As tentativas de se tirar o Brasil da encalacrada em que os promotores do impedimento de Dilma nos meteram parecem-se com as manobras que são feitas para se tirar um carro mal estacionado de uma vaga apertada. Avança um pouco, bate na frente; recua, dá uma arranhada atrás; vira à direita, quebra o espelho; e isso tudo sem mencionar a aflição e pressa dos flanelinhas.
Nesta cena enervante, repetitiva e desalentadora, fica cada vez mais claro que os detentores do poder (ideológico, político e econômico) querem mesmo é tirar direitos dos trabalhadores e dos sindicatos e amassar os salários.
Aprovada a lei da terceirização irrestrita e avançado o caminho para a aprovação da deforma trabalhista, todos que assistem à cena compreendem que aos flanelinhas e ao motorista pouco importam os arranhões e os amassos; querem a vaga livre e o carro andando, ainda que todo avariado.
Para o movimento sindical e para os trabalhadores, que têm tudo a perder nas manobras, persiste a tarefa de resistir com nenhum arranhão a mais, ou seja, nenhum direito a menos e nenhuma batida na Constituição. Não acreditam também em soluções mágicas como a de tirar o carro da vaga com uma grua ou com um helicóptero que o eleve.
Esta linha estratégica e unitária exige muito sangue frio e muito coesão na base, levando-se em conta em cada situação modificada que se apresenta, a capacidade de ação inteligente e precisa.
As deformas têm que ser enfrentadas e seus efeitos têm que ser detidos na espera de uma nova correlação de forças capaz de revertê-las.
Na deforma trabalhista em especial – que já anda sendo testada pelo patronato nas negociações – é estratégico resistir à sua aplicação, erguendo-se em cada empresa um muro de contenção, sem acalentar qualquer ilusão sobre os efeitos dela.
Por João Guilherme Vargas Netto
consultor sindical