Mineradora garante, porém, que cortes na subsidiária Vale Inco não vão atingir as operações brasileiras
Daniele Carvalho, RIO
A mineradora Vale anunciou ontem a demissão de 900 funcionários de sua subsidiária Vale Inco – braço dos negócios de níquel da companhia, sediada no Canadá. De acordo com comunicado divulgado pela empresa, os cortes vão se concentrar em larga medida em funções de suporte de negócios, administrativo e corporativo. Apesar de a subsidiária administrar dois projetos no Brasil – Vermelho e Onça Puma, ambos no Pará -, os cortes não atingirão funcionários em território nacional, garante a mineradora.
“Infelizmente, as decisões difíceis anunciadas são necessárias nesse período excepcional”, justificou o presidente e executivo-chefe da Vale Inco, Tito Martins, em nota distribuída ontem. A demissão de pessoal na Vale Inco se estenderá por todas as unidades de negócios da companhia, que além do Canadá se espalham pela Europa, Ásia e Oceania. O principal negócio da companhia está na área de níquel, mas a empresa também opera minas de cobre.
A Vale argumentou que as demissões são um reflexo da desaceleração da economia mundial, que vem impondo cortes na produção de diversas commodities. “A diminuição do preço do níquel e a demanda reduzida pelo metal deixaram claro que continuar operando da maneira atual é simplesmente insustentável. As medidas que estamos anunciando hoje têm como objetivo melhorar a saúde imediata das operações e ajudar a remodelar a organização para o longo prazo e para o futuro sustentável e bem-sucedido”, acrescentou o executivo no comunicado.
COMPRA
A Vale adquiriu a canadense Inco em outubro de 2006 por cerca de US$ 18 bilhões, o maior negócio já feito por uma empresa brasileira no exterior. A aquisição permitiu que o grupo saltasse da quarta para a segunda posição no ranking mundial das mineradoras, atrás apenas da australiana BHP Billiton.
Na ocasião, o governo canadense fez algumas exigências para autorizar a transação. Entre elas, a manutenção do nível de empregos – à época, de 12,15 mil postos de trabalho – por três anos. O prazo expira, portanto, em outubro deste ano. Mas, de acordo com informações fornecidas ontem pela empresa, mesmo com as 900 demissões, o nível de empregos da Vale Inco ainda será superior em 700 empregados.
A Vale informou, ainda, que deu início ontem a reuniões com representantes dos trabalhadores para discutir qual será o procedimento a ser adotado nos cortes. Em dezembro do ano passado, a empresa já havia anunciado uma série de medidas globais para diminuir a produção, cortar custos e reduzir a força de trabalho. Na ocasião, a mineradora promoveu um programa de aposentadoria incentivada para os trabalhadores canadenses.
No Brasil, a Vale foi uma das primeiras empresas a anunciar demissões em massa. Em novembro, a companhia cortou 1,3 mil postos de trabalho, sendo apenas 300 no exterior. A maior parte das demissões ocorreu nas unidades de Minas Gerais, motivando diversas manifestações de sindicatos de classe contra a iniciativa.
Em nota, a companhia reforçou que não há, por enquanto, risco de novas demissões no País. “No Brasil, não há planos de novos desligamentos. A Vale tem em vigor acordo com 15 sindicatos que representam os 38 mil empregados próprios da empresa. Através deste acordo, a empresa se compromete a manter o nível de emprego até 31 de maio de 2009.”
Empresa inicia projeto em Omã
Paulo Justus
A Vale lançou na segunda-feira a pedra fundamental de um complexo industrial na cidade de Sohar, em Omã, país da Península Arábica. O projeto contempla a construção de uma unidade de pelotização com a capacidade inicial de 9 milhões de toneladas por ano. O complexo inclui ainda um centro de distribuição capaz de movimentar 40 milhões de toneladas por ano.
A empresa estima um investimento total de US$ 1,356 bilhão no projeto, que vai contar com a primeira planta de pelotização de controle exclusivo da Vale fora do Brasil. A mineradora planeja iniciar as atividades no país no segundo semestre de 2010.
O presidente da Vale, Roger Agnelli, disse, durante a cerimônia de lançamento das obras, que as economias do Brasil e de Omã se comportam bem, apesar da crise econômica. “Esta é uma oportunidade para intensificar as relações entre Omã e o Brasil”, afirmou, segundo informações da imprensa local. Agnelli também ressaltou o papel da Vale como a primeira empresa brasileira a se instalar em Omã.
De acordo com a Vale, o porto industrial de Sohar tem uma localização estratégica e serve aos planos de expansão da empresa no Oriente Médio. Localizado depois do Estreito de Hormus, entre a Península Arábica e o Irã, o porto tem vantagens logísticas para atender os mercados de aço da região, do Norte da África e da Índia.
Mineradora vende participação na Usiminas
Mônica Ciarelli, RIO
Sem alarde, a tão comentada venda da fatia acionária da Vale na Usiminas para a siderúrgica japonesa Nippon Steel foi formalizada por cerca de R$ 600 milhões no dia 19 de fevereiro, na véspera do carnaval, durante a divulgação do balanço financeiro de 2008. A cifra corresponde a menos da metade do que a Vale esperava arrecadar quando anunciou a operação, em março de 2008.
Na época, a fatia da Vale correspondia a R$ 1,3 bilhão, mas após as turbulências que abalaram o sistema financeiro, as ações da siderúrgica brasileira despencaram na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), refletindo a perspectiva de uma menor demanda por aço no mundo este ano. Com a decisão de exercer seu direito de preferência no negócios, a Nippon, que já fazia parte do bloco de controle da Usiminas, elevou sua participação acionária de 23,3% para 29,2%.
Quando divulgou o interesse de sair da Usiminas, o presidente da Vale, Roger Agnelli, alegou “divergências estratégias” e citou como exemplo a compra de mineradoras pela Usiminas, como a J. Mendes. “Achamos um erro estratégico você desviar o foco do negócio, sendo que nunca faltou minério para a Usiminas”, disse Agnelli. Para ele, a Usiminas deveria ser o “cavalo branco” do crescimento da siderurgia brasileira, mas optou por investir na verticalização do setor, com a aquisição de mineradoras.
Essa é a segunda vez em pouco mais de dois anos que a Nippon Steel faz movimentos para fortalecer sua posição e deter maior fatia de participação acionária dentro da Usiminas. A companhia japonesa informou que a compra visa atender melhor a demanda dos clientes na América do Sul.