SÃO PAULO – Comerciantes e trabalhadores do Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, protestaram ontem, contra um projeto de lei do prefeito Gilberto Kassab (DEM) que regulamenta a concessão urbanística. Os manifestantes julgam a proposta uma tentativa de “leiloar” a cidade. Eles caminharam em passeata até a Câmara Municipal, onde participam de uma audiência pública para a discussão do PL 87/2009, enviado pela prefeitura no dia 19.
Segundo a Polícia Militar (PM), o ato reuniu cem pessoas. Para os organizadores do evento, o número chegou a 400. Com o projeto, Kassab pretende passar à iniciativa privada, por meio de uma concessão, a tarefa de executar obras de reurbanização, a começar pelo Santa Ifigênia, onde fica a Cracolândia. A administração quer transformar a região degradada, abrigo de vendedores e usuários de crack, na “Nova Luz”.
Com a reforma do viário e dos imóveis, o município pretende atrair para o bairro empresas, principalmente do setor de serviço. O Projeto Nova Luz, que abrange uma área de 225 hectares (2,25 milhões de metros quadrados), começou a ser executado em 2005 e prevê a desapropriação de 750 imóveis e incentivos fiscais a companhias que ali quiserem se instalar.
O diretor da Associação dos Comerciantes do Bairro da Santa Ifigênia (ACSI) Paulo Garcia concorda que a zona precisa de melhorias, como mais segurança, mas discorda dos métodos do prefeito de São Paulo.
“Se fossem projetos pontuais para que, aos poucos, prédios de empresas se instalassem aqui, o comércio ia se adaptando, mas, assim, será o fim das lojas.” Garcia calcula que a proposta pode enxugar até 50 mil postos de trabalho na região.
“As lojas serão demolidas para dar lugar a prédios de escritório”, disse. “As vagas desaparecerão, pois a vocação do Santa Ifigênia é comércio, não serviços.” Com uma caixa do jogo Banco Imobiliário debaixo do braço, ele afirmou temer a forma como as empresas concessionárias farão as desapropriações.
“Todos acabarão obrigados a vender seus pontos a preço de banana para as incorporadoras. A prefeitura vai, praticamente, transmitir às empresas algo que não é dela, a propriedade dos terrenos.”
Os manifestantes fizeram o percurso entre o centro de comércio e a Câmara a pé, guiados por um caminhão de som e levando bandeiras do Sindicato dos Comerciários e da União Geral dos Trabalhadores (UGT).
Os manifestantes ocuparam a Avenida Ipiranga no sentido bairro, provocando lentidão no trânsito, mas logo foram orientados a se concentrar numa só faixa da via.
O protesto correu de forma pacífica e foi monitorado por homens da PM em carros, motos, bicicletas e cavalos.