Folha SP
Na Espanha, paralisação geral afetou os transportes; na Bélgica, 56 mil pessoas se reuniram em frente à sede da UE
Sindicatos preveem mais demissões com a redução de gastos exigida para domar os deficit públicos
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
A Europa teve ontem um dia de greves, protestos e marchas contra os cortes de gastos anunciados ou já implementados por quase todos os países do continente.
Os governos dizem que precisam apertar o cinto para reduzir os deficit públicos, que aumentaram muito com ações para salvar bancos e empresas após a crise econômica de 2008.
Os maiores protestos foram na Espanha, onde os sindicatos convocaram uma greve geral, e na Bélgica, com cerca de 56 mil pessoas, segundo a polícia, marchando em frente aos escritórios da União Europeia.
Lá dentro, os comissários da UE discutiam medidas para punir os países que não conseguirem resolver seus problemas de deficit. O que, segundo os sindicatos, irá representar ainda mais austeridade e demissões.
A greve geral na Espanha, a primeira em oito anos, atingiu principalmente os transportes. Já na madrugada, piquetes impediam ônibus de circular, o metrô funcionou com menos trens e voos foram cancelados.
Segundo sindicatos, entre 50% e 70% dos 20 milhões de trabalhadores do país pararam. O governo diz que 10% dos servidores públicos e 20% do setor de transportes aderiram à greve.
A Espanha já anunciou que vai cortar 8% dos seus gastos públicos, o que significa demissão de funcionários num país que já tem 20% de desemprego.
Mas o governo conseguiu reduzir o alcance da paralisação ao anunciar o aumento de impostos para a parcela mais rica da população.
Isso esvaziou parte do discurso dos sindicatos, que diziam que os trabalhadores não deviam ser os únicos a pagar a conta da crise.
BÉLGICA
Na Bélgica, pessoas de vários países se uniram na marcha. Carregavam cartazes de não à austeridade e repetiam o discurso espanhol de que são os bancos, não os trabalhadores, que devem ser punidos pela crise.
Diziam que os governos têm que continuar a colocar dinheiro na economia para incentivar o crescimento, em vez de cortar gastos e aumentar o risco de recessão.
Os escritórios da União Europeia foram cercados pela polícia, e 218 pessoas foram detidas.
Não foi o dia dos sonhos dos sindicalistas, que esperavam 100 mil pessoas em Bruxelas e marchas pelas principais capitais. Mas foi uma prévia do que podem ser os próximos meses, quando os cortes serão sentidos de fato (desemprego, fim de benefícios, aumento da idade para aposentadoria etc.).
“Este é o começo da luta, não o fim. Nosso objetivo hoje era que nossa voz fosse ouvida: não à austeridade e pelos empregos e crescimento”, disse John Monks, secretário-geral da Confederação Europeia de Sindicatos.
Novos protestos e greves estão marcados para outubro e novembro.
EFEITOS NO BRASIL
A greve na Espanha provocou cancelamentos de voos da Iberia e da TAM que partiriam do aeroporto de Guarulhos (Grande São Paulo) rumo a Madri -o aeroporto da capital espanhola foi afetado pela paralisação.
A maioria dos passageiros foi reacomodada até a tarde de ontem em voos próprios ou de outras companhias. Somente uma reclamação foi registrada no juizado especial instalado em Cumbica.
Colaborou GUTO LOBATO