Os aeroportos franceses deverão cancelar parte de seus voos hoje por causa da greve contra a proposta do governo de aumentar a idade para aposentadoria. Será um dos reflexos mais visíveis até agora dos protestos que vêm sendo organizados desde o início do ano por centrais sindicais que rejeitam as mudanças. O projeto deve ir a votação final amanhã no Parlamento francês.
Sindicalistas intensificam desde a semana passada os protestos contra o projeto, que eleva de 60 para 62 a idade mínima para a aposentadoria e de 65 para 67 para obtenção de aposentadoria integral. A paralisação envolve caminhoneiros, que estão fazendo operação tartaruga e bloqueios em estradas, além de ferroviários, petroleiros, aeroviários e aeroportuários. Por causa da paralisação nas 12 refinarias da França, 15% dos 12 mil postos do país ficaram sem gasolina.
“A situação é crítica”, disse uma porta-voz da Exxon Mobil. “Qualquer um que procure diesel nas regiões de Paris e Nantes enfrentará problemas.” Na avaliação da entidade francesa que reúne empresas de combustível, a UIP, o país poderá se ver em sérios problemas de escassez esta semana – o que teria de forçar o governo a usar suas reservas estratégicas.
No fim da semana passada, a polícia foi acionada para tentar pôr fim a bloqueios algumas refinarias e depósitos de combustível. Ontem, houve choques em algumas cidades entre policiais e manifestantes, muitos deles estudantes.
A mobilização dos funcionários dos aeroportos levou a autoridade de aviação civil, DGAC, a recomendar que as empresas aéreas reduzam em 50% seus voos hoje no aeroporto de Orly, em Paris, e 30% dos demais aeroportos do país, incluindo o maior de todos, o Charles de Gaulle, também na capital. O órgão disse que quem tem viagem marcada para a França hoje deve verificar se o voo está confirmado.
A CGT, uma das centrais promotoras dos protestos e a que têm o maior número de funcionários da Air France, convocou os trabalhadores a protestarem nos aeroportos do país. A entidade disse que a ação não envolve necessariamente a paralisação dos serviços nos aeroportos, mas que essa é uma das opções. A companhia afirmou que todos os seus voos de longa distância estão confirmados.
Além dos aeroportos, os sindicatos prometem parar hoje transportes públicos, escolas, agências de correios e órgãos governamentais. Será a quarta greve desde setembro e a nona desde o começo do ano. Portos e refinarias estão parados desde a última manifestação, há uma semana.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, voltou ontem a defender as mudanças no sistema de aposentadoria. “A reforma é essencial e a França está comprometida com isso”, disse ele, durante um encontro em Berlim. “É perfeitamente normal que isso tenha provocado preocupação e críticas”, disse ele.
O governo diz as mudanças o país conseguirá equilibrar seu sistema previdenciário em 2018. Hoje, o déficit chega a 7,7% do produto interno bruto.
A França segue os passos de outras grandes economias. A Alemanha elevou a idade mínima de 65 para 67 anos; os EUA estão aumentando de 66 para 67 anos; e a Itália exige 65 anos.
Os principais pontos da reforma francesa já foram aprovados pala Câmara dos Deputados e pelo Senado. Os senadores estão para votar amanhã a íntegra do projeto – algo que os deputados já fizeram.
Analistas acreditam que o texto será aprovado no Senado. Se realmente passar, segue para a confirmação de uma comissão conjunta das duas Casas, o que é dado como uma mera formalidade. O governo espera que o assunto esteja liquidado no fim do mês.
Duas das oito centrais sindicais envolvidas na disputa com o governo dizem que, caso o texto seja mesmo aprovado esta semana, não fará muito sentido manter as protestos e as paralisações.
Jerome Sainte-Marie, da empresa de pesquisas CSA, diz que o alcance dos protestos é o preço que Sarkozy está pagando por tentar mudar as regras da aposentadoria. Mas avalia que o custo político da decisão poderá ter vida curta e não ser decisiva nas próximas eleições, quando Sarkozy deve tentar a reeleição.
Os protestos da França não parecem ter alimentado reações semelhantes em outros países. Mas no Reino Unido, sindicatos devem intensificar protestos nos próximos meses contra os cortes orçamentários programados pelo novo governo. Pesquisa da DLA Piper com 500 empresas apontou que três quartos delas defendem regras mais duras contra greves.