicato que há mais de 75 anos representou principalmente operários de apenas três empresas – todas montadoras sediadas em Detroit.

As negociações de contrato deste ano nos EUA devem aumentar a tensão entre o UAW e as montadoras americanas, e também entre as facções intrassindicais. Agora que a GM e a Ford voltaram a divulgar lucros bilionários, alguns integrantes do UAW estão pressionando as lideranças sindicais a reverter concessões salariais e de benefícios obtidas pelas montadoras pouco antes das concordatas da GM e da Chrysler.

King disse aos membros do sindicato reunidos em Detroit que a obrigação do sindicato é “conseguir nossa fatia justa do sucesso da empresa”. Ele também notou que o diretor-presidente da Ford, Alan Mulally, recebeu um bônus em ações avaliado em mais de US$ 50 milhões, num momento em que os novos contratados das montadoras estão recebendo metade dos colegas veteranos.

(Colaborou Patrick Brock)