João Guilherme Vargas Netto – consultor de entidades sindicais de trabalhadores
Os trabalhadores, as trabalhadoras e suas famílias têm um encontro diário com a inflação crescente sob a forma de carestia. São vários os itens que sobem de preço, a maioria deles essenciais à vida.
Os dirigentes sindicais que, eles também, sofrem com a inflação, têm além destes encontros diários um encontro anual (na maioria dos casos) com a inflação ao discutirem os acordos ou convenções de suas categorias. A luta pelo aumento real dos salários e outros benefícios é a luta anual contra a inflação, sob a forma de recuperação das perdas e correção salarial.
Em todos os casos, dos trabalhadores e das trabalhadores e dos dirigentes, é preciso que se tenha uma visão correta do fenômeno inflacionário, suas causas e efeitos e principalmente o que deve ser feito pelos gestores econômicos para combater o mal.
Para isto o artigo do professor Antonio Corrêa de Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia, publicado no Estadinho do dia 16 e viralizado nas redes sociais, é de extrema valia. Clique aqui e acesse o artigo no site economia.estadao.com.br
Na contramão da interesseira cartilha farialimense e analisando o paradoxo dos juros no Brasil demonstra que a pressão inflacionária atual se caracteriza nitidamente por um choque de oferta e não por um excesso de demanda. Critica, portanto, o tratamento que tem lhe dado o Banco Central aumentando forte e continuadamente a taxa Selic. Para o professor, tal compreensão e tal tratamento levarão inelutavelmente à famigerada estagflação, isto é, inflação continuada e recessão.
As direções sindicais e, em particular, os dirigentes da Força Sindical que sistematicamente têm combatido a jurolândia dos aumentos da Selic e estão realizando o 9º Congresso da entidade, podem se apoiar no corajoso artigo do professor, vendo confirmadas as suas teses e anunciar para o movimento sindical e para a sociedade o que exigem que se faça para combater a inflação, promovendo empregos, a produção e impedindo a desindustrialização.
João Guilherme Vargas Netto – consultor de entidades sindicais de trabalhadores
O paradoxo dos juros no Brasil
Em 7,75% e com nova perspectiva de elevação da mesma dimensão em dezembro, a taxa Selic se aproxima rapidamente dos dois dígitos, antiga saga brasileira
Antonio Corrêa de Lacerda*, O Estado de S.Paulo
16 de novembro de 2021 | 04h00
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, na sua reunião passada, acelerar o ritmo de aumento da taxa Selic para 1,5 ponto. Agora em 7,75% e com nova perspectiva de elevação da mesma dimensão em dezembro, a taxa se aproxima rapidamente dos dois dígitos, antiga saga brasileira.
A questão da taxa de juros básica no Brasil representa um expressivo paradoxo, especialmente em face da situação em curso: diante da prevalência do regime de metas de inflação e da inoperância de outros instrumentos de combate à inflação, o aumento da Selic se torna uma aparente alternativa única, com custos econômicos e sociais dramáticos.
A pressão inflacionária recente tem “nome e endereço”. O aumento das cotações das matérias-primas, especialmente petróleo e grãos (commodities), no mercado internacional, associado à desvalorização do real, tem pressionado os preços domésticos dos combustíveis, do gás de cozinha e da alimentação, entre outros.
Fatores específicos do nosso mercado, que vão muito além da sempre apontada questão fiscal, também são relevantes: a política de paridade internacional dos preços praticada pela Petrobras, as estruturas de mercado em vários setores oligopolizados e a indexação são alguns deles.
A contradição presente é que a elevação de juros não vai resolver o problema atual da inflação brasileira, embora produza vários efeitos colaterais adversos. A questão-chave é que a atual pressão inflacionária se caracteriza nitidamente num choque de oferta, e não de excesso de demanda.
Juro alto é um mecanismo clássico de combate às elevações de preço decorrentes de pressão de demanda, o que não é o nosso caso. Nossa situação é exatamente inversa. Há claros sinais de estagflação: inflação em alta, retração industrial crônica, elevada ociosidade da capacidade produtiva, desemprego expressivo e queda na renda.
O aumento dos juros não é neutro, mas provoca efeitos deletérios, no encarecimento do crédito e do financiamento privados e na elevação do custo de rolagem da dívida pública. Isso aprofundará a queda de demanda, afetando negativamente os demais aspectos, com a agravante de que dificultará a situação fiscal do País, assim como das famílias e empresas endividadas. Também favorece as aplicações financeiras, em detrimento do investimento produtivo, o contrário do que precisamos.
Antonio Corrêa de Lacerda
Presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), professor-doutor do Programa de Pós-graduação em Economia Política da PUC-SP, é autor de ‘O Mito da Austeridade’ (Contracorrente).