Editorial:
O ano começou bem para o mercado de trabalho. As vagas estão em expansão e os acordos salariais recém-fechados prometem ganhos reais para os trabalhadores. Animadas com a expectativa de recuperação da economia, as empresas estão receptivas à negociação. Mas o humor pode mudar com a pressão pela redução da jornada de trabalho.
Foi o melhor janeiro desde 1992, com a criação de 181,4 mil vagas, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego. A principal fonte de novos empregos foi a indústria, que abriu 72,6 mil vagas; seguida pelo setor de serviços, com 57,8 mil postos; e pela área da construção civil, com 54,3 mil.
O Bradesco projeta que a geração líquida de empregos formais chegará a 1,8 milhão neste ano. Para o governo, o número poderá atingir 2 milhões de novas vagas.
Outro aspecto positivo do mercado brasileiro é que as relações formais entre empresas e trabalhadores ganharam espaço sobre o trabalho sem carteira e por conta própria. Segundo estimativas do IBGE, em 2009, 49,4% dos trabalhadores urbanos eram formais em comparação com 43,3% em 2003.
A taxa de desemprego média esperada para este ano é de 7,5%, bem menor do que os 8,1% de 2009 e os 7,9% de 2008. Os números são melhores do que em outras partes do planeta. Na zona do euro, o desemprego bateu em 9,4% em 2009, penalizando 15 milhões de pessoas, especialmente na Espanha (com índice de 18,1%) e na Irlanda (11,8%). Nos Estados Unidos, o desemprego caiu ligeiramente abaixo dos 10% atingidos no pico da crise, mas isso ainda significa o expressivo número de 17 milhões de desempregados.
As projeções para este ano mostram uma inegável melhoria em comparação com 2009, quando 995,1 mil novos postos de trabalho com carteira assinada foram criados. O emprego cresceu, mas não necessariamente o salário. Os 995 mil novos empregos surgidos são resultado do fechamento de 586 mil postos de trabalho com salários superiores a dois salários mínimos e da criação de 1,578 milhão de vagas para postos com remuneração abaixo de dois mínimos.
Um dos motivos é que o emprego cresceu mais em regiões onde os salários são mais baixos. Ao crescer em regiões onde é menos abundante, o emprego não encontra pressão por salários maiores. Uma exceção é o boom localizado no setor de construção civil, onde as empresas já enfrentam dificuldades de contratação, independentemente da localização. A contribuição para a geração de novos empregos formais do Estado de São Paulo, onde a remuneração é mais elevada, por exemplo, foi de 28% em comparação com uma média de 37% entre 2003 e 2008.
O panorama começou a mudar em janeiro. Os Estados que mais contratavam antes da crise, São Paulo e Minas, exatamente onde os salários são mais elevados, voltaram a se destacar . Segundo o Caged, 51,1 mil das novas vagas abertas em janeiro surgiram em São Paulo e 20,5 mil em Minas Gerais. As capitais desses Estados estão entre as três cidades onde o emprego mais cresceu – 30,7 mil novas vagas na cidade de São Paulo e 8,7 mil em Belo Horizonte. No Estado de São Paulo, a variação do emprego da indústria em janeiro foi de 1,14% sobre dezembro, um saldo de 29,9 mil vagas. O setor que mais contratou foi o mecânico, com 5,5 mil vagas, e 2,27% de crescimento sobre dezembro, revelando a retomada dos investimentos pela indústria.
Além disso, a melhoria da economia tem facilitado a realização dos acordos salariais. Levantamento feito pelo Valor apurou que os reajustes acima da inflação obtidos por categorias com data-base em janeiro e fevereiro variou de 0,4% a quase 4%, este último obtido pelos empregados da construção civil de Salvador (Valor, 2/3).
Ainda é cedo, mas a sinalização dada neste início de ano indica que 2010 pode ser bem diferente de 2009 no mercado de trabalho. No entanto, o emprego, assim como os salários, dependem do que vai acontecer com o ambiente econômico propiciado pelos juros, inflação e o instável cenário internacional. A discussão sobre a redução da jornada de trabalho também deve afetar esses números.