Folha SP
DE SÃO PAULO
DE CURITIBA
Com o mercado de trabalho aquecido, a mineradora Vale decidiu pagar quase dois salários extras para cada trabalhador da área de mineração que se comprometer a ficar na empresa pelos próximos dois anos.
A iniciativa inédita busca evitar que seus funcionários troquem a companhia por empresas concorrentes.
A medida atinge 55 mil trabalhadores da Vale em todo o país, disse à Folha Jorge Campos, secretário-geral de mineração da Confederação do Ramo Químico, da CUT.
No total, eles vão receber o equivalente a 1,7 salário. Um salário e meio será pago agora, e o 0,2 restante, em julho de 2013. Segundo Campos, o acordo estabelece que quem deixar a Vale antes de outubro de 2013 terá que devolver o valor integral recebido.
“Tem uma mineradora grande se instalando aqui na região [a Anglo American, que começa a operar em 2013], e a Vale está com medo de perder mão de obra”, avalia Carlos Borges, do sindicado de Itabira, onde a Vale tem 3.200 trabalhadores.
Os trabalhadores também vão receber reajuste de 8,6% dos salários em novembro. A Vale confirmou a aprovação do acordo, mas não quis comentar.
No Paraná, a Renault também adotou uma estratégia preventiva para estimular os trabalhadores. A companhia concedeu reajustes reais aos 5.700 metalúrgicos até 2013, com objetivo de evitar greves.
Nos últimos cinco anos, a empresa enfrentou protestos em todas as negociações salariais, o que a obrigou a parar sua única fábrica no país.
O metalúrgico Ronieverson dos Santos, 27, tem apenas oito meses de trabalho na Renault e já recebeu R$ 11 mil de abono e PLR (Participação nos Lucros e Resultados). “Não deixa de ser uma loteriazinha”, diz.
Até 2013, ele deve ganhar, no total, R$ 61,5 mil de bônus. Com o dinheiro, planeja construir a casa própria e gastar em “mais algum luxo”. “Faz bem para a autoestima”, afirmou. (MARIANA SCHREIBER E ESTELITA HASS CARAZZAI)