Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Artigo

Um país para sediar a Copa

“Depois de 64 anos o Brasil voltará a sediar uma edição da Copa do Mundo de Futebol. Óbvio que nós, brasileiros, apaixonados por futebol, carregamos um sentimento de orgulho por sermos escolhidos para realizar o maior evento esportivo do mundo.

Brasileiro respira futebol. O esporte é quase que parte de nossa identidade. Quando nos apresentamos, além de nome, RG, CPF, profissão, citamos também nosso time de futebol.

No entanto, se por um lado sentimos orgulho pelo fato da Copa acontecer no Brasil, há também um imenso sentimento de indignação, considerando a situação do país.

Li, recentemente, uma frase que demonstra muito bem o que penso quanto ao Mundial de Futebol no Brasil: “- Já temos os estádios para a Copa, agora precisamos construir um país em torno deles”.

Essa frase sintetiza muito bem o que a maioria da população brasileira pensa e sente em relação ao evento.

Deixo claro que não sou contra a realização da Copa do Mundo, uma vez que representa um dos maiores espetáculos da terra, reunindo pessoas de todas as partes do globo e que direciona todos os olhos do mundo para a nossa gente.

Mas, quando consideramos as imensas desigualdades sociais em nosso país, com tanta carência, tanto por fazer, tanto por melhorar, para tornar a vida mais digna, a Copa do Mundo no Brasil perde todo o seu sentido.

Conforme as manifestações contrárias à Copa demonstradas nas ruas e dentro estádio, realizadas durante a Copa das Confederações, ficou bem claro que o nosso povo também quer hospitais, escolas, sistema de transporte, moradia, segurança, tudo em padrão FIFA.

Não faz sentido serem investidos bilhões de reais na construção e reforma dos estádios no Brasil enquanto os serviços básicos prestados pelo Estado estão em completa degradação ou praticamente não existem.

Todo esse montante de dinheiro poderia ter sido investido para melhorar de fato a realidade do nosso povo. Isso ninguém discorda.

Em matéria especial, o portal na internet UOL fez um Raio-X dos 12 estádios que receberão os jogos da Copa do Mundo no Brasil.

Confira, abaixo, os valores das obras, contabilizando assim o “Custo Brasil” para sediarmos os jogos.

1) Mineirão (Belo Horizonte-MG): o custo final ficou em R$ 695 milhões; 2) Mané Garrinha (Brasília-DF): R$ 1,566 bilhão; 3) Arena Pantanal (Cuiabá-MT): R$ 525 milhões; 4) Arena da Baixada (Curitiba-PR): R$ 265 milhões; 5) Castelão (Fortaleza-CE): R$ 519 milhões; 6) Arena Amazônia (Manaus-AM): R$ 604 milhões; 7) Arena das Dunas (Natal-RN): R$ 417 milhões; 8) Beira-Rio (Porto Alegre-RS): R$ 330 milhões; 9) Arena Pernambuco (Recife-PE): R$ 532 milhões; 10) Maracanã (Rio de Janeiro-RJ): R$ 1,2 bilhão; 11) Fonte Nova (Salvador-BA): R$ 689,4 milhões; e, 12) Itaquerão (São Paulo-SP): R$ 1 bilhão.

A soma do dinheiro gasto nos estádios é de R$ 8,344 bilhões de reais. Agora, já imaginou o quanto nosso país ganharia se isso fosse investido em Educação, Saúde, Moradia, Transporte, dentre tantas outras questões fundamentais?

E há que se considerar que estes representam somente os gastos diretamente com os estádios, pois existem outros que constituem toda a infraestrutura para recepcionar as delegações, sorteios e outras miscelâneas cerimoniais que demandam um evento deste porte.

Ocultando os nossos problemas, de fato a Copa será um momento de êxtase em nosso país, mas a verdade é que quando o árbitro soar o apito na final do mundial, no Maracanã, voltaremos sim para a nossa dura realidade.

Não contaremos com o padrão FIFA dos estádios na educação, na saúde, na moradia, no transporte, na qualidade de vida.

E, infelizmente, somente neste momento em que seremos os protagonistas desta Copa do Mundo. Mas não os protagonistas que se dão bem, mas sim de uma partida que se trava, dia a dia, na luta por uma vida digna, com tantas adversidades neste imenso gramado chamado Brasil.

José Luiz Ribeiro é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos e vereador em Piracicaba-SP