Foto: Iugo Koyama
Mobilizados e amadurecidos politicamente, conscientes de seus deveres, mas também de seus direitos, os trabalhadores da Construção Civil de São Paulo prometeram e cumpriram.
No dia 27 de abril, de forma inteligente e estratégica, pararam 80% dos canteiros daquela que é a quarta maior metrópole do mundo. Especialmente os que têm prazo apertado de entrega, gerando fortes prejuízos para os patrões.
A indiferença patronal demonstrada nas negociações coletivas da categoria, com data base em 1° de maio, levaram, também, 20 mil manifestantes à Praça Gentil Galvão, localizada na altura do número 1.000 da Avenida Luís Carlos Berrini, importante artéria econômica do Brasil e da América Latina.
A concentração foi precedida de passeatas saídas de pontos próximos como o Shopping Cidade Jardim, cruzando – e lotando – a Ponte Estaiada; a Rua Miguel Sutil (confluência coma Praça Maria Helen Drexell) e a Rua Funchal, esquina com a Avenida Juscelino Kubitschek.
Para o líder da categoria, Antonio de Sousa Ramalho, a manifestação registrou, de forma clara, a disposição dos 300 mil profissionais sob a base de influência do Sindicato quanto às seguintes reivindicações:
. Aumento real de 5,5%, além da reposição inflacionária;
. Cesta Básica de 40 quilos (a atual tem 30 quilos);
. Vale Refeição no valor de R$ 20,00;
. PLR – Participação nos Lucros ou Resultados;
. Jornada semanal de 40 horas;
. Lavanderia no local de trabalho;
. Piso Salarial Qualificado A – R$ 4,90 por hora ou R$ 1.078,00 por mês;
. Piso Qualificado B – R$ 4,65 por hora ou R$ 1.023,00 por mês;
. Piso Qualificado C – R$ 4,40 por hora ou R$ 968,00 por mês;
. Piso Auxiliar – R$ 3,65 por hora ou R$ 803,00;
. Piso Montagem Industrial – R$ 1.105,00 por mês.
A operação
“O sucesso da paralisação do dia 27 de abril foi precedido de uma estafante e minuciosa operação desenvolvida pela nossa Assessoria de Base”, analisou Ramalho. “O comando geral dobrou noites no 5° andar da Rua Conde de Sarzedas, 286, onde funciona a sede da nossa categoria. Lá, houve todo um processo de depuração das obras que se encontram num estágio tal que, mesmo se paralisadas apenas por um dia, acarretariam em fortes prejuízos. Afinal, patrão só sente dor e pressão quando o assunto é o seu bolso. Se preocupa infinitamente mais com seus lucros e relega seus recursos humanos a um equivocado segundo plano”.
Em entrevistas, durante a greve de advertência, Ramalho falou sobre os argumentos dos empresários para não acatarem a pauta de reivindicações, especialmente a econômica:
“Eles alegam a crise internacional, o que considero uma desculpa covarde. Nos últimos quatro anos, essa gente ganhou dinheiro que nem água. A crise aportou no Brasil em novembro de 2008 e, rapidamente, o governo brasileiro tomou fortes medidas para rechaçá-la, com redução de impostos, construção de 1 milhão de casas populares e a não paralisação das obras do PAC. Não há, portanto, justificativa plausível”, ponderou.
Ramalho aproveitou a ocasião para dizer que a manifestação não alcançaria o mesmo êxito sem a preciosa ajuda de sindicatos coirmãos e das centrais sindicais.
“Desde a elaboração da greve até a sua concretização contamos, na organização, com 3 mil sindicalistas e 6 mil ativistas”, revelou.
Experiência
A experiência de Ramalho à frente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo assegura que a força do diálogo nunca prevalece nas negociações junto ao segmento patronal.
“Todo ano é a mesma coisa. Nós, trabalhadores, apresentamos uma pauta reivindicatória extremamente bem subsidiada, mas o patrão, em vez de considerá-la, impõe obstáculos, querendo testar a capacidade de articulação do Sindicato e da categoria. Já deveriam ter desistido de tal tática. Afinal, apesar de tanta intransigência, nos últimos quatro anos conseguimos sucessivos aumentos reais de salário, além de avanços sociais. Novamente pagaram para ver. E viram. Caso não haja uma contrapartida minimamente decente às nossas solicitações até dia 11 de maio, a greve de advertência se transformará em greve por tempo indeterminado”, ameaçou.
Vale ressaltar que o positivo resultado da manifestação dos trabalhadores da Construção Civil vinha sendo aguardado atentamente pelo movimento sindical, pois, em tempos de crise, as conquistas da categoria deverão servir de paradigma, norteando futuras negociações de outras categorias.
Lideranças
Expressivas lideranças do universo sindical brasileiro estiveram na histórica manifestação do dia 27 de abril, entre elas:
Paulo Pereira da Silva – deputado federal e presidente da Força Sindical
João Carlos Gonçalves Juruna – secretário Geral da Força Sindical
José Calixto Ramos, presidente da CNTI e da Nova Central
Eunice Cabral – presidente do Sindicato das Costureiras de São Paulo
Miguel Torres – presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo
Altamiro Perdoná (Pardal) – Construção Civil de Santa Catarina
Geraldo Ranthun – presidente do Depacom
Emílio Alves – presidente da Feticom-SP
Waldemar Pires de Oliveira – Conticom/CUT
Cláudio Prado – vereador por São Paulo
Major Olímpio – deputado estadual
Elza de Fátima Costa Pereira – tesoureira do Sindicato dos Metalúrgicos de SP
José Gonzaga da Cruz – vice-presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, representando a UGT
Alfredo de Oliveira Neto – secretário de Formação da CGTB
Fonte: www.sintraconsp.org.br