O movimento sindical da Baixada Santista está unido em defesa de milhares de emprego na planta industrial da Usiminas, no polo petroquímico de Cubatão (SP).
Essa foi a tônica de reunião emergencial realizada nesta terça-feira (3/11), na sede do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, Montagem e Manutenção Industrial (Sintracomos), em Santos, para discutir o anúncio da siderúrgica, no dia 29 de outubro último, de fechamento da área de metalurgia primária da usina paulista, o que pode significar a demissão de mais de quatro mil trabalhadores – entre diretos e terceirizados.
Outra decisão do encontro foi a paralisação das atividades, na empresa, a partir do dia 11 próximo. A Delegacia Sindical do SEESP na Baixada Santista participou do encontro, além de sindicatos das mais diversas atividades econômicas, como bancários, petroleiros, aposentados, petroquímicos, portuários, administradores de empresas, comércios, trabalhadores de refeições coletivas etc..
Ameaça de demissão de mais de quatro mil trabalhadores da Usiminas uniu o movimento sindical da Baixada Santista, que já indica greve para o dia 11 de novembro. Foto: Rosângela Ribeiro Gil/SEESP
Nos vários pronunciamentos durante a reunião, sindicalistas e vereadores da região disseram não ter dúvida de que a empresa se vale do momento difícil do País para colocar em prática uma estratégia empresarial de ficar apenas com o setor de laminação e o porto. “A Usiminas quer o porto, atividade mais lucrativa”, alertou o representante da Força Sindical local, Hebert Passos.
A posição foi reforçada pelo vereador santista Benedito Furtado (PSB), ex-portuário, para quem a empresa mostra, com essa atitude, todo o seu desprezo pela região, mas lembrou a capacidade da Baixada Santista de reagir, como em 1991, quando mais de cinco mil portuários foram demitidos pelo então governo Collor. “A região parou e reverteu o quadro. Vamos parar de novo”, conclamou o parlamentar.
Já o vereador de Cubatão Fábio Moura (PROS) advertiu que a região não pode arcar com o passivo de Ipatinga, referindo-se à matriz da siderúrgica em Minas Gerais. Segundo o parlamentar, em encontro com a direção da empresa, também na terça-feira, “eles não nos convenceram de que a atitude se deve a perda de mercado ou por causa da situação econômica do País”.
Para o presidente do Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista, Florêncio Resende de Sá, o anúncio do dia 29 está sendo articulado pela empresa há cinco anos. “Ela apenas encontrou o momento adequado para colocar em prática as suas intenções.” O dirigente cobrou, ainda, os recursos obtidos pela empresa junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES), que totalizam quase R$ 3 bilhões, que deveriam ter sido investidos na expansão e modernização das unidades da siderúrgica, em Ipatinga e Cubatão.
Em 2011, o banco liberou R$ 2,3 bilhões com o propósito de financiar o plano de investimento da empresa no período 2011 a 2016. Mas antes, em 2006, a siderúrgica obteve uma linha de crédito rotativo de R$ 900 milhões. “Queremos saber como a empresa investiu esse dinheiro, que é público.”
O presidente do Sintracomos, Macaé Marcos Braz de Oliveira, adverte que não se está falando apenas de demissões na área da Usiminas, o fechamento de parte da empresa acarretará um “efeito dominó” em toda a economia da região. “Podemos estar falando em dezenas de milhares de demissões. Todas as cidades da Baixada vão perder com a decisão da siderúrgica. Vamos virar um “museu” do aço e a região do desemprego.”
O secretário nacional da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, observou que as demissões na Usiminas se juntam ao quadro de enxugamento de mão de obra em outros setores da economia, como construção civil e pesada e montadoras. Por isso, informou que sindicatos de todo o País se articulam para uma grande reunião no dia 9 próximo, às 9h, na sede do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), na Capital paulista, onde deverão definir um plano de ação em defesa dos direitos e do emprego dos trabalhadores brasileiros.
Participaram da reunião, também, a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e Intersindical e também do ex-ministro do Trabalho Antonio Rogério Magri, de 1990 a 1992.
Condesb
Na parte da manhã de terça-feira, em reunião do Conselho de Desenvolvimento da Região Metropolitana (Condesb), que congrega nove cidades da Baixada Santista, o assunto também foi tratado, sendo aprovada uma moção à direção da Usiminas, onde os prefeitos pedem a suspensão de qualquer atitude por parte da empresa durante 120 dias, período para discutir a situação e buscar soluções que não signifiquem desativação de atividades e demissões.
A prefeita Márcia Rosa, de Cubatão, uma das cidades que será mais atingida pela decisão da Usiminas, mostrou grande preocupação com o destino do município, que vem apresentando ano após ano reduções de arrecadações fiscais, sua única fonte de renda. Ela ressaltou que o problema da siderúrgica afetará diretamente outras empresas, entre elas a Engebasa. “Isso significará o fechamento da cidade que não poderá arcar com as despesas públicas nas áreas de saúde, educação, limpeza e o próprio pagamento do funcionalismo público local.”
O vice-governador Márcio França informou que o governo estadual está empenhado em reverter a situação e ficou surpreso que a notícia do fechamento de parte da Usiminas não tenha vindo acompanhada de sinalização junto ao poder público da necessidade de alternativas.
Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa SEESP