A presença da China é destaque para quem visita as obras do projeto da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSAThyssenKrupp), no distrito industrial de Santa Cruz, no Rio. Apesar do empreendimento ser global, com a participação de empreiteiras e fornecedores de equipamentos alemães, finlandeses e brasileiros, os chineses marcam presença física.
Dos pouco mais de 20 mil trabalhadores diretos que circulam pelo terreno de 9 milhões de m2, 600 são “made in China”. Eles são funcionários do Citic, um dos maiores grupos empresariais da China, a quem a ThyssenKrupp encomendou a coqueria. Uma das exigências do Citic foi trazer a própria mão-de-obra para montar a unidade de produção.
A coqueria é uma instalação fundamental no projeto siderúrgico. Em seus fornos de grande dimensão, o carvão metalúrgico é “cozido” a 1.200 graus para ser purificado e transformado em blocos de coque, que seguirão para os alto-fornos para derreter o minério de ferro que vai virar ferro gusa. O gusa segue para a aciaria, última etapa do processo, onde é transformado em aço líquido e depois em placa de aço.
A Citic está construindo três baterias de coque – A, B e C – para produzir 1,9 milhão de toneladas por ano do insumo. Cada uma delas tem oito blocos com 18 fornos e 144 câmaras que se situam – de quatro em quatro – debaixo do forno e emitem calor para cozinhar o carvão até virar coque.
A construção da coqueria é um trabalho de quebra-cabeças. “Por isso é que precisamos de mão-de-obra especializada”, diz Wolfgang Gunther, que fiscaliza a obra. Todo o material da coqueria – tijolo e argamassa refratários – é importado da China. A ThyssenKrupp já comprou 170 mil toneladas de tijolo refratário para montar fornos e câmaras. Os tijolos são numerados para facilitar a montagem da coqueria. Sem o revestimento negro, ela parece mais um forno gigante de pizzaria.
Os operários chineses trabalham oito horas por dia para juntar “tijolo com tijolo num desenho lógico”, como na música de Chico Buarque. O que requer paciência asiática.
O anúncio da vinda dos orientais gerou protestos de sindicatos e do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) do Rio de Janeiro junto ao Ministério do Trabalho. O Citic queria trazer mais de 1 mil trabalhadores , mas o ministério limitou o número a até 600.
O prazo de permanência dos chineses do Citic no Brasil depende do ritmo da obra. Grupos de operários permanecem entre três a seis meses no país e são renovados. O pessoal de mais alto escalão tem permanência garantida até o fim da construção. Todos estão alojados no canteiro de obra em Santa Cruz e uma empresa brasileira, orientada por nutricionistas asiáticos, fornece a alimentação. Como só falam chinês, esses trabalhadores têm dificuldade de se adaptar ao Brasil.
As placas da coqueria estão escritas em três línguas: português, inglês e chinês, pois há também brasileiros trabalhando na parte menos nobre da edificação da coqueria. Os operários são contratados de uma empresa chamada Planasa, subcontratada pela ThyssenKrupp.
Outras instalações do complexo siderúrgico também estão ganhando impulso. A logística está garantida com o porto, já pronto, que recebeu este ano quatro guindastes chineses. Até agora cinco navios já aportaram no local. Também foi feito um pequeno contorno no ramal da ferrovia da MRS, que passa ao lado do projeto, para entregar o minério de ferro no pátio de estocagem. A unidade da sinterização, de cor azul cobalto, onde o minério de ferro é aglomerado e carregado para os alto-fornos, mais os dois alto-fornos vermelhos – cada um com 100 metros de altura – já estão quase prontos. A usina térmica verde clara também marca presença na paisagem.
O que surpreende o visitante ao andar pelo local é o ineditismo da montagem industrial. As instalações e linhas auxiliares são pintadas de vermelho, azul, verde, amarelo e roxo. A iniciativa contraria a tradição de unidades de aço cinzentas, sombrias e sujas. A inovação é do arquiteto alemão Friedrich von Garnier, que ousou colorir de rosa os painéis de uma usina da ThyssenKrupp na Alemanha. Foi um sucesso.